A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim – Resenha

Intimista, A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim nos cativa de forma despretensiosa ao inserir-nos na autobiografia de um artista com seus sucessos e, especialmente, insucessos

Muito da autenticidade de uma obra parte da honestidade de seu autor e a forma como pretende relatar sua estória. O desafio é ainda maior quando se trata de uma obra autobiográfica e, para os fortuitos leitores de A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim, o autor Adrian Tomine não se poupa ao nos contar causos de sua trajetória como quadrinista.

Lançada pela editora Nemo – que reproduziu o curioso e criativo formato de sketchbook usado na edição original estadunidense -, a HQ nos lança, em uma coletânea de capítulos curtos, à história do próprio autor – o escritor, cartunista e quadrinista Adrian Tomine, criador de graphic novels como Optic Nerve e Intrusos (Killing and Dying, também publicada no Brasil pela Nemo), e em como surgiu sua aspiração pelo universo dos quadrinhos.

A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim tem início na cidade de Fresno, em 1982, quando Tomine é apresentado em sua nova turma e, ao revelar os quadrinhos como seu principal hobby, é debochado e humilhado pelos colegas. Os capítulos vão se passando, mostrando como o jovem Adrian, a despeito da maioria das pessoas de sua idade, cresceu sem muitos amigos, mas focado no seu sonho de ser quadrinista, alcançando-o ainda jovem, inspirado por nomes célebres do universo de graphic novels como Daniel Clowes.

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Tomine logo se ilude com sua ascensão repentina, passando por uma série de situações constrangedoras em eventos e mesmo com a recepção de fãs – seja pelo seu ego ligeiramente inflado ou pela total falta de tato social. Conforme os capítulos avançam, notamos seu amadurecimento, mudanças de perspectiva quanto à carreira e, eventualmente, reflexões sobre seu futuro e a relação com a família.

A beleza de A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim está em sua simplicidade e franqueza. Seja você alguém ligado ao meio artístico ou não, é impossível não se identificar com algumas das situações de mais pura vergonha alheia profissional a que somos submetidos ao longo de nossa vida. Os traços e diálogos cartunescos de Tomine dão a toada contemporânea à leitura que nos aproximam do autor e, junto com ele, rimos, sentimos vergonha e nos emocionamos ao longo de suas pouco mais de 150 páginas – que passam voando.

A HQ também escancara, sem precisar recorrer a qualquer tom de agressividade, o lado inglório da indústria de quadrinhos (que em diferentes porções se aplica a indústria do entretenimento em geral), em que um autor, mesmo depois de anos de carreira e obras consolidadas mundo afora, ainda pode ser constrangido em situações diversas como uma premiação ou simplesmente na fila de um supermercado. Como disse o mestre Alan Moore sobre a HQ:

Neste belo e sincero trabalho, Adrian Tomine apresenta o retrato mais honesto e revelador possível de uma indústria à qual não posso mais suportar me associar.

Alan Moore

Leve, impactante e indispensável para quem deseja uma excelente leitura. A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim está disponível no site da Editora Nemo e é certamente uma das HQs mais interessantes de 2020.

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ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim
Diego Betioli
Escritor, publicitário, louco por esportes e entretenimento. Autor de A Última Estação (junto com Rodolfo Bezerra) e CEP e um dos fundadores do Meta Galáxia.
a-solidao-de-um-quadrinho-sem-fim-resenhaIntimista, A Solidão De Um Quadrinho Sem Fim nos cativa de forma despretensiosa ao inserir-nos na autobiografia de um artista com seus sucessos e, especialmente, insucessos.

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