Chernobyl – Resenha da minissérie original HBO
Título Original: Chernobyl |
Ano: 2019 |
Criação: Craig Mazin | Nº de Episódios: 05 |
Sabemos que a HBO não costuma brincar em serviço. Salvo raras exceções, como a questionável última temporada de Game Of Thrones, a emissora tem em seu portfolio séries incríveis como True Detective e Westworld. E Chernobyl, sem dúvidas, entra no hall das melhores coisas já produzidas não somente pela Home Box Office, mas no que diz respeito a seriados televisivos como um todo.
A minissérie de cinco episódios retrata o acidente nuclear na usina de Chernobyl, ocorrido na antiga União Soviética em 1986 na cidade de Pripyat e considerado o maior desastre dessa espécie na história da humanidade. Os dados e informações a respeito das consequências da tragédia, desde o número de vítimas à extensão da radioatividade gerada pela explosão, são alvo de questionamento até os dias atuais, dado o mecanismo de ocultação do governo à época.
Chernobyl apresenta os principais fatos relacionados ao desastre em uma linha temporal de dois anos (1986 a 1988), decorrendo desde a explosão do núcleo do reator – o clímax do acidente – às tentativas de contenção, evacuação e dissolução do evento, situando-os sob diferentes perspectivas até o julgamento dos principais responsáveis pelo fatídico evento.
Esse é um dos pontos altos da minissérie: para a narrativa dos acontecimentos, somos apresentados a pelo menos cinco diferentes personagens centrais: Valery Legasov (Jared Harris), químico inorgânico responsável pela investigação científica da tragédia; Boris Shcherbina (Stellan Skarsgard), vice-presidente do conselho de Ministros, responsável pela condução do caso; Ulyana Khomiuk (Emily Watson), cientista bielorrussa especialista em energia nuclear (personagem original da série); Anatoly Dyatlov (Paul Ritter), engenheiro responsável pelo teste nuclear fatal; e Lyudmilla Ignatenko (Jessie Buckley), vítima que sofre com diversos efeitos colaterais da tragédia.
A perspectiva destes diferentes personagens, que ocupam posições distintas dentro do panorama gerado pelo desaste de Chernobyl, mostra como o histórico acidente teve desdobramentos inimagináveis nos mais diversos aspectos, sejam eles sociais, políticos, culturais e humanitários. A narrativa amarra todas essas pontas para contar uma das mais impressionantes (e tristes) histórias da humanidade, retratando-a de um modo único e envolvente em apenas cinco episódios.
E isto só é possível graças a conjunção de fatores que tornam uma produção de entretenimento em uma obra-prima: atuações e caracterizações impecáveis, direção, trilha sonora e fotografia perfeitas e, claro, um roteiro amarrado do início ao fim, que vai muito além de simplesmente adaptar uma história real e contá-la em um seriado. Chernobyl é, no conjunto de sua obra, uma experiência narrativa incomparável.
Dadas pequenas liberdades criativas, a minissérie consegue, ao reproduzir o incidente de forma fiel, comover ao mostrar o lado humano, dos efeitos sofridos pelos trabalhadores e moradores de Pripyat, dos soldados e civis enviados para tentar conter a tragédia e sacrificarem suas vidas; gerar revolta ao falar sobre o movimento do governo soviético para tentar abafar o caso, mesmo colocando milhões de vidas em risco; e, sobretudo, nos fazer refletir sobre a dualidade do homem ao nos apresentar seus protagonistas, carregados de culpas e valores relativos sobre o senso de justiça, mesmo que tardio.
Vale reforçar o ponto referente às atuações. Com um elenco de peso, a produção deu holofotes ao brilhante Jared Harris, que já revelara seu talento em outras séries como Mad Men, The Terror e The Crown, mas que aqui se sobressai sob o papel de Legasov, figura central de todo o processo do incidente. O já consagrado Skarsgard também está fantástico como Boris, assim como Emily Watson como Khomiuka. Não será surpresa alguma vê-los concorrendo (e faturando) o próximo Emmy.
Chernobyl, com suas pouco mais de cinco horas de duração, já faz parte de um seleto grupo de séries consagradas – e já é a mais bem avaliada no IMDB. O sucesso repentino fez, inclusive, aumentar o turismo à região de Pripyat em maio deste ano. Não tenha dúvida: está é, possivelmente, a melhor série produzida e lançada em 2019.
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