Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai é um anime que discute tópicos da adolescência sob uma perspectiva diferente.
Exibição Original: 04 de Outubro de 2018 à 27 de Dezembro de 2018 |
Título Original: Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai / 青春ブタ野郎はバニーガール先輩の夢を見ない |
Estúdio: CloverWorks| Nº de Episódios: 13 |
Avaliação: ★★★☆☆ (Bom) |
Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai (Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai) é um anime que teve sua estreia na temporada de outubro / outono de 2018. Se trata de uma adaptação da Light Novel (Seishun Buta Yarou Series) que é publicada desde 2014 de autoria de Hajime Kamoshida (roteiro) e Keiji Mizoguchi (arte). Kamoshida é um autor que sabe discutir os temas da adolescência, tanto que já fez isso em uma outra obra que é bem queria pelos fãs que é Sakurasou no Pet na Kanojo. E retoma aqui essa abordagem, porém sob uma nova ótica.
Uma dos principais charmes de Bunny Girl é sem dúvidas a sua premissa. Somos apresentados ao protagonista Sakuta, um adolescente que aparentemente tem problemas em se relacionar com a maioria dos alunos de sua escola. Ficando deslocado e sendo alvo de comentários devido a um fato de seu passado. Certo dia ele entra em uma biblioteca e se depara com uma aluna vestida de coelho, andando por ali como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Essa aluna é Sakurajima Mai, que já foi uma grande celebridade da TV. Sakuta simplesmente acha que está sonhando ao ver uma aluna como Mai vestida de coelhinha. E aí ele percebe algo inusitado e chocante: apenas ele está vendo ela. Para as outras pessoas, Mai está invisível e por conta disso, ela decidiu colocar a roupa para fazer um teste se realmente as pessoas não a enxergavam. Mas por que raios isso acontece? E porque só Sakuta a enxerga?
Assim que temos algumas explicações sobre o caso, ficamos sabendo sobre a Síndrome da Adolescência. Este é um fenômeno que vem atingindo alguns adolescentes de uma maneira peculiar e até mesmo “sobrenatural”. Por exemplo o caso de Mai. Ela era uma celebridade até poucos anos atrás, mas ela parou com sua carreira e ela foi se distanciando das pessoas de sua vida real. Pouco a pouco as pessoas “se esqueceram” de que ela era famosa. Não se lembram de quem ela é. Ou seja, as pessoas passam a não enxergar mais Sakurajima Mai. Uma das propostas de Bunny Girl é trazer alguns dos problemas da adolescência ao pé da letra, literalmente falando.
Esse lado sobrenatural de Bunny Girl é um dos grandes atrativos da obra. Pois conforme a trama avança, vemos que não apenas Mai e Sakuta sofrem disso, mas existem outros alunos que estão passando por isso também. Um outro caso que também serve de exemplo é da irmã do protagonista, a jovem Kaede. Ela sofreu com bullying na escola, sendo hostilizada nas redes sociais e como consequência parou de de sair de casa. Conforme ela se sentia atacada e ferida, escoriações apareciam sobre sua pele, assim exemplificando o quanto isso a machucava, literalmente.
Dando continuidade aos pontos positivos da obra, temos que falar dos personagens, principalmente dos protagonistas Sakuta e Mai. Certamente Sakuta é um dos grandes pilares da obra. Seu jeito despojado, largado e sincero são muito bons, fazendo dele um protagonista que consegue fugir um pouco dos clichês desses animes de slice of life. Sempre sarcástico e ácido, suas frases são sensacionais ao jogar algumas verdades em vez de frases de efeito /auto ajuda em situações difíceis.
As vezes ele aparenta até não ser uma boa pessoa, mas no fundo ele realmente se importa. Sua relação com Mai é muito boa também, os dois combinam muito e tem boa química, resultando em ótimos diálogos tanto pelo lado cômico / romântico quanto pelo lado mais reflexivo. Conforme Bunny Girl avança em seus arcos, outros personagens vão sendo adicionados e alguns deles são bem legais como a cientista Futaba Rio (diálogos sensacionais com Sakuta) e o melhor amigo de protagonista, Kunimi.
