Parasita (Parasite, 2019) – Resenha

Vencedor do Oscar de Melhor Filme, Parasita é um recorte perfeito do desnivelamento social

Parasita – Resenha do vencedor do Oscar de Melhor Filme 2020

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Ano: 2019
Título Original: 기생충 / Gisaengchung / Parasite
Dirigido porBong Joon-ho

Parasita fez história. Primeiro filme não estadunidense a obter o mais prestigiado prêmio do cinema, o Oscar de Melhor Filme, obteve ainda as estatuetas de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro, colocando o excelente cinema sul-coreano definitivamente no mapa global.

Além do Oscar, Parasita conquistou diversos outros prêmios e indicações no BAFTA, Critics Choice Awards e outros festivais internacionais de cinema como os de Munique e Sidney. Agora, você se pergunta: o filme merece mesmo tudo que conquistou? A resposta é, sem titubear, um enorme SIM.

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A trama original e criativa, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Roteiro, é apenas o primeiro ponto positivo. O longa conta a estória de uma família que mora na periferia, basicamente em um grande porão, onde todos estão desempregados ou sobrevivendo de bicos. Quando Kim Ki-woo (Choi Woo-sik) recebe a visita de seu amigo Min-hyuk (Park Seo-joon), um estudante universitário de classe alta, este lhe oferece uma oportunidade de emprego imperdível.

Ki-woo acaba se tornando professor de inglês de uma jovem estudante do ensino médio muito rica, mas para isso, forja sua formação acadêmica. Após infiltrar-se no dia a dia da enorme e luxuosa casa de sua aluna, enxerga a oportunidade de conseguir emprego para sua irmã, mãe e pai, que também precisam assumir outras falsas identidades para consegui-lo. Mas o que parece uma grande oportunidade pode ser um caminho sem volta para a família Kim.

O abismo social escancarado

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Parasita gira em torno da desigualdade social, das submoradias (condições de subexistência) e a diferente perspectiva de vida de quem está em cada lado da corda, que sempre arrebenta para o lado do mais fraco. Para quem vive um país como o nosso, o retrato é bastante claro: a diferença de cenários exposta no filme (a periferia onde moram os Kim e o bairro nobre onde residem os Park) é uma situação bastante comum em metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, onde, por exemplo, bairros como Morumbi e Paraisópolis dividem muros, mas são separados por um abismo social.

Algumas situações como Ki-woo e sua irmã Ki-jung tentando, dentro do banheiro, buscar o Wi-Fi do vizinho nos causam uma sensação de familiaridade. Uma família que busca trocados dobrando caixas de pizza, sem ter certeza do que comerá no dia seguinte. Não à toa Ki-woo se deslumbra com a gigantesca casa dos Park, um universo à parte, onde a maior preocupação da matriarca da família é satisfazer os gostos de seu mimado filho caçula, a qual ela considera um gênio incompreendido.

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Outra característica muito comum ao público brasileiro é a síndrome de vira-lata. Não são poucas as vezes em que os Park demonstram apreço por tudo que vem dos Estados Unidos, o que qualificam como “de melhor qualidade”, algo que pode soar estranho se considerado um país desenvolvido como a Coréia do Sul, mas que nada mais é do que uma realidade difundida mesmo no Oriente. Esta, inclusive, é uma das moedas utilizada por Ki-woo para validar seu disfarce.

Há diversas metáforas sobre ascensão e descenso social, como o fato dos Kim terem de atravessar uma escadaria longa e enorme para chegar ao bairro nobre onde moram os Park. Outras características muito claras de discurso burguês, como “o cheiro de pobre” (embora exposto de forma sútil) também são citadas. Quem nunca ouviu algum discurso desse tipo?

A direção magistral de Parasita

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Bong Joon-ho já havia provado sua maestria em outras obras como Okja, O Hospedeiro e Expresso do Amanhã, mas, sem dúvidas, Parasita é, até o momento, sua obra-prima. Criação original, Bong conseguiu desenvolver uma trama totalmente envolvente, que dosa momentos de tensão, humor e drama na medida certa, com personagens muito ricos em conteúdo e carisma.

De situações que beiram ao absurdo a diálogos que nos fazem sentir tristeza, desconforto, compaixão, o texto do filme é primoroso. Sem qualquer espécie de recurso especial, valendo-se do máximo do que pode ser desprendido em uma direção cinematográfica, Bong criou uma película única quanto ao retrato da diferença de classes.

Grande elenco

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Personagens tão incríveis não seriam tão bem personificados sem um elenco à altura. Bong Joon-ho recorreu a estrelas sul-coreana e jovens revelações. Alguns deles, colegas seus de outros sucessos. Ki-woo é vivido por Choi Woo-sik (Invasão Zumbi, Okja), e Song Kang-ho como seu pai (Expresso do Amanhã, O Taxista), dois dos melhores atores coreanos da atualidade.

Também se destacam a jovem Park So-dam, como a astuta Kim Ki-jung; Cho Yeo-jeong como a Sra. Park; Jang Hye-jin como a mãe dos Kim; e, em uma atuação repleta de humores e dores,  Lee Jung-eun como a governanta Moon-gwang, uma coadjuvante fundamental à trama e uma das personagens mais interessantes do longa.

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Se ainda não assistiu, saiba que Parasita é tudo isso sim e, provavelmente, muito mais do que talvez possamos expressar em um simples texto. Uma obra ímpar do cinema internacional, que merece certamente ganhar o mundo. Está disponível no Google Filmes e YouTube Filmes.

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ASSINATURA

ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Parasita
Diego Betioli
Escritor, publicitário, louco por esportes e entretenimento. Autor de A Última Estação (junto com Rodolfo Bezerra) e CEP e um dos fundadores do Meta Galáxia.
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