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Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho – Resenha

No primeiro filme dos Rebuilds de Evangelion de Hideaki Anno, temos um excelente (re)começo!

Título Original: Evangelion: 1.0 You Are (Not) Alone / Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone /ヱヴァンゲリヲン新劇場版:序
Lançamento Original: 01 de Setembro de 2007
Direção: Hideaki Anno
Duração: 101 minutos
Disponível em: Amazon Prime Vídeo

SINOPSE DE EVANGELION 1.0 VOCÊ (NÃO) ESTÁ SOZINHO

” Em um mundo pós-apocalíptico, o último assentamento humano restante no Japão é a cidade fortemente fortificada de Tokyo-3. Shinji Ikari, um adolescente de 14 anos, é levado à sede da NERV, uma organização subterrânea liderada por seu pai distante, Gendou Ikari. Ele pede para que Shinji se tornar piloto de um “Evangelion,” um andróide colossal construído para lutar contra monstruosas e destrutivas criaturas alienígenas conhecidas como “Anjos” que vem causando estragos no planeta Terra e ameaçam a sobrevivência da raça humana remanescente.

Embora inicialmente relutante, Shinji é influenciado pela ideia de reconciliar-se com seu pai, e concorda em ajudar a humanidade contra as ameaças, como o piloto da Unidade Evangelion 01. Empurrado para o meio de um perigoso campo de batalha, Shinji deve encontrar a coragem e a determinação necessárias para enfrentar os Anjos antes que seja tarde demais.

OS FILMES / REBUILDS DE EVANGELION

Antes de falarmos do filme em si, é interessante darmos um contexto sobre o cenário em que ele foi concebido, e assim falando um pouco da origem da obra de Hideaki Anno. Na metade da década de 90 (mais precisamente entre 1995 à 1996) foi lançada a série original em anime de “Neon Genesis Evangelion“, que contou com total de 26 episódios. E posteriormente ganhou um filme “The End Of Evangelion”, que como o próprio nome sugere, foi lançado para encerrar a série. (Devido ao “polêmico” desfecho da série, os fãs pediram um outro final). 

Evangelion sem sombra de dúvidas foi, e é até hoje um dos grandes marcos da indústria de animes e mangás. Foi uma obra que quebrou paradigmas e se arriscou ao abordar assuntos mais densos e reflexivos sobre o ser humano em meio a um anime de “mecha”. Então, quase uma década depois, Hideaki Anno começou a lançar uma série de filmes de Evangelion, que visavam (re)contar a história de com uma nova roupagem em termos de animação e também do ponto de vista narrativo, e com isso começaram os então chamados “Rebuilds”.

Essa nova abordagem de Hideaki Anno com os filmes, rendeu um total de quatro filmes, assim formando essa tetralogia que durou ao todo 14 anos. Sendo eles:

UM ÓTIMO (RE)COMEÇO

Em Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho, por ser o primeiro filme, ele é o que mais “respeita” a obra original, tendo mudanças sutis no decorrer da trama. Para quem tem a série fresca na memória, vai se sentir vendo um bela “recapitulação”, agora com uma produção incrível em termos de animação, trilha sonora e direção. E isso é um acerto, pois esse cenário “comum” para quem já conhecia Evangelion é bom para reviver a trama, e ao mesmo tempo funciona para quem está chegando agora e tendo o primeiro contato com esse universo. 

A obra por ser um filme conta com menos tempo de tela do que a série, e assim inevitavelmente ele acaba tendo que resumir algumas coisas para que a trama avance de forma mais dinâmica, e ao mesmo tempo não perca qualidade. Uma coisa perceptível no longa, é que ele deu uma reduzida nos momentos mais melancólicos, como por exemplo os dilemas existenciais de Shinji. Eles estão lá, mas aparecem mais pontualmente, seja ele no trem, olhando o teto ou passeando pela cidade em busca de tentar entender a sua solidão. Na série há muito mais tempo para explorar isso, mas aqui é mais conciso e ainda assim funciona muito bem. 

O longa precisa fisgar o espectador, então quando surgem as batalhas da humanidade contra os Anjos (e principalmente quando os EVA’s entram em ação), Hideaki Anno acerta em muito ao dar um destaque absurdo para tais cenas. São momentos primorosos e que inevitavelmente enchem os olhos do espectador. Anno sabe dosar muito bem o tempo de tela do longa para apresentar os dramas dos personagens, mas sem deixá-lo cair no marasmo, e ao mesmo tempo nos mostrar cenas de ação impressionantes, mas que não são vazias. Pois a luta acontece tanto contra as ameaças dos Anjos,  quanto internamente no coração dos seus personagens.

