Eai galera, vou trazer aqui pra vocês uma Entrevista com o dublador Rex Nunes.
Rex, ou Reginaldo, nos concedeu essa entrevista super divertida sobre como é ser um dublador. Temas como pandemia, dublagem de games, e como ele se tornou dublador são umas das perguntas que fizemos para ele.
Confira abaixo a Entrevista com o dublador Rex Nunes, aproveitem e já sigam ele no Instagram.
1 – Quando rolou um estalo para ti, “hmm quero ser dublador!”?
Ihhhhh essa é antiga hein, sempre cito isso, porque realmente foi onde me deu um click “Quero fazer isso”. Foi ali em 94/95 com o BOOM dos Cavaleiros do Zodíaco, e X-men a serie animada. Aliás, achava as vozes diferenciadas, dos cavaleiros, e ficava tentando imitar o Wolverine, coisa de moleque doido.
Mas não tinha a menor noção do que seria um Dublador, apesar de saber que queria aquilo na minha vida.
2 – Você precisou fazer algum curso, algum acompanhamento fonoaudiólogo ou qualquer outra coisa fora o ordinário?
Sim, precisei me especializar como ator, fazer um curso capacitado, por mais que minha paixão tenha começado na infância, demorei muitos anos pra entrar no mundo da dublagem. Além do curso de artes cênicas, como era muito focado em dublagem… meu primeiro contato com o mundo da Dublagem foi um Curso de Introdução a Dublagem que Fiz no Senac Scipião na Lapa em 2007.
Lá no Senac, conheci o Silvio Giraldi (Daryl Dixon do The Walking Dead) e a partir dali comecei a entender mais sobre o assunto.
Sobre Fono, fui poucas vezes, mas é importantíssimo um acompanhamento, pra você conhecer e ter um entendimento da nossa voz. Como manuseá-la, encontrar um tom, cuidar das cordas vocais e por ai vai.
3 – Dubladores tem exercícios vocais? alguma rotina que devem seguir para garantir a saúde da voz?
Cara… muitos sim e muitos não. To na turma do não (Mó relaxo né? heheh) mas tem sim, exercícios simples e bacanas de se fazer no dia-a-dia, pra melhorar a dicção. Por exemplo, colocar uma rolha (de vinho) na boca e fazer leituras de jornais ou livros em voz alta, funciona com uma caneta também, só colocar ela na boca na horizontal e fazer o mesmo processo. Além disso, tem dubladores que não tomam gelado antes de gravações, não comem pra não dar mais saliva, mas ai vem de cada um.
4 – Como foi a primeira dublagem? Qual o personagem e como foi a seleção?
Minha primeira dublagem profissional foi no Estúdio Clone com a queridíssima Nair Silva (Nos deixou no ano de 2020, infelizmente), minha Mãedrinha na dublagem como costumo falar, se não fosse essa senhora, eu não estaria realizando meu sonho, só gratidão.
Assim como eu, a Nair colocou MUITOS Dubladores que admiramos no mercado. Em novembro de 2009 estava estagiando com ela, ali dentro do estúdio, e chegou um filme chamado Distúrbio (Tormented), terrorzinho teen, e já fazia um tempo que estava estagiando com ela, ai tinha um personagem chamado Tim (Hugh Mitchell), acho que ele tinha 3 falas, ela olhou pra mim e falou, “Vai fazer esse menino” e eu meio assustado, não estava acreditando, fui lá e dublei.
Depois ela me colocou em mais pontinhas (“pontas” é um termo usado na dublagem pra fazer mais de um personagem que tenha uma fala, ou uma reação seja grito, choro, risada).
5 – Tem algum personagem que você guarda um apreço especial? Qual e o porque?
A gente sempre tem né, mais de um… tipo filho, que a gente tem um cuidado, um carinho especial.
Mas nesses 12 anos de dublagem, meu xodó (até recente) surgiu em 2019, passei em um teste de Power Rangers pra emprestar a voz pro Ravi, o Ranger Azul (Jazz Baduwalia), em Power Ranger Beast Morphers (Morfagem Feroz). Foram 2 anos gravando ele, então o apreço é enorme… e pela franquia também, você assistir quando criança, admirar, brincar de ser um Power Ranger e no futuro você ser a voz de um deles…. não tem preço.
6 – O mercado de dublagem é muito concorrido? Pois costumo ver alguns casos de dubladores pegarem mais de um papel em uma mesma animação ou game, então não sei se faltam dubladores ou se vale a pena em termos financeiros fazer mais de um personagem em uma mesma “dublada”?
É um mercado que cresceu muito nos ultimos anos, apesar de ter muita gente, ele não é concorrido, é o lance de voz pra determinada coisa,claro que o talento… te abre mais portas… mas não vejo como concorrido, apesar de ter muita gente, poucas seguem na caminhada, tem pessoas que dublam e fazem outras coisas pra se manter, o mercado é dificil no sentido de se manter SÓ nele, falando financeiramente.Sobre pegar mais de “um papel”, pelo nosso acordo hoje em dia um Dublador pode ser escalado pra fazer 4 DOBRAS na mesma produção que totalizem 20 anéis.essas dobras são as famosas PONTAS, que expliquei em uma pergunta ai em cima, sobre personagem que tenham poucas falas, ou reações.
7 – Acima eu citei que acho mais fácil ver animações dubladas que séries e filmes, e isso se dá pela ótica de encaixe das frases nos diálogos dos personagens, existe mesmo essa dificuldade de encaixar as falas em pessoas ou é coisa da minha cabeça?