A parte técnica também não decepciona, o estúdio Cloverworks fez um trabalho muito bom, tanto em termos de animação, character design e as músicas. O traço do anime não é impressionante, mas ele é bacana e a animação em si é bem fluída. Os enquadramentos são legais dando boas perspectivas aos personagens. Certamente se você não pula a abertura de Bunny Girl, já se pegou cantarolando “Kimi no Sei, Kimi ni no Sei…” e fique tranquilo, pois isso é totalmente normal, pois essa musiquinha gruda na cabeça.
Agora vamos falar da parte assim não tão boa de Bunny Girl. Conforme foi dito, o grande atrativo da obra são essas Síndromes da Adolescência que põe em cheque os personagens, fazendo-os tentar achar soluções para os casos. Como por exemplo, qual seria a solução para a invisibilidade de Mai? Como fazer as outras pessoas a verem novamente? E como esses fenômenos acontecem? Pois bem, as explicações de como e porque eles ocorrem são até que bacanas e baseados geralmente em artigos e experiências científicas. Até aí tudo bem, mas o anime peca nas resoluções e na forma como ele finaliza um arco e começa outro. Calma, vamos lá.
O desenvolvimento e apresentação dos problemas da Síndrome são legais e criativos e a partir deles, nascem situações bem interessantes que rendem boas reflexões e diálogos sobre tudo que cerca a adolescência: descoberta de sentimentos, pressão de ser o melhor em tudo, escolhas e amadurecimento. Porém na hora de resolver essas situações, dá a impressão que o anime não consegue fazer isso da melhor maneira possível, as vezes solucionando muito rápido algo que estava com uma dificuldade até complexa. Isso fica mais evidente no arco da irmã da Mai e também em um momento com a Kaede, a irmã mais nova de Sakuta. (Aliás, precisamos falar desse ponto mais para frente).
E além de algumas resoluções “fáceis”, a fórmula do anime apesar de interessante, acabou comprometendo o desenvolvimento de algumas coisas bem importantes. Porque quando acabava um arco, automaticamente já sabíamos que iria surgir uma nova garota, com um novo problema e que o Sakuta teria que ajudar a resolver. E com isso, parecia que sempre o anime se renovava, partindo de um novo ponto, dando a impressão que o que tinha acontecido antes já não importava tanto. Ao mesmo tempo que isso era legal, pois criávamos expectativas de como seria o novo caso, isso matava algum desenvolvimento a mais dos pontos que já tinham sido apresentados. E a qualidade entre os arcos acaba oscilando, e esse ponto que estamos falando fica mais evidente quando chegamos ao último arco do anime, que envolve a irmã de Sakuta.
Quando chegamos nesse ponto em Bunny Girl, temos um verdadeiro vislumbre do que poderia ter sido o anime se houvesse tido uma melhor dosagem ou equilíbrio entre focar nos novos casos de Síndrome e da trama de fundo que vinha sendo costurada. Porque o chegar aqui, é um ponto de virada muito importante, que vai reverberar em todos os personagens principais e assim dar peso a muitas coisas que vinham sendo apresentadas em segundo plano. Finalmente temos um problema que requer uma abordagem mais séria e principalmente uma participação maior de Sakuta, pois aqui vemos um outro lado do protagonista que estava sendo deixado de lado. Essa parte do anime é muito, mas muito boa mesmo.
Porém, quando isso ocorre o anime já tinha avançado muito, ou seja, uma premissa dessas apareceu tarde demais e ficou corrido para fazer uma resolução apropriada e fechar alguns outros pontos da vida pessoal de Sakuta. O protagonista de Bunny Girl que ajudou todos no decorrer da trama, agora é ele quem precisa de ajuda. O resultado não é ruim, mas se tivessem focado nisso antes em vez de perder tempo com uma arco como da troca de corpos da irmã da Mai (que foi bem fraco) com certeza o impacto e desenvolvimento desse momento teria tido ainda mais qualidade e seria mais emblemático.
Rascal Does Not Dream of Bunny Girl Senpai (Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai) é um anime muito interessante. Mesmo com todos os apontamentos feitos, é uma obra que merece ser vista, pois ela tem coisas muito boas a serem ditas. E apesar dos pesares, de escolhas um tanto questionáveis durante o trajeto, os pontos positivos acabam se sobressaindo. Em 2019 vai ter um filme que será continuação da série, já que alguns pontos ficaram me aberto. Vamos aguardar, já que a Bunny Girl é uma obra com um tremendo potencial, desde que enrole menos.
E lembrando que todos os episódios estão disponíveis na nossa querida Crunchyroll!