Liga da Justiça (Lendas do Universo DC) – Resenha

Um título que tinha tudo (mas tudo mesmo) para dar errado. Mas que deu muito certo! Uma Liga da Justiça que não se levava a sério...

Resenha de Liga da Justiça (Lendas do Universo DC), volumes 1 à 4.

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” – … Essa sua Liga… bem, não é muito a minha praia… Eu não sei se eu me encaixaria nessa nova Liga, Batman.

– … Por quê?

-… Bom, pra começar… há essa compulsão neurótica de fazer piadas sobre tudo!”

(Conversa entre Batman e Carter Hall)

Um pouco dos fatos que antecederam a criação da nova Liga da Justiça nos anos 80…

Lá na década de 80, aconteceu a mega saga Crise nas Infinitas Terras, que em sua essência visava reformular a linha temporal / cronológica da DC. Para isso a dupla Marv Wolfman (roteiro) e George Pérez (arte) encabeçaram esse projeto. Visavam dar um novo início aos personagens da DC que estavam carregados demais pela longa cronologia. O que acabava atrapalhando novos leitores e até mesmo roteiristas na criação de novas histórias, devido as amarras de tantos anos de publicação.

O resultado de Crise nas Infinitas Terras foi incrível (uma das sagas mais queridas e importantes das HQ’s), e que cumpriu muito bem o seu objetivo, e assim possibilitou um reinicio para a DC. Foi após esse evento que tivemos por exemplo a reformulação d a trindade da DC: Batman por Frank Miller, Superman por John Byrne e Mulher-Maravilha por George Pérez. E também nessa época ocorria a saga Lendas, que também envolviam estes personagens e alguns outros visando essa reformulação.

E nesse mesmo período a DC precisava lançar um novo título da Liga da Justiça. E aí surgiu um “problema”, já que com a Trindade ainda estava sendo reformulada com suas novas origens, quem estaria compondo o time da Liga da Justiça? Como ter uma Liga da Justiça sem Superman, Batman, e Mulher-Maravilha?

Uma Liga da Justiça…. “B”?

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Com os principais pilares da Liga indisponíveis, o que a DC poderia fazer? Deixar o título da Liga da Justiça em pausa ou tentar um plano “B”? Indo pela segunda opção, o editor  do título, Andy Helfer herdou essa difícil tarefa. E assim, começou-se o trabalho de escolher quais personagens seriam essa nova Liga. Essa missão ficou para a Helfer e a equipe criativa composta por J.M DeMatteis, Keith Giffen (roteiros e argumentos) e Kevin Maguire (arte).

O grande desafio seria emplacar um título da Liga sem seus principais personagens. Além da Trindade, Flash, Aquaman e o Lanterna  (Hal Jordan) também não estariam aqui. O jeito foi partir em busca de personagens coadjuvantes que pudessem ter química entre eles, e que talvez emulassem as características dos principais que estariam ausentes. E essa busca por personagens se mostrou um tanto inusitada quando olhamos o elenco de heróis dessa Liga da Justiça. Já que alguns destes personagens eram digamos de “terceiro” escalão da DC.

Depois de todo o processo, a equipe da Liga da Justiça adotou a seguinte formação: Caçador de Marte, Besouro Azul, Canário Negro, Senhor Destino, Lanterna Verde (Guy Gardner) Shazam! (Capitão Marvel), Gladiador Dourado, Senhor Milagre. E para liderar o time, estaria o Batman, que depois acabou sendo liberado para uso. Com exceção do Morcego, os demais personagens geralmente eram coadjuvantes. Então este novo título da Liga da Justiça seria um grande experimento e desafio para a equipe criativa.

O surgimento da “Liguinha” da Justiça

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DeMatteis e Giffen, já nos primeiros números já nos dizem a que vieram com esta nova Liga da Justiça. De repente, ao lermos essa nova fase, praticamente de cara já somos transportados para um ambiente novo, porém extremamente divertido. Isso se deve a veia cômica que os autores conseguiram colocar nestes personagens. O grande foco foi em desenvolver o relacionamento entre eles, ao invés de partir para sagas e batalhas de grandes proporções. É impressionante como em poucos diálogos já estamos mais próximos dos personagens e claro, rindo em diversas situações.

Os diálogos são muito bem humorados e tem um “time” certeiro para impactar o leitor. Por exemplo, são impagáveis os diálogos entre Guy Gardner e o Shazam! (Capitão Marvel), onde o lanterna o chama de “Capitão Fraldinha” por conta do de Billy Batson (o alter ego do Shazam!) ser uma criança. Aliás, Guy Gardner é bem utilizado pelos roteiristas, pois aproveitam todo o seu jeito explosivo e arrogante para criar os conflitos internos da Liga.  Outro ponto bem utilizado é explorar a seriedade do Batman como herói e a sua liderança dentro deste grupo tão desconexo e inusitado.

Assim muitos dos esteriótipos desses personagens são escancarados aqui no meio destes conflitos, isso variando desde os uniformes, nomes e poderes. É divertidíssimo acompanhar os diálogos, que sem dúvida alguma caberiam em qualquer série / filme que quisesse um humor de qualidade. E também não podemos esquecer da arte magistral de Kevin Maguire. Poucas vezes vimos expressões faciais tão bem utilizadas em personagens. É possível enxergar em diversos quadros que os personagens estão realmente felizes, rindo, brigando e pensando. É um equilíbrio muito preciso entre roteiro e arte. E assim para muitos essa Liga passou a ser chamada carinhosamente de Liguinha ou Liga Cômica.

