Ainda que o resultado da terceira abordagem do Homem-Aranha de Sam Raimi não seja lá uma obra prima, o resultado financeiro parecia garantir a continuidade da franquia. Porém,a Sony – talvez vendo o sucesso da Marvel – decidiu não dar continuidade e rebootar o personagem. Com isso, Andrew Garfield assumiu o papel de Peter Parker e a história do aracnídeo foi recontada. O resultado disso? Falaremos sobre ao dissecar ‘O Espetacular Homem-Aranha’, assim como fizemos com a trilogia de Tobey Maguire.
O Espetacular Homem-Aranha
Lançado apenas cinco anos depois de Homem-Aranha 3, o reboot da franquia tinha a ingrata missão de substituir algo que foi cancelado enquanto ainda era amado pelo público. Assim, se esperava que fosse evitado qualquer coisa que gerasse comparações ao original. Temos um Peter bem diferente daquele de Tobey, Gwen Stacy, ao invés de Mary Jane e a ausência de Harry. O grande problema é: estes são detalhes perto de todos os elementos que o filme aborda e são os únicos diferentes.
O filme falha em ser diferente o suficiente de seus anteriores, ainda que em determinados momentos mostre claramente que tem medo de ser parecido. Andrew Garfield, diferente de Tobey Maguire, entrega uma boa atuação na maior parte do filme. Todavia, em um dos momentos mais importantes – a morte do Tio Ben -, o ator entrega algo bisonho, que me fez repensar minhas críticas a Tobey na morte de seu Tio Ben.
Ignorando esta cena, o protagonista entrega um Espetacular Homem-Aranha! Pelo menos no que cabe ao ator fazer. Além disso, a presença de Emma Stone e sua incrível Gwen Stacy valem o filme como um todo. Talvez Webb tenha ficado com medo – mais uma vez – de repetir todo drama criado por Raimi na relação do protagonista na trilogia original, o que o faz pular um pouco toda a construção do casal desta vez.
Correria
O pular construção, aliás, se extende a todos os elementos do filme. Nada dura o suficiente no longa, com a criação do Homem-Aranha como herói sendo a grande falha em comparação a trilogia original. Além disso, o filme introduz elementos que abandona de repente. A casa vazia de Curt Connors e o laboratório sempre vazio da Oscorp dão a impressão de que o cientista é só uma alucinação de Peter. Mal construído, apesar da boa atuação, o Lagarto não tem estofo para carregar a vilania do filme, o que naturalmente prejudica o protagonista e todas as suas atuações por consequência. A relação de Peter e Gwen é salva pela absurda química entre Andrew e Emma, que basicamente cria um ‘atalho’ para o espectador e reduz a sensação de correria do roteiro.
Mas é óbvio que nem tudo é ruim. Como já mencionei antes, o Homem-Aranha de Andrew é incrível. Para começar, vemos o herói por mais tempo com sua máscara, em momentos de salvamento comum, com um senso de humor e trejeitos perfeitos. Além disso, o visual do personagem também está ótimo, com uma pequena crítica ao excesso de cenas escuras, que camuflam o amigão da vizinhança, dando um ar mais melancólico ao personagem – destoando do ótimo texto que Andrew recebe. Visualmente o Lagarto é ruim, o que combina também com sua motivação e tudo que envolve o vilão – incapaz de se sustentar sozinho. Aliás, que plano ridículo foi aquele? Jesus!
O Espetacular Homem-Aranha: A Ameaça de Electro
Apesar de a falta de qualidade desta sequência ter sido um dos ganchos para a decisão de levar o Homem-Aranha para o MCU – não foi o único motivo, que fique bem claro. -, não considero o filme tão ruim. Particularmente, inclusive, acho ‘A Ameaça de Electro’ melhor que o primeiro. A primeira coisa e mais obvia é a não necessidade de apresentar o herói, já estabelecido – de maneira ruim, aliás – no primeiro filme. Com isso, há uma liberdade maior para trabalhar as sub-tramas introduzidas no primeiro.
Este tempo, porém, é bastante atrapalhado pelas novas sub-tramas do segundo, que, assim como no primeiro, não são exploradas em sua totalidade. Pegue, por exemplo, a parte que envolve os pais de Peter: novamente não há uma conclusão, ou mesmo uma grande relevância de tudo isso. No fim, é só uma passagem, um pedaço do primeiro que faltou contar o resto e que foi completado no segundo, como um capítulo de um livro que invade o outro.
Além disso, o filme ainda cita coisas que fizeram sucesso na trilogia original com certa vergonha, mantendo o medo das comparações. Outra característica que se mantem é a qualidade dos efeitos, ainda que aqui eles atinjam niveis mais cartunescos – até pelos poderes do vilão, difíceis de adaptar. Há cenas estranhas envolvendo o Aranha, que ganha planos mais abertos e menos cortes, como se o diretor perdesse o medo do personagem ficar estranho em batalha. As cenas que o envolvem lembram muito os desenhos do personagem – o que é ótimo.
Mais uma vez, que química!
A relação de Peter e Gwen é incrivelmente bem abordada, novamente, com dramas óbvios, mas bem trabalhados. A morte da personagem é impactante – a mãozinha na teia, no entanto, é bizarra. Andrew manda bem aqui, diferente da morte do Tio Ben no primeiro. Além do casal principal, todo o elenco manda bem – atuação não é o problema dessa franquia e sim direção. Menção honrosa a Sally Field e sua incrível Tia May, que fica um pouco sem função na metade do filme – assim como diversos plots.
Apesar de criticado, talvez pela aparência, o Harry Osborn de o Espetacular Homem-Aranha é melhor – em todos os sentidos – do que o da trilogia original. Suas motivações são mais aceitáveis para se tornar o Duende Verde. O que estraga o personagem é ser mais uma introdução em um filme já inchado de personagens e sub-tramas mal concluídas. Não atoa, o personagem acaba sendo mais uma delas e o roteiro o entrega uma transformação rápida no vilão, assim como sua aparição repentina – e derrota também.
Já a franquia
A ideia destes textos sobre as franquias é fazer comparações. Eu as evitei ao máximo durante as analises individuais, mas vou ser um pouco mais específico aqui. O Espetacular Homem-Aranha e sua sequência, como filmes, são bem piores que a trilogia original. Porém, há elementos que o tornam menos pior, como o Aranha de Andrew – não o Peter, o Aranha -, a Gwen de Emma ; os efeitos especiais incríveis e as cenas que beiram animações clássicas do personagem.
Os filmes sofrem, no entanto, de uma falta de identidade no primeiro, e em ambos pelo medo das comparações – inevitáveis – com a trilogia original. Com isso, temos tentativas de novas sub-tramas que nunca vão pra frente de maneira satisfatória e como resultado a única trama bem trabalhada entre os dois filmes é o relacionamento do protagonista – outra coisa que o filme é melhor que a trilogia original.
Entregando um Homem-Aranha mais satisfatório, Marc Webb peca em outros pontos. Os filmes são covardes e um pouco perdidos. Uma pena, pois com um grande roteiro, Andrew poderia facilmente ter entregado o melhor Aranha das telonas. Um bom personagem, uma boa química com seu par romântico e eu diria que um clima mais pesado interessante em alguns momentos, mas vilões e tramas esquecíveis, incompletas e menos interessantes. Esse é o Espetacular Homem-Aranha de Andrew Garfield e Marc Webb!