Elvis de Baz Luhrmann ilustra, sob a ótica do obsessivo e controverso empresário Tom Parker, a ascensão e queda de uma das maiores estrelas da história
Em um ano onde alguns dos grandes lançamentos cinematográficos já estão concentrados diretamente no streaming (inclusive, não deixe de ler nosso post com a reflexão sobre o futuro do cinema físico), Elvis de Baz Luhrmann entra facilmente para a lista de obras que merecem o espetáculo das grandes telas. Fora do circuito Marvel, é talvez o principal lançamento de cinema de 2022 até aqui, ao lado de Top Gun Maverick – embora tenha tido menor publicidade que estes citados.
O longa é uma cinebiografia dirigida pela consagrado Baz Luhrmann, que tem entre suas obras nada menos que os (merecidamente) aclamados Moulin Rouge e O Grande Gatsby. Quem já viu ambos, especialmente Moulin Rouge, sabe como o diretor presa pelo espetáculo e sabe fazer com que a música se torne a energia motriz de sua direção, dando vida aos seus roteiros como se estivéssemos assistindo a um grande ato musical. O cineasta australiano tem em mãos, então, uma história perfeita para contar a seu modo único.
Sinopse de Elvis de Baz Luhrmann
Em Elvis, somos introduzidos a história do Rei do Rock sob a narrativa de seu empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks), um sujeito que surgiu no show business entre meados dos anos 40 com espetáculos circenses e, já no início dos anos 50, agenciando o cantor country Hank Snow – um dos maiores nomes da história da música country.
O destino de Parker mudaria ao tomar conhecimento da existência de um jovem cantor que está surgindo com influência da música negra, um tal Elvis Presley (Austin Butler). Ao presenciar a primeira apresentação de Elvis, onde o cantor choca e conquista a multidão e imprensa local com seu requebrado, atitude rebelde e a influência do rhythm & blues, o coronel vê no jovem artista uma mina de ouro. Inicia-se ali, então, uma explosiva parceria que levaria Elvis ao estrelato máximo. E, no futuro, ao seu destrutivo e triste fim.
Uma cinebiografia à altura do maior showman da história
Elvis Presley não era somente um cantor, músico e intérprete acima da curva, mas um verdadeiro showman – um indivíduo que reunia todas essas características e, atrelando-as ao seu carisma nato, transformava seus shows em espetáculos capazes de parar multidões e fazer fãs desmaiarem. Era como uma divindade caminhando entre os mortais. E não à toa, mesmo muitos anos após sua morte, as mais diversas teorias da conspiração alegavam que o cantor seguia vivo em algum lugar; talvez uma forma de renegar a despedida de sua presença entre nós.
Uma figura tão destacada, que teve sua vida marcada por tragédias familiares desde o princípio, diversos causos no palco e fora deles e, claro, o impacto e revolução cultural que foi capaz de proporcionar, poderiam render até mesmo uma trilogia cinebiográfica ao Rei; o material que sua vida oferece para um retrato desta natureza é abundante e naturalmente cativante. Elvis de Baz Luhrmann, entretanto, consegue reunir em 2h39min (que o espectador mal vê passar, diga-se de passagem) o suficiente da história do astro para mesmo quem não conhecia previamente sua trajetória se empolgar, emocionar e revoltar com tudo que cerca esta narrativa.
Como a grande maioria das biografias, o filme toma pequenas liberdades criativas, como quanto a uma amizade entre Elvis e B.B. King que não fora tão aprofundada assim na vida real, e em alguns de seus momentos com Priscilla Presley (Olivia DeJonge) e o coronel. No entanto, tudo que é essencial está ali em fato, e dá o peso necessário para que o roteiro prenda o espectador do princípio até o último minuto. Sabemos como a história de Elvis começa e termina – algo que uma breve pesquisa no Google responderia – mas como um ponto chega ao outro, ou seja, COMO a vida de Elvis aconteceu é o que o diretor narra brilhantemente.
Trazer o filme sob a narrativa de Tom Parker é um acerto fantástico de Luhrmann. Afinal, a história pública do Rei do Rock começa e termina exatamente com sua relação com o empresário que o tirou dos subúrbios e o ajudou a galgar o lugar mais alto que alguém poderia aspirar quanto a fama, mas que teve o mais custoso dos preços: sua liberdade e, por fim, sua vida.
