Vivemos, cada um, uma época diferente em nossas infâncias. Não querendo ser o velho chato, mas as crianças de hoje em dia são sortudas: assistem o que querem, a hora que querem. Para muitos de nós, pelo menos adultos, a coisa era diferente. Víamos o que passava na televisão, a hora que a televisão queria transmitir. Com isso, certos desenhos ficam grudados em nossa mente: eles são associados a uma época e um horário específico, seja o café da manhã aos sábados, o horário do almoço antes da escola ou o café da tarde após chegar do colégio. Diversos desenhos foram repetidos mil vezes nessa época e guardamos na memória com carinho, muitos mais pela nostalgia do que qualidade. Mas, revendo Liga da Justiça Sem Limites, garanto a vocês: não é só nostalgia!
O Universo Animado da DC
Apesar de na memória de muitos o nome “Liga da Justiça Sem limites” estar cravado. A história do desenho começa muitos antes, com “Batman: A Série Animada”. Dentro do mesmo universo, chamado de DCAU (DC Animated Universe), temos “Superman: A Série Animada”. Ainda tem o famoso desenho do Super-Choque, do Batman do Futuro e o clássico Projeto Zeta. Porém, foram as séries animadas de Batman e Superman o carro-chefe desse universo, resultando em Liga da Justiça e, posteriormente, a Liga da Justiça Sem Limites. Então, caso você queira revisitar o desenho, pode ser interessante começar com as série solo dos dois heróis.
Batman e Superman, inclusive, possuem uma série em que atuam juntos por um tempo. Há diversos crossovers entre os desenhos do universo, menos Projeto Zeta. Batman do Futuro, inclusive, além de ter nascido nesse universo, ainda tem sua história finalizada em “Epílogo”, episódio final da segunda temporada de Liga da Justiça Sem Limites.
A Primeira Parte
Voltando ao nosso foco que é a animação da Liga, temos a história divida em duas séries diferentes. A primeira é focada na formação composta por Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Mulher-Gavião e Marciano. Temos duas temporadas de 26 episódios cada. Cada história e inimigos duram dois episódios, com algumas exceções de histórias que duram três. O mais interessante dessas histórias é o aproveitamento.
Ao longo de cada história temos diferentes vilões de cada herói, sem focar excessivamente em Superman e Batman. Com destaque para Savage, Gorilla Grodd e Amazo. Temos diversos vilões pequenos recorrentes, mas o principal deles é Lex Luthor, de quem falarei mais a frente. A série consegue eficientemente tratar de todos esses vilões levemente desconhecidos do público geral, criando histórias interessantes e ameaçadores, cada um de sua maneira, com uma continuidade e profundida perfeitas.
Talvez a maior qualidade da obra seja sua maturidade. Trata-se de um desenho, mas que sabe ser leve e sério ao mesmo tempo, com diálogos inteligentes, que além de não subestimarem o telespectador, ainda não busca soluções simples e finais totalmente felizes. Todas essas qualidades são aumentadas em Liga da Justiça Sem Limites, a sequência.
Liga da Justiça Sem Limites
Com uma missão difícil, Liga da Justiça Sem Limites chegou como resultado direto de sua antecessora. Com a invasão Tanagariana, os heróis viram que precisavam se organizar. Assim, a Liga da Justiça passou a ser mais que seus sete membros originais, e agregou dezenas de diferentes heróis menores. LJ: Sem Limites muda sua estrutura para histórias episódicas, ignorando o formato de duas histórias por episódio de sua antecessora. Essa estrutura permite trabalhar diferentes heróis e histórias, evitando narrativas muito cansativas envolvendo personagens desinteressantes. Além disso, é dividida em três temporadas de 13 episódios cada.
Minha maior crítica sobre a série envolve exatamente o pouco aproveitamento que algumas histórias têm, com a limitação de um só episódio, muitas são corridas e o resultado não tem o mesmo impacto da série anterior. Porém, a série segue eficiente na apresentação de seus vilões e heróis e na interação entre eles. A continuidade em relação aos acontecimentos de todas as séries anteriores também é incrível, com os personagens em momento algum sofrendo de amnésia.
O auge
Liga da Justiça Sem Limites trabalha problemáticas muito interessantes envolvendo os heróis. Muito ante dae “Capitão América: Guerra Civil”, a atuação livre dos Super-Heróis já havia sido trabalhada em vídeo por aqui. E, talvez, o auge da série envolve exatamente a mini saga envolvendo o governo perseguindo os membros da Liga da Justiça aos serem manipulados por Lex Luthor. Toda a construção do evento é incrível, com nuances aqui e ali e, apesar da interferência vilanesca de Luthor “resolver” a problemática, a discussão sobre a atuação dos heróis, suas consequências, direitos e deveres não é totalmente ignorada. É um trabalho político raro, interessante e que talvez não tenha uma resposta perfeita e a série entrega exatamente isso.
Podemos citar, também, o ótimo trabalho envolvendo o “ser herói”, suas funções na sociedade e a vividez que isso trás, principalmente através do Arqueiro-Verde. A forma como os vilões retornam, como os heróis atuam, tudo lembra muito os quadrinhos. Se o DCAU continuasse, seria provavelmente o maior universo compartilhado fora das HQs, com uma capacidade incrível de simular o que vemos nos quadrinhos.
O problema
O grande problema, porém, é que a terceira temporada da série tenta trabalhar uma história grande, assim como a primeira. Porém, a construção não é tão bem feita, com vilões repetidos e planos bem esquisitos. Após Amanda Waller protagonizar ótimos momentos como vilã, é bem difícil engolir mais um retorno de Lex Luthor, Grodd e companhia. Em sua última temporada, o desenho peca muito no quesito aproveitamento de seus personagens, apesar de um ou outro desenvolvimento interessante, como a relação conturbada de Shayera e John Stwart, o futuro e o destino.
O constante reaproveitamento de Luthor, o retorno repentino e manjado de Darksaid, além da conclusão corrida, tornam a última temporada de Liga da Justiça Sem Limites bem decepcionante. Temos um final até legal, mas bem abaixo do que a série é capaz de oferecer.
- Onde assistir Re:Zero − Starting Life In Another World?
- Você precisa ler Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias, de Jefferson Costa
- Você precisa jogar Fight’N Rage
- Livros de terror brasileiros: conheça 10 obras contemporâneas imperdíveis
- “Agreste” e a aridez dos desejos interditados
Conclusão Sobre Liga da Justiça Sem Limites
Talvez você tenha medo de ser só nostalgia. Todavia, fique tranquilo, a série animada do maior grupo de heróis dos quadrinhos é muito mais que isso. Com uma história madura, coesa e que sabe ser sútil ao tratar assuntos sérios mesmo sendo um desenho, temos uma das melhores representações do quadrinhos no audiovisual. Há vários episódios memoráveis, vilões e heróis igualmente interessantes e profundos. Ainda que o final não seja tão bom quanto o todo, a experiência vale a pena e é bem diferente (positivamente) daquela que você teve na infância. Uma pena que a DC não chegue perto disso nos cinemas, inspirações não faltaram.
Liga da Justiça Sem Limites pode ser vista na HBO Max.