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Bom Dia, Verônica (Netflix) – Resenha

Cruel, porém necessário. Bom Dia, Verônica acerta na trama policial e um tanto atual

Título Original: Bom Dia, Verônica
Ano: 2020
Criação: Raphael Montes | Nº de Episódios: 08

Pense em uma série crua, sem meios termos ou dedos. Bom Dia, Verônica não só toca na ferida, como enfia o dedo nela e fere sem pudor, em uma obra visceral, envolvente e frenética do início ao fim.

A produção original Netflix é uma adaptação do livro homônimo de Raphael Montes – que também produz e assina a série no streaming – e Ilana Casoy, escritora e criminóloga. A obra de Raphael e Ilana – dois especialistas nacionais em literatura policial – foi lançada originalmente em 2016 sob o pseudônimo de Andrea Killmore, e se tornou um dos principais sucessos de ambos autores.

Sob a tutela da dupla, a série lançada neste último trimestre de 2020 capta todo ambiente sombrio, ágil e violento da obra original dos escritores e apresenta ao público uma das melhores criações recentes de ficção policial nacional, digna de aplauso em diversos aspectos.

Bom Dia Verônica é ambientada na cidade de São Paulo e narra a estória da protagonista que batiza a série, Verônica Torres (Tainá Müller), uma escrivã da Delegacia de Homicídios, que esconde um passado trágico envolvendo a morte da mãe e o suicídio do pai, antigo investigador na mesma delegacia.

O passado de Verônica começa a vir à tona e afetar sua rotina quando ela não consegue impedir o suicídio de uma mulher na delegacia. Afetada pelo incidente, a escrivã se envolve na investigação do caso, que a leva ao rastro de um golpista que atua em aplicativos de encontro dopando e abusando de vítimas como a garota que tirou a vida na sua frente.

Tal investigação possui desdobramentos que Verônica jamais poderia imaginar, levando-a a cruzar o caminho do casal Janete (Camila Morgado) e Claudio Brandão (Eduardo Moscovis). Vítima de um relacionamento extremamente abusivo, Janete pede, em segredo, socorro à escrivã, que acaba por desafiar o delegado titular, Carmona (Antônio Grassi) – que é também seu padrinho – e a delegada Anitta (Elisa Volpatto), uma verdadeira pedra no seu sapato.

Em meio aos desdobramentos dos dois casos – a investigação sobre o golpista e a investigação paralela de Verônica sobre Brandão -, as vidas de Verônica e Janete serão definitivamente afetadas, tragando-as a um túnel cada vez mais sombrio que também pode trazer a tragédia sobre as pessoas que amam.

Trama policial viciante e verossímil

Em primeiro lugar, Bom Dia Verônica é uma série policial competentíssima. Entre diversas produções nacionais e internacionais tão recorrentes a respeito, a série mostra-se crível, angustiante e apela menos ao ficcional do que o gênero muitas vezes o faz, apresentando personagens falhos, dúbios, e ações e investigações realistas. O embasamento dos autores certamente contribui muito para tal.

A ambientação na cidade de São Paulo e, em especial, em sua soturna noite no centro da cidade dá todo um clima de thriller palpável e angustiante, mostrando as diferentes facetas que compõem as polícias da cidade e o crime. Outro ponto positivo é a trilha sonora, noir e intrigante – e que conta com uma linha bastante eclética.

Se existe algum exagero no seriado, este pode se dar nas mais que explícitas cenas de violência. Bom Dia, Verônica certamente não é uma produção para estômagos mais frágeis, mas tal violência tempera perfeitamente o impacto (visual e mental) que a série pretende aplacar.

Atuações e roteiro

BOM DIA VERONICA (L to R) EDUARDO MOSCOVIS as BRANDÃO in episode 101 of BOM DIA VERONICA Cr. SUZANNA TIERIE/NETFLIX © 2020

Muito do envolvimento causado pela série se dá por seus excelente diálogos e personagens, bem desenvolvidos, humanizados, a ponto de criar em quem assiste extremo afeto ou repulsa interminável, e isto é, além de um acerto claro na direção e roteirização, fruto da escolha de um elenco perfeito.

Tainá Müller está impecável como a determinada e sofrida Verônica, uma personagem empática que nos compra logo em poucas cenas. E destacam-se, sobretudo, as atuações monstruosas de Camila Morgado e Eduardo Moscovis, que dão vida ao casal que centraliza os desdobramentos da trama. Com carreiras consolidadas no cinema e televisão nacionais, Camila e Du Moscovis fazem história em dois daqueles que certamente serão lembrados como parte de seus papéis mais marcantes.

E claro, uma trama policial tão bem escrita não funcionaria sem um roteiro criado sobre medida. Bom Dia, Verônica consegue sustentar a trama e captar o espectador perfeitamente (e de forma equilibrada) em seus oito episódios, gerando uma sensação constante de angústia durante cada um deles e, entre eles, uma ansiedade muito bem calculada pelos ganchos deixados a cada encerramento.

Misoginia, violência contra a mulher e gatilhos

Bom Dia, Verônica é também uma obra extremamente relevante no que diz respeito à violência contra a mulher. Sob diversos aspectos, a série nos apresenta a condutas machistas – explícitas ou menos explícitas – que culminam em crimes de ódio direcionados à mulher. Seja na relação abusiva (física e psicológica) de Brandão com Janete; nos golpes do vigarista com as mulheres que conheceu por aplicativo; ou mesmo na atitude machista enraizada, presente, inclusive, em outras mulheres – como em uma cena em que a delegada Anitta desacredita uma das vítimas, humilhando-a durante um depoimento.

Como dito acima, é importante salientar que a violência é explicita e chocante, causando angústia não somente visual, mas também e sobretudo psicológica. É, portanto, uma obra portadora de gatilhos para mulheres que já foram vítimas destas formas de violência.

É de grande importância uma produção nacional de alta visibilidade propor-se a debater o tema e direcionar seus espectadores a denunciar ou pedir ajuda. Nos créditos, há um reclame para o site www.wannatalkaboutit.com, iniciativa da Netflix para auxílio a vitimas de abusos.

Atual, chocante e viciante, Bom Dia, Verônica é tranquilamente uma das melhores produções nacionais da Netflix e, não obstante, um de seus lançamentos mais marcantes no ano. E que faz questão de nos lembrar: a culpa não é da vítima. Nunca.

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