Um personagem ímpar. Deus para uns, pecador para outros. Indiscutivelmente, um dos maiores gênios da bola e talvez o jogador que melhor encarne o espírito desse esporte. É sobre isso a série Maradona – Conquista de Um Sonho, do Prime Video.
A produção original argentina, recém-concluída com dez episódios, se junta a uma gama de outras produções sobre Diego Armando Maradona (1960-2020), considerado por muitos o melhor jogador de futebol de todos os tempos – ou ao menos, o mais talentoso – e também, porque não, o maior dos argentinos. O diferencial da série da Amazon, entretanto, é a dramaturgia sobre a vida do ídolo, ou seja, é uma série dramática biográfica.
Maradona – Conquista de Um Sonho parte de duas linhas temporais da vida do astro argentino, também corridas em velocidades distintas: no início dos anos 2000, somos apresentados a um Maradona já ex-jogador, recém-vitimado por uma overdose que quase ceifou sua vida. Internado em Punta Del Este, no Uruguai, uma grande comoção se forma ao seu redor – e no mundo todo – diante de sua eminente morte.
Na outra ponta, acompanhamos a origem de Maradona, o pobre garoto apelidado de “Pelusa” que cresceu no bairro de Villa Fiorito batendo bola nos guetos e já chamando a atenção por seu talento precoce. O pequeno Diego, graças a um amigo, recebe a oportunidade de treinar no time amador mirim conhecido como Cebollitas, que o levaria às categorias de base do clube Argentino Juniors. O resto é história!
A série da Amazon mostra os desdobramentos da quase morte de Maradona e, através da origem do ídolo, todo o caminho que o levou do céu como ídolo mor do futebol, da Argentina e de todos os clubes por onde passou, ao inferno, quando o vício em cocaína mudaria para sempre sua vida, abreviando as relações pessoais e uma carreira esportiva que poderia ter sido ainda mais fantástica do que foi de fato.
O seriado, nestas pontas, nos mostra o jogo de despedida de Maradona, pelo Boca Junior, e, na contagem de sua origem, nos leva até a glória máxima de “Dieguito”: a conquista da Copa do Mundo de 1986, torneio em que foi o principal jogador e capitão do selecionado argentino. Sua glória máxima em vida.
Maradona – Conquista de Um Sonho é um retrato descoberto de um ídolo
A produção original da Amazon, embora dramatúrgica, é sim uma biografia e, salvo pequenas liberdades de roteiro, bastante fiel aos principais acontecimentos da vida de um dos mais polêmicos astros do futebol. Isso envolve cutucar algumas feridas – do personagem e de muitos que o cercaram.
O roteiro não deixa de glorificar o jogador fantástico e ídolo desportivo que inspirou e inspira não somente gerações de jogadores, mas especialmente, de argentinos que enxergam até hoje no “Dios” um legítimo dos seus. Maradona é e sempre foi a cara da Argentina: foi sangue, suor, irmandade e patriotismo puro, e não à toa gerou identificação tão grande com os seus. Mas a trama também apresenta os demônios de Dom Diego: tempestuoso, infiel à esposa, alguém capaz de tudo para vencer e para limpar a própria barra.
O seriado trabalha muito bem a questão de Diego com o vício em cocaína: mostra todos os danos que a droga causou em toda a sua vida e principalmente àqueles ao seu redor, mas trata a questão como ela deveria ser vista: uma doença. Tanto no passado como especialmente no tempo mais recente apresentado, Maradona é retratado como alguém que se tornou um dependente químico e que falha em sua recuperação, ainda que a família e a esposa, Claudia, tentem recorrentemente ajudá-lo.
Portanto, Maradona – Conquista de Um Sonho é um retrato bastante honesto de Diego Maradona, mostrando as duas facetas de um dos grandes ícones do século XX: o “Deus”, gênio indomável do futebol; e o humano, desgraçado pelas más escolhas (e diversas más companhias, como muito bem posto no seriado), mas terrivelmente palpável e tangível.
Posto isso, a série também tem pontos muito positivos em termos de produção. Embora nem todas as atuações sejam extremamente convincentes, de modo geral o elenco foi muito bem escolhido, especialmente os diferentes intérpretes de Maradona – em particular Nazareno Casero, que possui maior tempo de tela e vive o Maradona dos anos 80. Nazareno incorporou muito bem todos os trejeitos do craque, além da incrível semelhança física com o astro. Outros personagens, como os companheiros de Seleção, o empresário Jorge Cyterszpiller e os técnicos Claudio Billardo e Cesar Menotti também merecem destaque.
Além da caracterização, a série possui um recurso muito interessante de mesclar filmagens reais de Diego em momentos-chave da trama (especialmente os jogos) e trazer extras após cada episódio, que enriquecem o aprofundamento na biografia do ex-jogador. Vale ressaltar, também, a excelente trilha sonora.
Vale a pena?
Maradona – Conquista de Um Sonho é, certamente, uma experiência mais rica para quem está antenado no mundo da bola e possui determinado conhecimento acerca da trajetória de Diego Armando Maradona. Todavia, é também um ótimo drama biográfico e um interessante formato a ser explorado em futuras produções acerca de grandes ídolos do esporte. Golaço da Amazon, também, pela produção regional que pode fortalecer ainda mais o mercado sul-americano.
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