Tokyo Vice: Quão fiel é a série de TV ao livro?

Tokyo Vice é baseado em um livro que conta uma história verdadeira, mas quão fiel é o programa em retratá-la?

Ansel Elgort protagoniza 'Tokyo vice' (Foto: Divulgação)
Ansel Elgort protagoniza ‘Tokyo vice’ (Foto: Divulgação)

Tokyo Vice: Quão fiel é a série de TV ao livro?

Depois de dois anos desde o desfecho da primeira temporada, Ansel Elgort e Ken Watanabe retornam à tela para adentrar ainda mais os mistérios da Yakuza na tão esperada segunda temporada de Tokyo Vice, disponível no Max. Desde sua estreia em 2022, o show tem sido aclamado, baseado nas memórias do jornalista Jake Adelstein, autor de Tóquio proibida: Uma viagem perigosa pelo submundo japonês, disponível à venda via Amazon. Não é de se admirar que, como muitas adaptações literárias, o programa tenha tomado algumas liberdades criativas para contar sua narrativa.

Embora Tokyo Vice se esforce para retratar fielmente o fervor jornalístico de Adelstein e a crueldade das operações da Yakuza, é importante notar que muitos elementos da história são ficcionais ou foram alterados para criar um drama policial mais envolvente e coeso. Para aqueles que não estão familiarizados com o material original, pode ser surpreendente o quanto a trama diverge da realidade. No entanto, mesmo com essas adaptações, o programa ainda é inspirado em eventos reais, o que levanta a questão: até que ponto ele permanecerá fiel à sua fonte de inspiração com a chegada da segunda temporada?

Qual é a história de Tokyo Vice?

Tokyo Vice

Assim como no livro de Adelstein, Tokyo Vice segue de perto a jornada do autor americano enquanto ele se torna o primeiro repórter estrangeiro de um dos maiores e mais influentes jornais do Japão. Enquanto enfrenta conflitos com seu editor, suas fontes e até mesmo telefonemas de culpa vindos de sua família, ele se vê envolvido em uma série de reviravoltas em suas investigações. Colocado sob a proteção de um detetive do esquadrão de vice, ele se aventura cada vez mais fundo no intrincado e perigoso funcionamento interno da Yakuza, a máfia japonesa, em busca da próxima grande história. Contudo, esse mergulho nas profundezas do submundo criminoso não vem sem riscos, colocando em perigo não só sua própria segurança, mas também a daqueles ao seu redor.

No livro, Adelstein relata diversos casos que investigou e reportou durante sua estadia no jornal, abordando temas que variam desde agiotagem até o assassinato de uma jovem britânica, passando por chantagem e até mesmo tráfico de pessoas, todos direta ou indiretamente conectados ao mundo da Yakuza. A série se inspira fortemente em muitos desses elementos, porém, os fãs que esperavam uma recriação meticulosa dos eventos reais podem se sentir desapontados com a abordagem da série. Apesar de acertar em algumas áreas, as diferenças significativas em relação ao livro são bastante evidentes e numerosas.

Talvez, a grande questão seja: a série se baseou muito fortemente na parte III do livro, principalmente no capítulo O Império Do Tráfico de Pessoas. Além disso, há um comentário sobre o personagem Tozawa, que será falado nos próximos tópicos. Sim, o livro Tóquio proibida: Uma viagem perigosa pelo submundo japonês é dividido em três partes, com a primeira tendo sido extremamente resumida na série da HBO. Pense bem. Os jornais mais importantes de Tokyo empregariam tão facilmente um jornalista estrangeiro sem nenhuma experiência? Na real, o jornalista Jake Adelstein investigou indiretamente os mafiosos japoneses por muito tempo enquanto trabalhava no jornal de outra cidade, e só depois de anos de experiência que foi para um jornal de Tokyo.

Tokyo Vice é mais vagamente inspirado no livro do que em uma adaptação real

Tokyo Vice

Por favor, não pensem que quero chegar aqui e falar mal da série. Sem zoeira alguma? Tokyo Vice é uma das minhas séries favoritas da atualidade, mas ainda assim precisamos refletir as diferenças da série da Max com o livro – mesmo que eu recomende fortemente as duas obras. Aliás, podemos começar dizendo que existe uma distinção crucial entre uma obra de mídia que é “baseada” em uma história verdadeira e outra que é simplesmente “inspirada” nela.

Ao contrário das típicas adaptações hollywoodianas, Tokyo Vice captura apenas a essência fundamental do livro e a utiliza para tecer uma narrativa praticamente distinta. Desde o início, o criador do programa, J.T. Rogers, foi transparente sobre essa abordagem, admitindo ao New York Times que o show não se trata de uma biografia ou documentário, mas sim de uma ficção inspirada em eventos reais. Apesar de se desviar do material original, Jake Adelstein, o próprio autor do livro, endossou as liberdades criativas da série ao atuar como produtor executivo.

Enquanto Adelstein pode ser considerado a única representação genuína de uma pessoa real no programa, a interpretação de Ansel Elgort captura sua essência, embora com nuances que permitem aos roteiristas desenvolver uma trama mais cativante ao redor dele. Aliás, se a gente vê as fotografias do jornalista Adelstein e vê a atuação de Ansel Elgort, é divertido notar o tanto que eles se parecem. Ansel Elgort foi uma excelente escolha para a produção.

