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True Detective 3 (HBO) – Resenha

Injustiçada, terceira temporada recupera essência sombria e envolvente da série

True Detective 3 – Resenha da terceira temporada da série original HBO

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Título Original: True Detective 3
Ano: 2019
Criação: Nic Pizzolatto | Nº de Episódios: 08

Sabe quando você termina de ler, jogar ou assistir alguma coisa e tem certeza que experimentou algo único, que está, como diria Bruno Henrique, em outro patamar? Esta é a sensação que True Detective 3 deixa no espectador. Não somente ao fim da temporada, mas ao fim de cada episódio.

Após uma segunda temporada que não agradou gregos e troianos, True Detective resgata a essência que consagrou sua primeira temporada como um dos melhores shows televisivos da década. O criador Nic Pizzolatto assumiu também as rédeas de direção e roteiro de quase todos os episódios, e Matthew McConaughey e Woody Harrelson, protagonistas da season 1, também aparecem como produtores executivos.

True Detective 3 apresenta a dupla de investigadores Wayne Hays (Mahershala Ali, duas vezes vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) e Roland West (Stephen Dorff, astro de dezenas de filmes B de ação), responsável pela investigação do desaparecimento dos irmãos Will e Julie Purcell, na região de Ozarks, no Arkansas.

A trama se dá em três linhas do tempo distintas: 1980, quando ocorre o desaparecimento das crianças; 1990, quando um novo fator faz com que o caso seja reaberto e a dupla volte a trabalhar nele; e 2015, quando Wayne, já idoso, é abordado por um programa de TV para falar sobre o caso e descobre que, mesmo 35 anos depois, ainda há uma série de pontas soltas sobre ele.

Mesma fórmula, resultado novo

Como falamos anteriormente, True Detective 3 recorreu às raízes da aclamada primeira temporada para tentar consagrar a nova produção, entregando uma temporada que, no mínimo seria tão boa quanto. Havia, portanto, o desafio de não cair na vala do copia e cola, ainda que, se isso tivesse sido feito a rigor, certamente teríamos de todo modo um excelente produto.

Porém, felizmente, a terceira temporada consegue se descolar da trama original no que diz respeito ao seu desenvolvimento. Os principais elementos estão lá: o clima sombrio, os simbolismos de caráter ocultista, a navegação entre linhas distintas de tempo, os dramas conjugais e entre os parceiros de investigação. Mas, igualmente rico, True Detective 3 cria sua própria forma, desenhada pelo desenvolvimento de seus personagens e da forma como as pistas e elementos do caso são distribuídas na estória.

A percepção do tempo em True Detective 3

Einstein diria que o tempo é relativo. Em True Detective 3, a condução do tempo é feita pelo roteiro de forma paralela, encaixando peças soltas que se revelam ao espectador episódio a episódio, mas que, talvez, já estivessem ali desde o princípio. O tempo é, na verdade, o recurso mais poderoso desta temporada.

Sob a ótica de Wayne Hays, um homem que, idoso, luta contra sua perda de memória, as linhas temporais se confundem e, por vezes, nos confundem, mas de forma propositiva. Muitas vezes curiosos para saber o desfecho de determinada etapa da investigação, a série faz com que tenhamos desejo de avançar ou retroceder a uma das linhas temporais para saber o que aconteceu.

Mas, embora tenhamos a capacidade de adiantar ou voltar os episódios com o controle remoto, não temos o poder de decidir para qual momento histórico da série podemos ir. E esta é a grande graça de True Detective 3. A estória poderia muito bem ser contada de forma linear e ainda assim ser apresentada de modo muito rico; entretanto, jamais surtiria o mesmo efeito sob nós. E dispensaria o principal: que a luta de Wayne e Roland pela verdade do caso é, acima de tudo, uma luta contra o tempo e que atravessa o tempo.

Racismo explícito e institucionalizado

Uma das características de True Detective é sobressair a uma simples série policial, apresentando um roteiro robusto e cheio de nuances; uma delas é o caráter de análise social. Se na primeira temporada um dos pontos de atenção da trama girava em torno do machismo e da masculinidade tóxica, a questão que chama a atenção na terceira temporada é o racismo.

Ao longo dos oito episódios, são diversas as situações em que Wayne e Amelia Hays (Carmen Ejogo), professora e escritora que vem a se tornar sua esposa, sofrem situações de racismo, especialmente em 1980, em um Estados Unidos que ainda há pouco vivia uma segregação explícita e aceita em todo país.

Em alguns momentos, ambos são hostilizados com nomes pejorativos para sua cor, ofensa usada frequentemente em situações de confrontamento. Mas ainda mais chocantes são as situações veladas, quando o trabalho de Wayne, que possui um parceiro igualmente competente e branco, é ignorado simplesmente pelo fato dele ser negro. Ou quando, em um dos interrogatórios, uma testemunha diz, em outras palavras, que “negros são todos iguais”.

Um ponto interessante é a colocação de Roland. Como homem branco, Roland entende que seu parceiro sofre racismo e, algumas vezes, se coloca ante a injúria ou discriminação sofrida por ele, mas em alguns momentos o questiona se determinada situação é mesmo racista. Wayne, embora explícito em suas explanações, chega a compreender que seu parceiro nunca entenderá de fato o que é racismo e, acima de tudo, sofrer isso na pele.

True Detective 3: Injustiçada?

True Detective 3 é uma obra-prima em todos os seus diferentes aspectos, da concepção à execução. Com as atuações viscerais de Mahershala Ali, Stephen Dorff, Carmen Ejogo e Scott McNairy (que vive Tom, pai das crianças), a fabulosa direção de arte, trilha sonora fascinante e caracterização e figurinos perfeitos para dar o ar de cada uma das linhas do tempo, esta temporada é, certamente, digna de um Emmy.

Entretanto, apesar das diversas indicações nos principais prêmios televisivos, TD3, infelizmente, não faturou nenhum deles e foi praticamente ignorado no último Emmy, perdendo espaço, inclusive, para seus companheiros de casa Game of Thrones e Chernobyl. Injustiçada? Só o tempo dirá.

Se ainda não viu True Detective, vale muito a pena dar uma chance, especialmente às temporadas 1 e 3. O selo de qualidade HBO está mais presente que nunca nesta série, que, sem nenhum exagero, pode ser considerada o masterpiece de seu gênero.

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