Cult of the Lamb está nas graças da galera desde que foi anunciado. No título devemos gerir um culto satâni… quero dizer, de um cordeiro muito adorável enquanto lutamos contra bispos malignos. A união entre gerenciamento e o famigerado Roguelite não é tão harmoniosa, mas consegue ainda ser divertida. Ademais, a versão de Switch parece ter sido “meio” sacrificada no processo.
- Detalhes sobre Cult of the Lamb
- Data de lançamento: 11/08/2022
- Desenvolvedor: Massiva Monster
- Editora: Devolver Digital
- Gêneros: Ação, Aventura, Estratégia
- Sistemas: PlayStation 4/5, Steam, Nintendo Switch, Xbox One/Series X|S
- Onde comprar: PlayStation 4/5, Steam, Nintendo Switch, Xbox One/Series X|S
- Recomendações: Para quem gosta de jogos de gerenciar cultos, enquanto precisa lutar contra o “mal” e sacrificar algumas vidas pela sua fé.
Um quase sacrifício
Não dá para disfarçar que Cult of the Lamb tem seus sinais que flertam com aquela imagem que as pessoas infelizmente ainda têm com religiões pagãs. O game da Massive Monster consegue deixar o tema engraçado e leve da sua forma, porém, eu quero discutir sobre alguns cultos.
A família Manson dos anos 60 ou, até, no mais recente caso da “pastora” Flordelis são bons exemplos dessa fissura por uma crença. Entretanto, o que mais se assemelha a Cult of the Lamb é o culto de Jim Jones no final dos anos 50. Talvez eu tenha ido longe demais, mas deixo isso pontuado pois a fé exacerbada tem seus perigos e, de forma subliminar, Cult of the Lamb expõe essa narrativa.
Quando quase foi sacrificado por um culto comandado por quatro bispos malignos, o Cordeiro foi levado ao paraíso para falar com o deus carneiro. Extremamente acorrentado, a divindade expõe que sua espécie foi caçada e dizimada por esse culto não nomeado e você tem a missão de acabar com ele. Desta forma, você recebe um chapéu metamorfo da imortalidade e precisa aniquilar todos os bispos para que as correntes caiam e o deus fique livre.
Além de acabar com os bispos, precisamos criar um culto para louvar ao nome do deus carneiro e dar forças a ele. A fé é coletada com a cultuação de servos que são bichos fofinhos torturados pelas mãos dos bispos malignos. O desespero dos animaizinhos é comovente, mas eles são meras pilhas de carne e fé, que servem para que o Lorde Carneiro reine sobre nós e desça sua vingança sobre os bispos.
Com um grande culto, vem muito trabalho
Toda religião precisa de uma ou mais entidades. Essas entidades precisam de fé. Fé se consegue com súditos que acreditam nas entidades. Porém, como se conseguem súditos, servos ou fiéis? Bom, essas pobres criaturas podem ser encontradas em florestas como sacrifícios; vendidas como escravas; abduzidas como gado; e recebidas como presente de aniversário – essa eu não tenho certeza.
Os pobres animaizinhos que compõem o seu culto são como filhos. Quando chegam no seu culto, você pode mudar o nome, corpo, cor e forma. Cada um deles também possui pontos fortes e fracos, fazendo deles seres únicos. Levando tudo em consideração, eles são realmente seus filhos, portanto, você deverá cuidar deles para que algum dia eles se virem e morram sacrificados em nome do deus Carneiro.
O trabalho até esse momento final é tenso. Curar, limpar, alimentar e educar são algumas das tarefas simples que são terríveis. No entanto, conforme eles cultuam a estátua do Lorde Carneiro e deem mais fé, é possível liberar novas construções. Estas permitem a autonomia dos seus servos, bastando apenas uma ordem sua para que eles façam tudo que foi citado sozinhos.
Por outro lado, como são basicamente crianças, eles podem ficar doentes, brigar em si, se distrair, rebelar, pedir coisas e morrer. Ou seja, eles passam a ser “aborrecentes” – adolescentes na linguagem dos adultos. É possível fazer tudo com eles, contudo, apegar-se a alguém é pedir para ter dor de cabeça. Resumidamente, seus súditos devem ser tratados como objetos de uso e descarte. É um pouco pesado, mas é assim que funciona um culto em algumas religiões famosas, no seu trabalho ou até no governo atual.
Por fim, há três pontos que devem ser medidos com cuidado: fome, saúde e fé. Embora a fé seja o mais importante de todos, os outros dois podem diminuir radicalmente a fé do grupo, causando protestos caso sintam fome por muito tempo, ou vivam em um local insalubre. Ainda sim, a fé pode mover montanhas e continua sendo a principal ferramenta de Cult of the Lamb.
Aliciando a fé alheia
Cult of the Lamb é sobre administrar com cuidado um culto, isso já está bem claro. A fé é uma ferramenta poderosa aqui, e é muito mais valiosa do que o ouro. Para conseguir ela constantemente, você deve ser o pastor desse rebanho e aliciar a fé dos seus servos.
