Jogo Perigoso o Livro vs o Filme Netflix
Antes de começar esse post, gostaria de agradecer a Carla Andressa dos Santos, minha namorada, por ter produzido esse texto com tanta propriedade, os créditos são todos para ela! Jogo Perigoso o Livro vs o Filme Netflix
Jogo perigoso trata-se de um filme dirigido por Mike Flanagan (mesmo diretor de “Ouija: Origem do Mal”), e é uma das produções originais mais recentes da Netflix, baseada em uma das tantas obras de arte de Stephen King.
Bom, há algo que preciso salientar antes de iniciar essa resenha: Eu sou uma fã assídua de Stephen King e tenho imensa coleção de seus livros, motivo pelo qual, achei interessante fazer um comparativo entre o “movie” e o “book”, Jogo Perigoso o Livro vs o Filme Netflix.
O longa é um suspense psicológico sobre Jessie (Carla Gugino), que no intuito de atender aos insistentes pedidos de seu marido Gerard (Bruce Greenwood), se desloca até uma casa de verão isolada, para realizar suas fantasias sexuais.
O livro deixa extremamente cristalino que Jessie não sente qualquer paixão por Gerard, mas por mera comodidade e pela concepção de que é preciso “salvar seu casamento”, tolera a ideia de que seu marido gosta de algemá-la na cama, em que pese isso proporcione terror às suas entranhas.
O filme deixa transparecer um pouco desse sentimento, mas não o exterioriza drasticamente como no livro, dando a entender ao telespectador por alguns momentos que é consensual o interesse de Jessie em praticar aquela fantasia.
Nos minutos seguintes, tanto do filme, quanto do livro, Gerard força uma situação semelhante a um estupro e Jessie, em surto, involuntariamente chuta o marido com tanta força no peito que este vem a óbito. Nesse momento o pesadelo da protagonista se inicia, quando presa em uma cama por algemas, precisa achar meios de sobreviver.
Na obra original, a pedido de Gerard, Jessie usa apenas uma calcinha. Tal fato é censurado no filme (por motivos óbvios), mas acaba acarretando grandes diferenças no rumo da história, já que no livro a protagonista é imensamente encanada com seu corpo, e chega até mesmo a contestar se é válido chamar ajuda por receio de que a sociedade faça um juízo de valor errôneo sobre sua pessoa, quando no resgate, averiguassem que estava seminua.
No “book”, Jessie escuta vozes como a de uma velha amiga de faculdade (Ruth), bem como de sua ex-psiquiatra (Nora), da Esposinha Perfeita, e até mesmo de si própria quando era criança. Stephen King trabalha dessa forma no livro para traçar aspectos importantes da personalidade da personagem principal.
O Diretor do filme abordou de forma interessante um segundo “eu”, que representaria uma mulher forte, independente e sem medos (referência a Ruth) e um “Gerard falecido e falante”, para caracterizar a personagem opressora, careta e antiquada (referência a Esposinha Perfeita) como vozes na cabeça da protagonista.
Aliás, o Gerard representado no filme é fisicamente muito diferente daquele descrito no livro. Na obra original, o marido de Jessie está acima do peso, usa óculos, e possui drásticos sinais de calvície, contrariando o personagem esbelto, malhado e grisalho cinematograficamente reproduzido.
No curso de ambas as obras, ressalta-se que os problemas psicológicos de Jessie estão inteiramente conectados com traumas de seu passado, associados essencialmente com as impressões de rejeição de sua mãe e a um abuso sexual cometido por seu pai, Thomas. Obviamente, mesmo por conta do tempo, o livro descreve com maior riqueza de detalhes a situação do “eclipse lunar” (analogia utilizada para descrever o momento em que seu pai a toca de maneira sexual, simbolizando quando o sol de sua vida escureceu).
É possível dizer que o leitor ou o telespectador sentem-se tensos em quase todos os momentos de reflexão da personagem, fazendo-os se questionar como procederiam naquela situação e se a protagonista sairá bem dessa.
Um dos auges desse confronto pessoal ocorre com a aparição do “homem do luar” (novamente, uma referência clássica ao abalo psicológico causado por seu pai), que se torna uma figura aparentemente sobrenatural.
No livro, assim como no longa-metragem, Jessie descobre que o estranho personagem se trata de um homem com deficiências físicas, e que no decorrer da difícil vida, cometeu uma série de crimes associados a necrofilia. Ocorre que, no término da trama existe uma grande diferença na conduta da protagonista, já que ao se dirigir até o tribunal para acompanhar o julgamento do homem, no livro ela cospe em sua face para demonstrar horror e revolta, e no filme (na minha opinião, brilhante), Jessie menciona a frase “Você é bem menor do que eu imaginava”, fazendo significativa alusão a superação de suas feridas antigas.
Para fechar Jogo Perigoso o Livro vs o Filme Netflix, é necessário mencionar que existem outras pequenas alterações entre as duas obras, como em qualquer interpretação, contudo, elas são insignificantes no contexto geral, não mudando a essência da ideia original.
Ao meu ver, a adaptação causou euforia, suspense e entretenimento ao telespectador, transmitindo muito bem a principal característica do mestre do horror, Stephen King.
Conheça também nossa resenha do filme Jogo Perigoso, do Netflix.