Resident Evil 4 passou por um longo processo de criação. Houve diversos adiamentos, muitos protótipos, demos, trailers e outras coisas que jamais foram lançadas antes de finalmente termos a versão oficial da aventura de Leon. Dentre tanta polêmica, é difícil acreditar que o jogo faria tanto sucesso – é comum jogos muito adiados saírem cheio de falhas, o que não ocorreu aqui. Enfim, com o jogo em mãos, diversos foram os relançamentos, por parte da Capcom para todas as plataformas imagináveis. Além disso, os próprios fãs criaram projetos que melhoram os gráficos e ajudam a dissecar o jogo em cada detalhe. Ai que entra Master Reset, um canal do Youtube que mostra o quanto RE4 é diferenciado, mas vamos um passo de cada vez.
Um divisor de águas
Há uns bons meses escrevi um texto sobre a necessidade de Resident Evil 4 receber um remake ou não. Naquele texto, todavia, esqueci de mencionar a importância do jogo na época e como ele impactaria de outra maneira agora. Quando RE4 foi lançado, havia um desgaste enorme na franquia. Code Verônica é um jogaço – meu segundo favorito da franquia -, mas ficou longe do sucesso que os anteriores fizeram. Além disso, o remake de RE1 e RE0 também não atingiram o sucesso que a Capcom esperava. A reformulação era necessária e talvez graças a ela tantos jogos foram lançados posteriormente.
Resident Evil 4 não só reformulou os games em geral, que seguiram sua fórmula por anos, mas também a própria franquia da Capcom. Cabe mencionar ainda, que tivemos jogos derivados do game, como Devil May Cry, por exemplo. Não há o que questionar, assim sendo, sobre a necessidade do jogo ser como ele foi: todos saíram ganhando.
Porém, a realidade hoje é diferente. A câmera em primeira pessoa lançada em RE7 deu um ar de novidade para a franquia – apesar de não ser uma novidade na industria. Resident Evil 8 foi um sucesso total e RE2: Remake mostrou que ainda há espaço para a antiga fórmula – ou, de repente, este espaço foi deixado pelo própria franquia, que deu um descanso depois de Code Verônica. Assim, não há uma missão para RE4 como havia naquele época. O jogo, por enquanto, de acordo com notícias que saem, é provavelmente a grande aposta da Capcom de juntar seus últimos numerados em primeira pessoa com os recentes remakes. Uma espécie de produto final, enquanto Village e os remakes eram os protótipos.
Falando sobre o original
Voltando ao objetivo do post, tudo que eu disse antes mostra o impacto do game e sua importância para a franquia num geral. O jogo mudou tudo e trouxe uma jogabilidade muito mais dinâmica, equilibrando a fórmula do Survival Horror com seu próprio estilo – algo que se perdeu em RE5 e RE6. Shinji Mikami atingiu o auge da sua dificuldade dinâmica em God Hand, onde ela é muito mais explícita, mas foi em RE4 que ela se popularizou. A grande variedade de armas – hoje pode parecer pouco, mas é porque já zeramos o jogo centenas de vezes – contribui para uma quase infinita variação de gameplay.
Master Reset, um youtuber que possui – atualmente – 442 mil inscritos se aproveitou desta fórmula para criar uma infinidade de videos. Há as chamadas ‘Experiências’, onde é testado a capacidade de zerar o jogo sob determinadas condições – como não abrir a maleta, não matar nenhum inimigo ou usando uma arma em especifico o jogo todo. O canal ainda possui outros videos de outros jogos, mas nenhum atingi os patamares de RE4. O incrível dentro do canal é perceber a quantidade de conteúdo que o jogo rende ainda hoje, quase 20 anos após seu lançamento.
Abaixo, colocarei a taxa de pesquisa comparando Resident Evil 4 e Village, para você ter noção do quanto o jogo se mantém vivo mesmo competindo com um lançamento deste ano. (Infelizmente não consegui transferir a pesquisa direto pro post e teve que ser na base do print. Daí a qualidade não ficou muito boa)
Não existe produto sem consumidor
Nada disso seria relevante, no entanto, se não houvesse um público para isso. Os 442 mil inscritos de Master Reset não são atoa: há quem veja. RE4 não foi só revolucionário, como se tornou um jogo venerado, que desperta curiosidade. É quase um jogo separado do resto da franquia no que tange a público muitas vezes. Há quem goste de Resident Evil e há quem goste só de RE4.
Particularmente, vejo isso como uma consequência de toda uma geração que nasceu com o Playstation e cresceu com o Youtube. O brasileiro é muito apegado a nostalgia e não é coincidência que temos outros dois canais quase que focados em um único jogo parecidos com o que faz o Master Reset: Marlon Chaves (DBZ Budokai Tenkaichi 3) e o Gigaton (GTA: San Andreas).
Os três games são do PS2 e não geram conteúdos só para estes canais. Se você procurar por lives de jogos do PS2 em qualquer plataforma, provavelmente só encontrará destes jogos de vários streamers diferentes. É uma sobrevivência daquele que foi o maior dos consoles até hoje e todos sabemos que isso ocorreu devido a facilidade da pirataria. O que mostra, no fim das contas, que a facilidade de acesso a determinados conteúdos ajuda não só os consumidores, mas as empresas.
Em Conclusão
Se o Playstation, Resident Evil 4, Master Reset e todos que mencionei até aqui atingiram tudo que atingiram, foi graças a pirataria. Ela é necessária? No Brasil e no mundo que vivemos sim. Mas as empresas poderiam mudar isso, facilitando o acesso de seus produtos, contando, claro, com a ajuda do governo que mete imposto até na embalagem de plástico se duvidar. Aliás, a Nintendo é a pior empresa nesse quesito de saber se aproveitar do sucesso de suas obras e da nostalgia que elas podem causar.
Resta vermos até onde RE4 se mantém no topo e o impacto que o futuro Remake trará para a franquia. Uma coisa é certa: enquanto essa geração viver, certos jogos nunca morrerão!