Há dois locais principais para isso: a estátua do deus Carneiro e uma igreja. A primeira é um monumento que permanece no meio do convento e através dela conseguimos liberar novas construções, como uma árvore de habilidades. A igreja, por outro lado, é onde damos sermões, criamos novas doutrinas e realizamos rituais de todos os tipos.
Analise bem a situação: a fé do seu culto está baixa, então, você resolve fazer um ritual de sacrifício e ela aumenta. Isso é bem natural, assim como se casar com algum membro para ganhar mais fé – a família Manson é um exemplo aqui. Dito isso, novas doutrinas são criadas quando uma tábua completa é conseguida. Para ganhar os pedaços, é necessário evoluir a devoção de um fiel. Dar sermões diários e agradar seus súditos são formas de conseguir a fé cada vez mais cega de seu culto.
Existem muitas outras formas de ganhar e perder a fé do seu culto. Elas vão desde derrotar os bispos ou morrer tentando. Logo, é muito recomendado ficar esperto nas suas atitudes para completar a dificílima missão para libertar o Lorde Carneiro.
Sobrevivendo no reino dos bispos
Aqui já inicia um desequilíbrio bem notório em Cult of the Lamb: o Roguelike é bem fraco. Assim como já é de costume no subgênero, você precisa atravessar salas aleatórias e derrotar inimigos até chegar no chefe. No meio dessa jornada tudo será encontrado. Servos, materiais, armas e cartas de Tarot serão sempre seus achados, mas morrer te fará perder quase tudo.
O Tarot é uma forma randomizada de dar habilidades passivas ao Carneiro. Elas nem sempre são úteis, mas conseguem ter seus ocasionais momentos de brilho. É possível encontrá-las em baús e comprar novas em áreas adjacentes ao culto.
Além do Tarot, há armas e maldições. A primeira nem precisa explicar, contudo, a segunda são magias poderosas lançadas consumindo o fervor do sangue de inimigos. Mais armas e maldições são desbloqueadas conforme fazemos melhorias na nossa coroa vermelha com a fé.
O Roguelike de Cult of the Lamb é bem limitado e não consegue fazer um bom equilíbrio com o gerenciamento do culto. Óbvio que um impacta o outro, mas havia muito mais que podia ser explorado na caça aos bispos, que nem são um desafio. Conseguir novas roupas ou poderes de coroa é interessante e muda as regras do jogo, mas não conseguem trazer a densidade que o título necessita.
Muito bug
Há tantos problemas recorrentes em Cult of the Lamb, que eles merecem um tópico exclusivo. Todo o resto funciona mais ou menos corretamente, mas sempre tem uma performance ruim ou um travamento chatinho. Por exemplo: quando a noite passa e começa o dia, há um travamento de um segundo. Isso em combate é péssimo, pois os inimigos e você continuam se movendo, apenas a tela trava.
Ao redor do seu culto existem áreas com outras religiões. Nelas você pode jogar um jogo de dados ou pescar. Viajar de uma para outra também traz seus problemas, como queda de fps, travamentos e ficar preso na área. Porém, esta última é mais recorrente na terra dos bispos. Ocasionalmente, você não consegue avançar para uma na área e precisar ficar tentando até funcionar, o que leva um tempo.
Outro problema que me deixou possesso – não por uma entidade – foi o bloqueio no culto. Normalmente você recebe missões no início para dar marcha no convento e precisa enfrentar os bispos. No entanto, em uma missão que precisava fazer um ritual, Cult of the Lamb não me permitia pegar recursos que só eram disponíveis na terra dos bispos. Aliás, por conta de uma missão anterior, eu já havia realizado o mesmo ritual e havia um tempo até fazer novamente. Conclusão? Meu culto foi para o paraíso dos carneiros e precisei começar um novo jogo, e isso ocorreu três vezes na mesma missão.
Esses foram os problemas mais recorrentes, mas existem outros que aparecem em alguns momentos. O mais triste foi: o problema com a legenda em português que levou a sua remoção momentânea. Por se tratar de um jogo sobre culto, existem algumas palavras específicas que não tinha conhecimento. Por fim, tudo é divertido, mas essas limitações irritam e transtornam a experiência.
Muita fé para pouca recompensa
Honestamente, Cult of the Lamb ainda é divertido. Apesar dos problemas que ocorreram comigo, acredito que com atualizações futuras tudo melhore. Com relação ao Roguelike, é bem fraco e não equilibra com o quanto de gerenciamento existe, parecendo um báculo para que tenha uma pitada de ação no título da Massiva Monster. Cult of the Lamb foi um game que coloquei muita fé e me decepcionei bastante por conta dos problemas no Switch. Caso tenha interesse, procure o jogo em outras plataformas ou espere umas atualizações.
Análise realizada com uma chave de Nintendo Switch gentilmente dada pela queridíssima Devolver Digital.