ESTRANHA FORMA DE VIDA – RESENHA

Muito mais do que uma versão de O Segredo de Brokeback Mountain, Estranha Forma de Vida traz Pedro Pascal e Ethan Hawke desvelando intimidade em diálogos preciosos

Ethan Hawke e Pedro Pascal em Estranha Forma de Vida

Com Estranha Forma de Vida, Pedro Almodóvar retoma o formato de média-metragem com o reencontro do fazendeiro Silva (Pedro Pascal) com o xerife Jake, após 25 anos separados. Apesar da noite de lembranças e intimidade dos ex-amantes, o dia amanhece e os obriga a encarar os reais motivos dessa reunião. 

Logo após o filme, segue uma entrevista exclusiva com o diretor. Entre outras (muitas) coisas, Almodóvar diz querer desnudar o desejo masculino nunca abordado no gênero marcado por presença quase que exclusivamente de homens. E, embora exiba as nádegas de um lânguido Pedro Pascal que desperta de uma noite de amor, não de forma explícita, mas com diálogos que despem o coração das personagens – materializados em cenas de forte química entre Pascal e Hawke.

Não espere, contudo, hesitação ou insegurança com a própria sexualidade por parte dos protagonistas. Há, pontualmente, sinais de que o mundo exterior segue homofóbico; mas não aparenta ser uma questão para Silva e o xerife, separados porque queriam rumos diferentes para a vida. “O que dois homens poderiam fazer vivendo juntos em um rancho?”, uma pergunta-meio-resposta como quem diz que não há futuro juntos.

Na verdade, a impressão é a de que para Jake há apenas passado (a realização das promessas feitas a pessoas que já morreram); enquanto o olhar de Silva está voltado para o que ainda está por vir (e, sim, ele tem a própria resposta para a pergunta). E, como em trabalhos anteriores do diretor, esse confronto do que foi, o que se gostaria que fosse e o que efetivamente pode ser – as manifestações do desejo e como as personagens lidam com elas, talvez? – dão corpo à narrativa.

A escolha do gênero para contar essa história gera uma pergunta inevitável. O próprio Almodóvar disse, à IndieWire, que Estranha Forma de Vida “pode ser meio que a minha resposta a O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), quase 20 anos depois. Convidado a dirigir o longa, recusou por entender que haveria limitações demais à sua interpretação do roteiro. O cargo ficou com Ang Lee, que acabou lhe rendendo o Oscar de melhor direção.

Filmado em locações construídas por Sergio Leone, para rodar sua trilogia do dólar – Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966) –, a película apresenta a observância do histórico estilístico dos westerns europeus. A ponto de, num gênero tipicamente árido nas cores, o casaco verde de Silva ter sido validado após descobrirem que havia uma personagem com casaco similar em filme anterior (faz muito sentido quando você pensa que a produção é da Saint Laurent Productions, divisão cinematográfica da casa YSL).

Já viu cowboys estilosos assim? Pois é, com a assinatura Yves Saint Laurent.

Almodóvar confessa que o único elemento anacrônico é a música-título, um fado de Amália Rodrigues, na voz de Caetano Veloso, já na abertura:

Caetano Veloso (apenas na voz; na tela, quem “canta” é Manu Ríos) introduz o tom melancólico da história.

“Que estranha forma de vida / tem este meu coração: / vive de vida perdida; (…)
“Coração independente / Coração que não comando” (…)
“Se não sabes onde vais/Porque teimas em correr?/Eu não te acompanho mais”

Qual das personagens está vivendo separada de seu desejo? Todas?

Em cartaz nos cinemas a partir de 14 de setembro e na MUBI após 20 de outubro.

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ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Estranha Forma de Vida
Yuji Imaizumi
Já fui um monte de coisas e gostei de quase nada. Mas gosto do fato de que nada se limita a apenas contar uma história. Minha escala personalíssima das resenhas: [ 1 - 1.5 ⭐: gostei não ] // [ 2 - 2.5 ⭐: nhé ] // [ 3 - 3.5 ⭐: gostei ] // [ 4 - 4.5 ⭐: gostei muito ] // [ 5 ⭐: carai! ]
estranha-forma-de-vida-resenhaNa contramão de filmes com mais de 3 horas de duração, Almodóvar entrega uma história sem excessos e repleta de sutilezas. Diálogos, olhares e ambientações falam alto e dão a liberdade ao espectador exercitar a imaginação para preencher as histórias não contadas - tanto do passado quanto do futuro.

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