A Canção de Roland – Resenha da HQ canadense publicada pela editora Comix Zone!
Ano Publicação Original: 2009 | Publicação Brasil: 2019 |
Título Original: Paul à Québec |
Roteiro e Arte: Michel Rabagliati |
Editora: Comix Zone! |
Um petardo dos quadrinhos. A Canção de Roland, tradução (coerente) de Paul à Québec, é um quadrinho canadense, parte de uma série de graphic novels que tem como protagonista o personagem homônimo e sua família.
O título foi a primeira aposta da ainda jovem editora Comix Zone!, que nasceu da união de Thiago Ferreira, youtuber que comanda o canal de mesmo nome, e do quadrinista, romancista e empresário Ferréz (Capão Pecado, Os Ricos Também Morrem). Thiago, que mora no Canadá, apostou todas as suas fichas no título que possui grande prestígio no país, mas ainda inédito no Brasil. E ainda bem que o fez.
A Canção de Roland – que possui caráter semi autobiográfico – tem início com a viagem de Paul, o ilustrador e protagonista, e sua família rumo a casa de seus sogros, Roland e Lisette, no Quebec, em um rito comum de reunião dos familiares – as filhas de Roland e seus maridos e filhos. A família aproveita bastante o tempo em conjunto, com os altos e baixos que uma viagem em família com muita gente consegue proporcionar.
Ao término da visita, Paul, sua esposa Lucie e a filha Rose passam por um processo de mudança residencial, indo para o subúrbio. Enquanto tentam se adaptar e, sobretudo, fazer com que a filha sinta o mínimo possível o lado negativo da mudança, Lucie e Paul recebem a notícia de que Roland está com uma doença grave, fato este que leva a família a se unir mais do que nunca.
Família: nas horas boas e ruins
A Canção de Roland gira em torno de diversos microtemas mas, sobretudo, orbita em torno da família e de tudo que ela pode representar. A família de Roland é enorme (eu, que também tenho uma assim, me identifiquei com diversos momentos da HQ), e reuni-la é, ao mesmo tempo, um grande desafio e um grande prazer.
Há ritos e momentos simbólicos, como o carteado e os jogos de palavras cruzadas, que se tornam uma marca e um momento de confraternização única para os personagens. Diversos detalhes como esse são pontuados ao longo da trama e que, conforme ela avança, vão ganhando ainda mais significado e sensibilidade.
Também é muito perceptível a diferença de atmosfera com o andar da história: um começo mais cômico e simbólico, uma virada com fatos que elevam a tensão dos personagens, flashbacks que mostram visões diferentes do passado das gerações da família e uma reta final muito intensa e emotiva. Uma narrativa que mostra a presença da família nos momentos bons ou ruins, com suas virtudes e defeitos, mas que perdura para toda vida.
A política em A Canção de Roland
Um dos panos de fundo da HQ e um ponto interessante quanto à postura de alguns personagens é a ambientação no Quebec, única província canadense de maioria francófona onde, inclusive, o francês é considerado o único idioma oficial.
O Quebec é o epicentro de um longo entrave político quanto a emancipação dos canadenses de origem francesa dos territórios de maioria britânica – história que ganhou maiores contornos no século XX. Da criação de partidos a revoluções de cunho não letal, o Quebec muitas vezes se aproximou da separação quanto ao Canadá: em 1995, um referendo determinou a não soberania por uma diferença de apenas 1%.
O quadrinho, ambientado entre 1999 e 2001, mostra como essa pauta ainda estava em grande voga na época (na verdade, está ainda hoje), de modo que a família de Roland se mostra entusiasta da soberania – ao contrário de seu patriarca. Isso se justifica quando, posteriormente, conhecemos o passado de Roland e tudo que viveu em sua infância e juventude.
Tão completo, tão simples
A grande experiência de ler A Canção de Roland é estar diante de uma leitura incrivelmente simples, mas perfeitamente rebuscada, tanto no que diz respeito aos traços quanto a narrativa em si. Não é preciso fazer qualquer esforço para enxergar entrelinhas; elas são visíveis e te guiam de modo confortável página a página.
Rabagliati, cartunista que tem como grande inspiração os quadrinhos franco-belgas de Hergé e companhia, coloca em prática uma estória que possui o dinamismo das tiras, mas perfeitamente rica na construção de seus personagens e no desenho de seu objetivo final: contar a vida como ela é.
Prepare-se para uma montanha-russa de emoções. Aperte os cintos, mas não muito, pois A Canção de Roland é uma viagem prazerosa e doce. Uma viagem sobre vida, morte, luto, companheirismo e, sobretudo, amor.
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