Não é apenas um besteirol

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Como já dito acima, o foco desta nova Liga da Justiça foi apostar no bom humor e no desenvolvimento das inteirações entre seus membros. Havia uma grande atenção em mostrar coisas do cotidiano dos personagens, assim explorando não apenas o lado “super”, mas também o lado “off” de seus heróis. Como por exemplo quando o Besouro Azul e o Gladiador Dourado saem por aí com seus planos mirabolantes de conquistar mulheres e ganhar dinheiro fácil, o que obviamente, nunca dá certo. Aliás, essa dupla em específico é responsável por grandes momentos nessa fase da Liga da Justiça.

Mas a série é apenas comédia o tempo inteiro? A resposta é não. De maneira surpreendente, a dupla de roteiristas consegue criar tramas verdadeiramente desafiadoras para os nossos heróis. Seja desde ameaças mais simples e mundanas, até conquistadores espaciais, que geram conflitos a níveis cósmicos. Os vilões são bem trabalhados, tanto nas questões de desafios e motivações. Tanto que a Liga da Justiça acaba tendo que lidar com questões politicas e diplomáticas. Esses pontos também são bem trabalhados, ainda mais quando temos o representante da Liga da Justiça, Maxwell Lord (que nos deixa em dúvida o tempo inteiro sobre suas reais intenções).

Tanto que após alguns desses eventos, a Liga da Justiça que atuava apenas na América, acaba se expandindo, ganhando novas frentes ao redor do mundo. E assim nasce a Liga da Justiça Internacional. Este nome seria incorporado como oficial no título da DC, pois iria mostrar os heróis se dividindo em algumas equipes para assim poder atuar em escala global. E com isso também a formação da Liga vai mudando bastante com a entrada e saída de personagens devido as circunstâncias, mas sem perder a sua essência.

A Edição da Editora Panini

Recentemente a editora Panini Comics trouxe o título de volta ao Brasil dentro da coleção Lendas do Universo DC. Esta coleção que já havia publicado por exemplo os Jovens Titãs e diversos outros títulos clássicos da DC. Esse formato de publicação conta com um formato mais simples com capa cartonada e papel off-set, o que deixa o título mais acessível por conta do preço. É um ótimo formato e uma boa escolha da editora para trazer essa fase da Liga da Justiça. Se levarmos em conta o custo e benefício, é um baita acerto da editora em adotar esse formato.

Até o presente momento a Panini publicou apenas quatro edições que compilam as edições originais 01 à 23 e alguns anuais. Só que essa fase é muito mais longeva e por hora a editora não se pronunciou se vai dar continuidade. Ficamos na torcida para que ela anuncie o quanto antes os demais volumes, para assim termos essa fase completa publicada aqui. Panini, por favor, nunca te pedimos nada!

Liga da Justiça (Lendas do Universo DC), vale à pena?

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Se vale a pena? Sinceramente, vale a pena demais! Foi um grande acerto da Panini escutar os fãs que pediam essa republicação há muito tempo. Esse é um verdadeiro resgate de uma das melhores (senão a melhor) fase da Liga da Justiça. Por isso enfatizamos o desejo que a editora dê continuidade nessa publicação e complete essa fase. (Panini, nos ajude!!!)

Afinal, se olharmos todo o contexto de surgimento desse título que tinha tudo para dar errado, é quase surreal quando vemos os seus resultados. Os heróis da Liga nunca foram tão carismáticos e humanos, nos fazendo rir e torcer por eles em diversos momentos. Quem poderia sonhar com uma Liga da Justiça focada na comédia? A equipe criativa fez algo simplesmente memorável. Nota-se todo o carinho e cuidado ao criar tramas (aparentemente) tão banais e ao mesmo tempo tão significativas. Isso mostra mais uma vez que por muitas vezes depende muito mais de quem escreve do que se o personagem é bom, ruim ou complicado de se desenvolver.

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Definitivamente, essa fase da Liga da Justiça é um grande marco das HQs de super-herói, onde uma situação adversa se tornou uma verdadeira obra-prima. Liga da Justiça, Liga da Justiça Internacional, Liga Cômica, Liguinha… são tantos nomes e apelidos, que nos mostram o quanto essa fase é querida pelos fãs. Uma fase da Liga que mora pra sempre em nossos corações.


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ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Liga da Justiça (Lendas do Universo DC)
André Betioli
Contador formado e atuante de profissão. Grande fã da cultura pop em geral. Amante da cinema, quadrinhos e animes, e através disso tentando entender um pouco mais da realidade através da ficção. Considero Os Cavaleiros do Zodíaco a melhor coisa já feita pela humanidade.
liga-da-justica-lendas-do-universo-dc-resenhaEssa fase da Liga da Justiça é icônica. É realmente um deleite poder ler isso. Impossível não se divertir e rir com esse título. Um trabalho primoroso de Giffen, DeMatteis e Maguire. A Liguinha mora no coração dos fãs e isso não é a toa.

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