Bulldogma – Resenha da HQ de Wagner Willian
Folhear as primeiras páginas de Bulldogma é ser imediatamente capturado por uma obra, no mínimo, incomum. Ainda mais se você, assim como eu, estiver com a mente aberta e pronto para mergulhar de cabeça em uma estória repleta de artifícios visuais e de roteiro que irão lhe capturar em uma questão de quadros.
Quem assina a obra é Wagner Willian, talentoso e consagrado quadrinista potiguar vencedor dos prêmios Jabuti e HQMix – conquistado com Bulldogma -, e lançado pela editora Veneta, um dos principais publishers de obras nacionais de caráter não-mainstrean no país (e com uma mão incrivelmente assertiva em seus lançamentos).
Bulldogma nos apresenta a ilustradora Deisy Mantovani, uma jovem paulistana que, como uma grande parcela dos profissionais de sua classe, se encontra em um dilema profissional após uma longa jornada de exploração profissional por parte da agência onde trabalhava.
Enquanto busca um novo rumo para sua carreira – apostando em trabalhos autorais, enquanto se banca, no sufoco, como freelancer – Deisy muda-se para um apartamento em uma região conhecida por ser rica em silício (e com fama de atrair a atenção de seres extraterrestres). Enquanto somos inseridos na rotina corriqueira e sofrida da ilustradora – que tenta remendar não só sua vida profissional, mas também pessoal, vinda de um término de namoro mal resolvido -, fatos e situações estranhas começam a rodear os passos da garota, adicionando uma porção cada vez maior de mistério a uma narrativa que parece a mais mundana possível.
E é nesta narrativa aparentemente descompromissada, recheada de diálogos que ouvimos aqui e acolá – especialmente se você trabalha em São Paulo e conhece ou trabalhou com publicitários e designers – que mora o segredo e grande trunfo de Bulldogma. Enquanto vamos conhecendo Deisy, seus amigos, amores, dramas e aflições, e claro, o apaixonante buldogue francês Lino, os mistérios começam a pingar lá e cá, entre um quadro e outro, uma página e outra – entre um olhar desconfiado de Deisy, que pode ou não significar algo.
Wagner Willian faz da construção dos quadros uma tela única para pintar, com os artifícios que só a nona arte oferece, uma trama sólida e, ao mesmo tempo, fluída – que nos confunde o tempo todo, mas não nos deixa desgrudar os olhos. O belo traço é acompanhado de diversas quebras de quadro e textos que remetem aos grandes letreiros presentes na metrópole paulistana e tão gráficos na publicidade – alusões diretas a ocupação da protagonista.
Os textos e elementos presentes não cansam de fazer referências quase a todo momento, algumas delas bastante explícitas, outras presentes em pequenos detalhes nos quadros. Outras, mesmo, o próprio autor faz questão de denotar no rodapé das páginas. Fato é que Bulldogma é um prato cheio de boas referências para nerds de todos os tipos – de seriados geek, gamers, sci-fi a cinéfilos e musicistas dos mais requintados.
Além da trama insinuante e envolvente, Wagner consegue desenvolver muito bem sua protagonista, uma personagem tão humana e palpável que se conecta de modo muito natural ao leitor. A abordagem intimista funciona bem e melhora a cada página – páginas estas, aliás, que são verdadeiras obras de arte.
Uma HQ capaz de encantar e desgraçar sua cabeça. Abra sua mente, permita-se sentir e ler Bulldogma. Te garanto que é impossível ficar indiferente a este quadrinho. A obra pode ser adquirida no site da Editora Veneta.
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