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Midsommar: O Mal Não Espera A Noite – Resenha

O que é pertencer? Obra apresenta festival pagão e o medo intrínseco quanto ao diferente

Midsommar: O Mal Não Espera A Noite – Resenha de filme do mesmo diretor de Hereditário

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Ano: 2019
Título Original: Midsommar
Dirigido por: Ari Aster

Perturbador. Folclórico. Significativo. Midsommar: O Mal Não Espera A Noite é um horror folk, semelhante a obras como A Bruxa, O Ritual e Apóstolo. Trata-se de um subgênero do terror ligado à tradições cultuais de paganismo e ocultismo, geralmente ambientado em comunas e sociedades remotas.

No caso de Midsommar, a trama se passa, em maior parte, em uma comuna rural  conhecida como Hälsingland, na região central da Suécia. A província possui grande importância histórica e cultural no país nórdico, sendo que suas fazendas decoradas são consideradas patrimônio histórico da UNESCO.

A estória se inicia com a apresentação da protagonista, Dani (Florence Pugh), uma garota estadunidense que vive um relacionamento abusivo e que acaba de perder a família de modo trágico devido a crise bipolar de sua irmã. Desamparada, a jovem busca refúgio no namorado, Christian (Jack Reynor), que está inclinado a terminar o relacionamento mas, sem coragem, acaba fazendo a namorada se sentir culpada pela situação delicada.

Ele e seus amigos Mark (Will Poulter), Josh (William Jackson Harper) e Pelle (Vilhelm Blomgren), estudantes de antropologia, decidem viajar à Suécia para estudar um festival pagão de celebração do solstício realizado na comunidade onde Pelle nasceu. À contragosto, Christian convida Dani a se juntar a eles e, juntos, embarcam rumo a Hälsingland, onde viverão intensamente os hábitos e rituais realizados pelos Hagars – como são conhecidos os moradores locais.

Midsommar é o nome dado ao feriado que celebra o solstício na Suécia, cujo objetivo é o culto à fertilidade e prosperidade – uma herança pagã que boa parte dos países europeus carrega em suas raízes. É também a data de início do verão, e conta com festividades folclóricas por todo o país, seja nos grandes centros ou comunidades rurais.

O filme apresenta uma comunidade que festeja esse rito de um modo bastante particular, incluindo a maior parte das significações habituais da comemoração: as coroas de flores, danças e jogos coletivos, culto ao solo e ao sol e banquetes fartos e naturais. Há uma clara pesquisa do diretor neste tipo de celebração e, se apropriando de suas variações, Ari Aster adiciona elementos macabros presentes no inconsciente coletivo.

Midsommar, como outros de seu gênero, provoca o medo pelo culto inabitual, um efeito muito comum que os signos e ritos pagãos ou ocultistas causam na sociedade ocidental como um todo. Não são poucos os momentos em que nudez explicita, sangue e vísceras tomam conta da tela, e a principal ideia é que cada ato gere desconforto no espectador – não pela cena propriamente dita, mas sim pela reação dos habitantes locais, que agem com naturalidade diante de gestos que consideramos absurdos ou inaceitáveis socialmente.

A trama se constrói de forma gradativa e isso é fundamental. Primeiro, conhecemos o universo perturbado de Dani, sua relação horrível com o namorado e como isso afeta o grupo. Os desdobramentos de cada personagem a partir da chegada à Suécia se dão em construção ao processo de luto da protagonista, e cada um dos ritos/passagens que se dão no festival sugerem uma alegoria à mudança de caráter da garota.

A narrativa bem enredada e repleta de signos e significados ganha força, especialmente, graças a um trabalho muito competente de produção e direção. Ao contrário de muitos filmes de terror, Midsommar possui uma fotografia bela e colorida, destacando a natureza viva onde a trama se ambienta. A trilha sonora é recheada de cânticos folclóricos, que despertam admiração, curiosidade e medo, uma vez que, quase sempre, o ato seguinte a um cântico é o de horror. Deste modo, navega entre a beleza e o pavor constantemente, proporcionando uma atmosfera única.

Midsommar: O Mal Não Espera A Noite é uma experiência diferenciada, um tipo de obra que toca em um medo especial, aquele que está intimamente ligado ao nosso âmbito cultural, antropológico. Desperta curiosidade e náuseas, e que diz muito nas entrelinhas – especialmente no que diz respeito a pertencimento. É o tipo de filme que, após assistir, nos faz pesquisar todo tipo de referência para maior conhecimento do universo abordado.

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