Eu Também Às Vezes Quero Sumir

Novo filme com Daisy Ridley fala de propósito e conexão

Estreia amanhã, 23 de maio, “Às Vezes Quero Sumir”, novo trabalho de Daisy Ridley. A tradução do título tira um pouco do peso do original – “Às Vezes, Penso Sobre Morrer” –, mas talvez reflita a ideia central do longa: todos sonhamos com uma vida mais leve, mas o sonho esconde um esforço frequentemente pesado.

Fran, interpretada por Ridley, é uma pessoa que leva a vida sem grandes envolvimentos. Parece direcionar suas emoções para cenários de sua própria morte. Ou de si própria, morta. As coisas começam a mudar após a chegada de um novo colega de trabalho, que vai tirá-la da dormência na qual confortavelmente se aconchegava.

Inevitável (para mim) tecer paralelos entre a trama e os desafios do trabalhador nos dias de hoje: trabalho burocrático, sem realização, sem perspectiva; a ilusão da anestesia de uma vida protocolar, rotineira e processual, sem sobressaltos; um vazio de sentido em tudo e todos. Como não sentir vontade de sumir, de vez em quando?

Embora o título do filme transpareça em pontos que talvez pudessem ser mais explorados no desenvolvimento da trama, estabelece um antagonismo evidente: penso em morrer, mas apenas porque não vejo como posso viver. O tema ressoa profundamente em nossos tempos, na crescente dificuldade em estabelecer conexões importantes com outras pessoas, e encontrar propósito na banalidade (também crescente) da vida cotidiana. Some-se a isso a bagagem emocional de cada um; não somos capazes de dizer ao certo a que se refere o fardo que Fran carrega – mas esse peso está pontuado de modo tão breve quanto marcante, e os poucos fatos que nos são contados se combinam com a narrativa do filme para dimensionar essa carga.

Trata-se de uma ótima oportunidade para ver Ridley desfilar seus talentos sutilmente neste filme, que é ao mesmo tempo morno e pungente, como a vida real. Intercalando-se nos esmaecidos cenários ora estéreis, ora escuros, os momentos mais coloridos (ou barulhentos) são os espaços dos devaneios de Fran. Não há grandes arroubos; mesmo os momentos ruins, em que ultrapassamos os limites, ocorrem sem que ninguém precise levantar a voz. Uma singela crítica à profusão de “conteúdos” extremamente barulhentos que vemos por aí, recheados de gritos e vazios de substância, que nos distraem (para o bem ou para o mal) do que é essencial da vida? Mas o que é essencial?

Há algumas cenas-chave nesse sentido: quando Robert pergunta a Fran “do que você gosta?”; e a conversa da protagonista com a aposentada Carol são alguns destaques. O que resulta do confronto entre uma contenção de si mesma e a descoberta de ser o que se é, no contato com as outras pessoas? Como contrastam as fantasias sobre morrer e a dura constatação do não viver? Talvez seja essa a razão das suas “visões” de morte: é o destino inevitável de qualquer um, mas Fran logo vai começar a se ocupar da jornada até lá. Pensar em viver ou pensar em morrer, remetendo a um chavão meio piegas de “Um Sonho de Liberdade”.

A colega aposentada e a ironia do descompasso entre os tempos do “estou disponível para me realizar” e “estou apto para fazer tudo o que sempre sonhei” questionam o espectador sobre a pergunta fundamental: você está vivendo ou só pensando em não ser?

ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Às Vezes Quero Sumir
Yuji Imaizumi
Já fui um monte de coisas e gostei de quase nada. Mas gosto do fato de que nada se limita a apenas contar uma história. Minha escala personalíssima das resenhas: [ 1 - 1.5 ⭐: gostei não ] // [ 2 - 2.5 ⭐: nhé ] // [ 3 - 3.5 ⭐: gostei ] // [ 4 - 4.5 ⭐: gostei muito ] // [ 5 ⭐: carai! ]
as-vezes-quero-sumirCom grande atuação de Daisy Ridley, Às Vezes Quero Sumir aborda propósito e conexão

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