A narração do personagem de Hanks proporciona ao espectador uma visão detalhada dos fatos, imersiva, ao mesmo tempo em que é impossível não se enojar com o co-protagonista – um sujeito cínico e obsessivo, mas que parecia, de fato, acreditar em seu deslumbre de que tudo que ocorreu a Elvis lhe cabia todo mérito. Pensamento este que o empresário carregou até o fim de sua vida, como é bem ilustrado no longa.
Um astro para o Astro do Rock
Se Tom Hanks é fundamental para o filme (e certamente não será surpresa vê-lo faturando o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante na premiação do ano que vem), tão ou mais impactante é o Elvis interpretado por Austin Butler. O ator de trinta anos de idade, que tem uma carreira majoritariamente televisiva, foi um achado fantástico de Luhrmann e caiu como uma luva para dar vida ao Rei nos cinemas.
Butler estudou Elvis e sua vida por mais de dois anos e foi, inclusive, muito elogiado por Priscilla Presley, ex-esposa do cantor. O ator conseguiu captar todas as nuances e trejeitos do astro: o modo de falar, seu requebrado, o olhar compenetrado e hipnótico – que por vezes escondia uma grande melancolia – e, além de tudo, sua voz. Sim, Austin estudou canto, praticou diversas músicas de Elvis e não somente as interpretou, como trouxe uma entonação muito semelhante à do Rei; no filme, a maioria das músicas apresentadas até o comeback do cantor (em 68) são cantadas pelo ator.
Butler contou, ainda, com um talentoso time de figurinistas e maquiadores que deram a ele o toque final para que assumisse aquela que talvez seja a versão definitiva da figura de Elvis em relação às telonas.
Detalhes ricos e importantes
Elvis de Baz Luhrmann também trabalha nuances importantes que enriquecem o conhecimento sobre a figura de Elvis e muito do que a compôs desde o início da carreira.
A forte influência da música negra, do R&B, talvez seja a principal delas. Embora seja um fator citado em suas biografias, neste filme essa influência realmente é salientada como algo fundamental à sua formação musical. Elvis desenvolveu seu estilo com base na sua origem na comunidade negra em que cresceu e em grandes nomes do blues como o próprio B.B. King. O longa mostra como Elvis admirava estes artistas, os incorporava a sua interpretação e, inclusive, gravava covers de muitos deles, como é o caso de Hound Dog, canção imortalizada em sua voz, que foi originalmente composta e gravada por Big Mama Thorton em 1952.
Outro mote abordado é a origem religiosa de Elvis. Não só ele, como toda família, possuíam um forte apreço cristão e este ponto é mostrado como um traço de decisão presente em momentos chave de sua vida.
A trilha sonora e o grande espetáculo
É claro que um filme sobre Elvis não poderia entregar algo menos que extraordinário em termos de trilha sonora. Trilha esta que mescla as canções originais de Elvis, covers, remixes que aparecem como pano de fundo em momentos não cantados da trama e, também, as interpretações do próprio Austin Butler. Confira abaixo:
A magia de espetáculo de Luhrmann se dá essencialmente sob este aspecto: o diretor consegue fazer com que todas as músicas apresentadas na trama tenham relação com o momento contado no instante em questão, como quando Suspicious Minds usa o refrão sobre “estar preso em uma armadilha” para fazer alusão à relação abusiva de Tom Parker com o cantor.
As apresentações musicais de Elvis são reais espetáculos, como se de fato estivéssemos assistindo a uma transmissão de um show do Rei. E os momentos em que o vemos em “off” são recheados de trilhas densas que dão todo o clima do sentimento do cantor.
Elvis de Baz Luhrmann também tem tudo para abocanhar os principais prêmios no que diz respeito também a Montagem, Figurino e Maquiagem. Somos transportados em detalhes de perfeição aos anos 50, 60 e 70 e todos os principais espetáculos de Elvis nestes períodos.
O filme, inclusive, é a primeira obra biografia audiovisual sobre o cantor a se aprofundar na reta final de sua vida, que teve fim precoce em 16 de agosto de 1977, aos 42 anos. O último ato é um dos mais belos e tristes do cinema recente; e despede-se do espectador como de fato o Rei o fez em seu gesto final.
Elvis é, por fim, um gigantesco espetáculo à altura do Rei do Rock; um retrato memorável e imperdível que merece a audiência de uma gigantesca sala de cinema com aplausos do público.
Confira abaixo o trailer de Elvis de Baz Luhrmann:
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