O Poço – Resenha do filme espanhol sucesso na Netflix
Ano: 2019 |
Título Original: El Hoyo |
Dirigido por: Galder Gaztelu-Urrutia |
Um filme diferente de (quase) tudo que você já viu. Não à toa, O Poço (El Hoyo ou The Platform) é um dos principais sucessos da Netflix em 2020 e vem gerando debates a cerca de sua mensagem e final, movimentando conversas em todas as redes sociais e blogs.
A trama nos apresenta a Goreng (Iván Massagué), um sujeito que acorda em uma espécie de prisão ao lado do velho Trimagasi (Zorion Eguileor). A “prisão” é conhecida como O Poço, um sistema dotado de incontáveis andares com dois habitantes cada, nos quais cada dupla permanece durante um mês e depois são transportados de forma aleatória para andares superiores ou inferiores.
Os prisioneiros do Poço são alimentados por um sistema de elevador, uma plataforma que carrega um banquete e permanece alguns minutos em cada andar. Logo, os habitantes dos primeiros andares possuem o privilégio de se alimentar primeiro, de modo que não resta nada quando a plataforma alcança os andares inferiores do sistema.
Após começar a entender do que realmente se trata o local onde está, Goreng descobre que sua estadia no Poço será a mais perturbadora possível.
O Poço é Terror? Suspense? Drama?
Esta sinopse é suficiente para que o espectador não receba nenhum spoiler do filme e sinta o impacto de seus desdobramentos, que acontecem de forma sucessiva dentro dos certeiros 94 minutos de filme. A principal característica do filme é o fator surpresa e o elemento de enigma presente quase a todo momento.
É até mesmo difícil categorizar O Poço. Embora contenha elementos de terror, suspense e horror psicológico, trata-se de algo realmente experimental, lembrando filmes como Dogville, Cidade dos Sonhos, O Farol com pitadas de Old Boy e, guardadas as devidas proporções, Centopeia Humana.
O que é O Poço, afinal?
O longa dá diversas pistas e, consequentemente, margem para se definir o que é o cenário no qual se norteia todo o filme e o que ele representa. Há indícios de que se possa ser parte de alguma espécie de reality show; uma prisão futurista e minimalista; um experimento social avançado ou, até mesmo, uma alegoria para representar o purgatório – ou ainda, as diversas castas do inferno.
Entretanto, acima das diversas interpretações que se possa ter sobre os desdobramentos do filme e suas mais ricas referências (como os personagens possuírem nomes de pratos e as citações e analogias à Dom Quixote, símbolo literário da cultura espanhola), há claras mensagens a respeito de luta de classes, desigualdade social e mesmo um poderoso simbolismo religioso. Sua premissa, aparentemente tão simples, é capaz de trazer análises longínquas sobre todos esses aspectos.
Chocante, impactante e muito bem dirigido
O Poço não mede esforços para chocar o espectador com violência física e psicológica, além de diversas cenas de caráter escatológico. Tudo, entretanto, com devido contexto e peso à trama que se desenrola, sem que o filme pareça forçar a sensação de agonia e nojo ao espectador simplesmente por estar lá.
Vale destacar a fantástica direção e criação do basco Galder Gaztelu-Urrutia, devidamente agraciado com o Prêmio Goya de Diretor Revelação, e a atuação do pequeno porém talentoso elenco, com destaque para Zorion Eguileor, o qual já deve ter aparecido em alguma de suas timelines de redes sociais com seu incansável mantra.
Por fim, O Poço é um filme único e impactante, uma experiência que parece ganhar ainda mais valor se assistida nesse momento de quarentena. Todo boom sobre o longa é justificado. Se você gosta de obras experimentais, esta é, certamente, uma ótima oportunidade para botar a cabeça pra pensar e debater após assistir.
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