VOCÊ (NÃO) ESTÁ SOZINHO

Além do toda a parte da produção do filme estar praticamente impecável, também é inevitável falarmos da sua história e das suas camadas. Pois Evangelion foi uma obra que na época de seu lançamento causou grande barulho por trazer como protagonista um personagem “fraco” e que só “chorava”. Isso para uma época onde o mercado estava mais acostumado com protagonistas mais “padrões” de shounen, aquela perseverança e convicção de alcançar seus sonhos através do esforço. Shinji Ikari ia na contramão disso, pois ele é um personagem muito complexo e cheio de nuances. (E possivelmente na época, foi mal compreendido). Em Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho, isso está presente, só que de maneira um pouco mais sutil do que na série.

Shinji não age assim gratuitamente, ele tem um passado e os porquês que o levaram a se sentir assim. Insegurança, depressão e a falta de perspectiva de vida. A falta de apoio do pai, o distanciamento das outras pessoas. E como citado em determinado, o Dilema do Ouriço / Porco Espinho, parábola escrita pelo filósofo  Arthur Schopenhauer sintetiza muito bem isso: 

“Os ouriços sentem-se sozinhos e desejam se aproximar… Sentem falta uns dos outros. Mas quando se tocam eles se ferem, pois tem espinhos. E é este o dilema: Sofrem pela solidão; se a sanam com contato com outros indivíduos, sofrem com os espinhos que todos possuem…”

Então o questionamento que fica é: qual seria a distância “ideal” entre os seres para que isso não ocorra? Ou, que isso acabe doendo menos? Qual é o limite disso? É um dilema que casa perfeitamente não apenas com Shinji, mas com Evangelion como um todo. Pois na obra é possível ver que ela está recheada de personagens disfuncionais. Além de Shinji, temos por exemplo Rei Ayanami, que também é uma piloto de Eva que simplesmente vive, mas não sabe o porquê.  A major Misato Katsuragi também é outra personagem cheia de traumas e perdas,  que tenta se afogar no trabalho para não pensar em sua solidão. Gendo Ikari, o pai de Shinji, é alguém frio e que também perdeu algo precioso e que simplesmente não consegue se reconectar com a humanidade, principalmente seu filho, que agora ele apenas o enxerga como um piloto de EVA. Evangelion permite ir muito fundo nessas camadas existenciais e filosóficas, e isso é um ponto muito positivo para a obra, pois assim a cada revisita, podemos absorver algo novo.

O título deste filme  “Você (Não) Está Sozinho” é simplesmente perfeito. Uma ótima síntese sobre os pontos que acabamos de falar. Pois os personagens estão quebrados, deslocados e sozinhos. Mas aos poucos, eles vão se permitindo sentir coisas novas, e aos poucos vão baixando as defesas (espinhos) para que possam se (re)conectar com as pessoas e o mundo que o cercam.

Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho, vale a pena?

Esse recomeço para a franquia Evangelion é muito bem vindo. Hideaki Anno conseguiu fazer um filme que agrada tanto os fãs de carteirinha, que vão poder rever vários momentos marcantes, só que agora com uma nova produção que está simplesmente fantástica. E aos novos espectadores, vão se deslumbrar com um filme incrível e cheio de camadas, que certamente vai despertar a curiosidade em ver todo o restante dos filmes, e também a série original. Aliás, fica uma dica: não é necessário ter visto a série original para curtir a obra, porém vale a pena demais ver tanto a série “Neon Genesis Evangelion” e depois o longa “End Of Evangelion” para ter mais bagagem e depois poder ver as diferenças narrativas entre elas. Aproveite que esse conteúdo está disponível na NETFLIX

Só para concluir, Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho é um daqueles filmes que marcam demais e que reverberam até hoje, afinal Evangelion nunca é demais. Não é à toa que a obra continua forte e relevante, pois tem muito conteúdo a ser explorado e discutido. E neste primeiro filme dos Rebuilds, Anno nos mostra cenas de tirar o fôlego nas partes de ação, combinando perfeitamente animação, coreografia e trilha sonora,  mas sem esquecer da dor de seus personagens. Evangelion é uma obra que transcende a zona de conforto, e nos brinda com uma trama de certa forma complexa e cheia de significados acerca da vida e dos dilemas humanos. Afinal, por mais que às vezes possa parecer, você não está sozinho.


E aí meu caro(a) leitor(a) do Meta Galáxia, espero que vocês tenham gostado da resenha. Evangelion: 1.0 – Você (Não) Está Sozinho é uma ótima porta de entrada para o universo de Evangelion. E este que vós escreve é um fã assumido da franquia que simplesmente me conquistou. Fique ligado aqui no site, pois vão sair as resenhas dos demais filmes da Tetralogia de Hideaki Anno. Até o próximo post e forte abraço!

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