Animações a gente acaba brincando mais, tem um lado mais exagerado na interpretação e tudo mais, em séries e filmes a gente não tem essa liberdade, dublagem nada mais é do que copiar, então quando vamos dublar um ator, você esta copiando EXATAMENTE a interpretação dele. Claro que tem algumas questões ai, vamos falar do Inglês que é a grande demanda de produções, a sonoridade tem muita palavra que não bate com a nossa língua, então por mais que esteja traduzido, não quer dizer que vai caber na boca do personagem, então temos que adaptar a palavra ou frase sem perder o contexto, e deixar o mais natural possível.
Dublar reality show, por exemplo, é muito difícil, a grande maioria deles não são atores, são pessoas normais como eu e você, que estão sendo simplesmente eles, não tem uma atuação, então imagina você dublar uma pessoa, que fala arrastado, no meio da frase corre, cola pausas onde normalmente um ator não faria, tem aquelas boquinhas falsas, que eles estão pensando pra falar no meio da frase, então isso sim é uma dificuldade, mas com o tempo a gente vai desenvolvendo métodos pra pegar esses macetes com facilidade.
8 – Sobre Games, como é dublar algo que você não tem “acesso”, pelo menos ouvi de outros dubladores que eles recebem o roteiro + sentimento e o restante é todo trabalho do dublador, como é lidar com essa pressão?
É pra você ver como a gente sofre… heheheh brincadeira, por isso a importância do ATOR, cara no dia-a-dia você não sabe o que vai dublar, se será um médico, um bandido, um demônio, um gago, você chega no estúdio e o diretor te passa um feedback do que você vai fazer, e vamos pra cima. Games cresceu muito também em relação a dublagem, e localizar um game (termo correto) é totalmente diferente de dublagem convencional, que você está vendo ali na tela a expressão do ator, ou da animação.
No game só existe a WAV (arquivo de áudio). Então na tela só tem a wav, você escuta no original e grava em português exatamente do mesmo tamanho que do áudio original. Claro que o diretor já sabe a história, então ele vai te passando o que é aquela cena, tipo: Rex aqui ele está mais apreensivo, e me explica o porque. Então vai fluindo, normalmente quando localizamos Games, sempre tem alguém do projeto que está ali pra colaborar com o diretor de dublagem, como pronuncias e até mesmo isso que te falei, sobre o que está acontecendo na cena.
9 – Falando em pressão, como é a pressão em estúdio? Os trabalhos geralmente tem um deadline okay ou é pura emoção?
Heeheheh é pura emoção… mas gente acaba acostumando, hoje na dublagem tudo é muito rápido né. É tudo pra ontem, tem horários, prazos de entrega, então muitas vezes a gente já entra alucinado pra trabalhar, fora as escalas do dia-a-dia, que você tem que se locomover de um estúdio pra outro em um prazo curto de tempo.
10- Quais foram seus últimos trabalhos em animes e games?
Cara sou a pior pessoa pra lembrar as coisas ultimamente, mas vamos lá…de animes fiz Tokyo Ghoul, Capitão Tsubasa, participei de Attack On Titan, My Hero Academia, Claymore e participei de um muito legal, mas não posso mencionar ate sair. =(
Games, gravei CoD: Modern Warfare, CoD: Black Ops Cold War, Tony Hawk, Assassins: Creed Valhalla, World of Warcraft, e tem mais 2 que também não posso compartilhar com vocês ate serem lançados… PERDÃO.
Minha primeira dublagem profissional foi no Estúdio Clone com a queridíssima Nair Silva, minha mãedrinha na dublagem!
Rex Nunes, sobre trabalhar com a famosa Nair Silva
11- Como tem sido a preparação dos estúdios para receber os dubladores em tempo de pandemia?
O começo da pandemia foram tempos difíceis, era tudo muito assustador, incerto, medos, discussões na nossa categoria sobre o que seria feito. E ai veio o HS (Home Studio) então tem muita gente que grava de casa até hoje, por conta da idade, medo… mas respeitamos. Cada um sabe o que é melhor pra si. E quem gravava pessoalmente, que é meu caso, todos os estúdios que frequento, protocolo ferrado, muito rígido…higienização do estúdio, toucas, proteção nos calçados, álcool em gel, medir temperatura, responder formulários. Um protocolo de segurança mesmo, mas como eu disse, a escolha vem de pessoa pra pessoa.
12 – Por fim quero saber como é a emoção de se ouvir, de jogar algum game e ter sua estampa ali?
Hoje em dia acho normal… odiava me ouvir em qualquer coisa dublada, achava estranho, hoje já escuto acho “da hora”, dou risada, tem coisas que nem lembro… e do nada me escuto fico feliz de ter participado da produção.
Se achar interessante, mande um recado para o público do Meta Galáxia que está lendo sua entrevista.
Queria agradecer vocês do Meta Galáxia, pelo convite para essa entrevista com vocês, MUITO OBRIGADO pelo carinho e pela força. Pra toda galera que acompanhou nosso bate-papo, muito obrigado por consumirem conteúdo dublado, por pesquisarem, conversarem, isso faz toda diferença pra gente, pra querer dar o melhor e entregar um trabalho bem feito pra vocês. Tamo junto Galera!!!
Essa foi a nossa entrevista com o dublador Rex Nunes, espero que tenham gostado! Aguardem por mais entrevistas aqui no Meta Galáxia, e aproveitem para seguir nosso Instagram e nosso Twitter.