Jeremias: Alma (Graphic MSP) – Resenha

Ainda mais tocante, Jeremias: Alma se aprofunda no protagonista e em suas raízes

Ano Publicação Original: 2020
Título Original: Jeremias: Alma
Roteiro: Rafael Calça Arte: Jefferson Costa
Editora: Panini/MSP

Se Rafael Calça e Jefferson Costa já nos surpreenderam e cativaram em Jeremias: Pele, em sua continuação, Jeremias: Alma, os autores só consolidam o excelente trabalho e narrativa que iniciaram na primeira HQ, com uma graphic novel ainda mais arrebatadora que a sua antecessora.

Na segunda graphic estrelando Jeremias, temos uma sequência direta da HQ lançada em 2018 pela mesma dupla. Carregando o peso de continuar a estória de uma HQ ganhadora do Prêmio Jabuti, Calça e Costa não fazem feio – pelo contrário.

Jeremias: Alma

Em Jeremias: Alma, acompanhamos agora a narrativa do garoto em busca de suas origens. Encontramos um protagonista muito mais confiante e sorridente, com novos amigos, em especial Franjinha – que tem bastante destaque aqui, assim como Titi, Aninha e outros personagens do grupo – mas que desperta curiosidade por saber mais sobre seus antepassados.

Após buscar por respostas com seus pais e avós, Jeremias e sua família descobrem que sabem muito pouco sobre si. Ao contrário da maior parcela da população branca, como o próprio Franjinha, que visita a Itália para ir à terra de seus antepassados, pessoas negras como Jeremias, seus pais e seus avós não encontram rastros do real passado de seus ancestrais, que tiveram sua história obliterada pela escravidão no Brasil e em outros lugares do mundo.

Sobre ancestralidade e a importância de se contar histórias

Jeremias: Alma

Jeremias: Alma tem diversos ganchos com a primeira HQ, e utiliza-se de um deles, a já revelada vontade de Jeremias de se tornar um contador de histórias, aspirando a quadrinista, para colocá-lo no rastro de sua própria origem. O racismo é mais uma vez pano de fundo da trama, mas faz ponte aqui para mostrar seu impacto naquele que é o ponto central da trama e seus desdobramentos: a ancestralidade e a importância de se transmitir a história para as futuras gerações.

Como dito acima, a escravidão deixou estragos irremediáveis na história. É mais que comum no Brasil que negros não saibam de onde seus bisavós, tataravós e demais ancestrais vieram antes de serem escravizados. A sociedade fez questão de apagar seus rastros e negar, aos seus sucessores, o direito ao conhecimento de suas próprias raízes.

Jeremias: Alma

Calça e Costa, com muita sabedoria e habilidade, nos mergulham na tradição do contar histórias, originada nas sociedades africanas, e sendo este o modo de resgate da história de seus descendentes. Os autores trazem uma série de referências à ancestralidade africana e seus símbolos, bem como a grandes ícones negros e sua importância para a sociedade. É através dela, do entendimento da ancestralidade, que Jeremias fortalece sua conexão com os pais e avós.

A HQ também se aprofunda nas origens dos pais de Jeremias, mostrando situações que impactaram em seu desenvolvimento – situações essas reais e dolorosas, como a “culpa” que muitas vezes sentem por conseguir realizar o sonho de ter sua própria casa, culpa esta imputada por uma sociedade que coloca a figura negra como alguém que não deveria estar em lugares de destaque.

Ainda mais sensível, esta graphic traz cenas memoráveis e algumas das sequências mais bonitas presentes entre todas as edições do selo Graphic MSP até aqui.

Enfim no Limoeiro

Outro destaque de Jeremias: Alma é a inserção definitiva do protagonista no Bairro do Limoeiro, o que acontece de modo bastante interessante no quadrinho (não vamos dar spoilers!). Jeremias se enturma com a galera de Franjinha, e fica mais evidente a conexão que seu universo terá com o restante das outras graphics. Em uma possível terceira HQ de Jeremias, muito provavelmente teremos mais interações entre ele e outros personagens da Turma da Mônica.

Jeremias: Alma não poderia ter melhor título

Jeremias: Alma

A segunda Graphic MSP de Jeremias traz referências e reverências aos grandes ícones negros da cultura popular e da arte, ao seu legado e a importância de se honrar e se conectar aos seus ancestrais, para que a história não só não seja esquecida, mas passada adiante.

Como dito na HQ, as histórias são a alma do universo, e Jeremias: Alma é uma linda história, que simboliza o poder de síntese que os quadrinhos podem proporcionar. Ler esta graphic é ter o desejo de querer saber mais, conhecer mais, se deixar emocionar e torcer, muito, para que tenhamos mais de Jeremias nos próximos anos. Rafael Calça, Jefferson Costa e a MSP seguem fazendo história, com a alma impressa em cada página.

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ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Jeremias: Alma
Diego Betioli
Escritor, publicitário, louco por esportes e entretenimento. Autor de A Última Estação (junto com Rodolfo Bezerra) e CEP e um dos fundadores do Meta Galáxia.
jeremias-alma-graphic-msp-resenhaAinda mais tocante, Jeremias: Alma se aprofunda no protagonista e em suas raízes, mostrando a importância da ancestralidade e de como as histórias preenchem o universo com alma

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