Já Hiroto Katagiri, interpretado por Ken Watanabe, também se baseia em uma figura real, Chikai Sekiguchi, o detetive que serviu como mentor para Adelstein. Personagens como Emi Maruyami (interpretada por Rinko Kikuchi), a supervisora de Adelstein no Meicho Shimbun, são criações compostas inspiradas em colegas de trabalho com quem Adelstein colaborou. Outros, como Samantha, uma expatriada americana e ex-mórmon, ou Polina, uma colega de trabalho, são fictícios, embora sejam influenciados por pessoas reais encontradas durante as investigações de Adelstein. Por sinal, creio que uma das inspirações para as duas personagens seja uma grande amiga de Adelstein, que o ajudou em algumas investigações, mas que simplesmente desapareceu. No livro, ele conta que prefere acreditar que esta amiga tenha ido seguir seu sonho de comprar uma casa na Austrália, embora no fundo ele saiba que essa amiga foi vítima dos yakuzas. O jornalista dedica muitos agradecimentos à ela.

O programa consegue retratar de forma precisa a Yakuza, suas práticas e a vida de seus membros, mas também mergulha consideravelmente na ficção, com personagens como os chefes Tozawa e Ishida, que são baseados em figuras reais mencionadas no livro, mas com suas próprias nuances fictícias. Nomes de empresas, clãs Yakuza e até mesmo o jornal que emprega Jake foram alterados para a série. Embora se baseie em eventos e locais reais para alimentar sua narrativa, há elementos em Tokyo Vice que se afastam tanto do espírito do livro que praticamente se tornam fantasia, desde as cenas de luta da Yakuza até tramas românticas entre personagens. Por exemplo, a relação entre Jake e Misaki (a amante de Tozawa), que está sendo explorada na segunda temporada, não existe no livro.

O que Tokyo Vice acerta sobre o livro?

Tokyo Vice

Mesmo com a admiração aberta do showrunner pela natureza ficcional da série, Tokyo Vice ainda consegue retratar alguns aspectos do livro com uma precisão notável, mesmo que parcial. Por exemplo, a cena de abertura do primeiro episódio, um vislumbre do futuro em que a vida de Jake e sua família nos Estados Unidos são diretamente ameaçadas por membros da Yakuza, ecoa fortemente o prelúdio do livro. Embora não haja outras cenas que correspondam tão de perto a eventos específicos do livro, há momentos que se aproximam bastante. A vida profissional de Jake e seu frenesi jornalístico, por exemplo, são em muitos aspectos semelhantes à narrativa do livro, desde os episódios de antissemitismo enfrentados por ele até suas incursões disfarçadas para obter acesso privilegiado a fontes cruciais.

Os principais chefes da Yakuza apresentados na série, Tozawa e Ishida, são personagens fictícios que lideram clãs igualmente fictícios, mas o primeiro claramente se inspira em Tadamasa Goto, uma figura proeminente mencionada por Adelstein no livro. Sua suposta ligação com operações de agiotagem também é incorporada à trama da série. Além disso, é possível fazer comparações entre o desaparecimento e subsequente revelação do assassinato de Polina no final da primeira temporada e o desaparecimento e assassinato na vida real de Helena, uma anfitriã de clube, com quem o verdadeiro Adelstein tinha familiaridade. Helena é a mesma amiga que desapareceu e que citei anteriormente, a quem o jornalista tem sua eterna gratidão – junto a uma culpa por seu desaparecimento. Essas nuances acrescentam camadas intrigantes à narrativa, fundindo elementos fictícios com acontecimentos reais de forma convincente.

É importante reconhecer que nem tudo que funciona em um livro se traduz da mesma forma para o cinema ou televisão. Tokyo Vice parece estar ciente disso, pois uma adaptação direta da estrutura do livro, com um caso ou história para cada capítulo, provavelmente não fluiria tão bem na tela. Em termos de fidelidade à fonte original, o programa se distancia consideravelmente. No entanto, as mudanças e liberdades criativas que ele adota em cada episódio acabam funcionando de maneira eficaz. Espera-se que futuras continuações continuem a explorar e expandir essas abordagens, aproveitando ao máximo as oportunidades que oferecem para contar uma história envolvente e cativante. Eu mesma espero, pois estou amando a série até o momento – e foi graças a série da HBO que comprei o livro Tóquio proibida: Uma viagem perigosa pelo submundo japonês.

Trailer oficial

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Austra Caroline
Come to the Dark Side. We have coffee with cookies! ☕ Sou Arqueóloga e estudante de História, com atuação como Educadora Patrimonial, onde busco preservar e compartilhar o valor do nosso patrimônio cultural. Além disso, sou redatora em sites voltados para conteúdo nerd, Geek e cultura pop, sempre explorando o universo da cultura geek com entusiasmo. Sou apaixonada por jogos de Hack & Slash, com destaque especial para a série Devil May Cry, que alimenta minha paixão pelo gênero. Nas horas vagas, também me dedico à escrita, onde expresso minha criatividade e amor pela narrativa.

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