Green Book: O Guia – Resenha do filme premiado com o Oscar de Melhor Filme do ano de 2018
Ano: 2018 |
Título Original: Green Book |
Dirigido por: Peter Farrelly |
Avaliação: ★★★★★ (Excelente) |
Incisivo e tocante, Green Book: O Guia se tornou, na noite do dia 24 de fevereiro, o mais novo vencedor da categoria de Melhor Filme do Oscar, entrando para a história ao faturar o prêmio mor da Academia diante dos favoritos Bohemian Rhapsody, Infiltrando na Klan e Roma.
Apesar de, quase como sempre, não ser uma opinião unânime, o longa possui todas as características que o fazem merecedor de tal prêmio e conta, especialmente, com um show de atuação de seus protagonistas e uma proposta bastante clara.
Green Book é baseado em uma história real, apresentando Tony Vallelonga (Viggo Mortensen) – ou Tony Lip, como é chamado pelos conhecidos -, um faz-tudo de origem italiana que, após colecionar uma série de confusões e sempre pulando de emprego em emprego, tem seu caminho cruzado com o excêntrico músico Donald “Doc” Shirley (Mahershala Ali).
Tony é contratado para ser o motorista de Doc em sua turnê pelo sul dos Estados Unidos, que deve durar cerca de dois meses. Para isso, precisa abdicar de sua família durante esse período e trabalhar em tempo integral para o músico, não somente conduzindo-o, mas se tornando uma espécie de manager de sua tour.
E neste ponto se apresenta a grande questão do filme. Green Book é ambientado nos ano sessenta, onde ocorreu o auge do segregacionismo estadunidense, que ocorreu especialmente no sul do país – algumas cidades, inclusive, sequer permitiam a circulação de negros. E a segunda forja da trama, apresentada logo no início, é que o próprio Tony, por sua vez, também era um racista nato.
Logo, temos o eixo central da trama: um homem racista que precisa dobrar seu preconceito para trabalhar, e não somente isso, passar oito semanas ao lado de seu patrão negro na região considerada a mais perigosa para negros nos Estados Unidos naquela época.
Este cenário, obviamente, desdobra uma série de situações tensas e dramáticas que vão elevando o status dos personagens no filme, tornando a relação entre eles mais forte, fazendo com que suas diferenças sejam postas à prova e que o período da turnê signifique uma mudança profunda e definitiva em suas vidas.
Não são poucas as observações postas por Green Book. Uma delas, talvez a mais significante e que apresente o melhor diálogo do filme, é justamente sobre o que é chamado de racismo reverso – quando uma pessoa branca diz sofrer mais racismo que um negro. Situação essa que ainda permeia o cotidiano da nossa sociedade e geralmente é relativizada.
Outro ponto – talvez o que dê maior profundidade ao filme – é o universo interno de Don Shirley, um sujeito de sucesso na música e considerado um raro talento, mas que vive infeliz e sozinho, pois, ao mesmo tempo que não se vê pertencente à elite branca americana, para a qual toca, também se vê distante da maior parte da população negra, pois sabe que, naquele instante, ocupa uma posição de privilégio em relação à ela.
Todas as situações são muito bem exploradas pela direção e captadas em essência nas atuações memoráveis de Mahershala Ali – certamente um dos nomes mais proeminentes de Hollywood nesta década – e Viggo Mortensen, que há tempos deixou de ser apenas Aragorn e se mostra cada vez mais um ator com enorme veia dramática.
Green Book conta, ainda, com uma trilha sonora fantástica e adorável sessentista, bem como toda perfeita ambientação de diferentes regiões dos Estados Unidos naquela década. A música está presente praticamente do começo ao fim da trama.
É, por fim, um filme que, em sua essência, cumpre perfeitamente o design clássico das narrativas, onde cada etapa da montagem da história é concluída e entregue de forma perfeita ao espectador, sem deixar confusões. A mensagem é clara e resoluta; e a indignação com algumas das situações ali expostas confirma que ainda vivemos em uma sociedade recheada de preconceitos e não tão distante daquela realidade.
Green Book: O Guia pode não ser o filme com melhores aspectos técnicos ou maior representatividade, e é inegável que o “americanismo” do filme tenha pesado para sua premiação; entretanto, possui toda competência para ostentar o posto e entrega ao espectador direção e atuações impecáveis.
Confira outras resenhas de filmes aqui. Siga o Meta Galáxia nas redes sociais e se inscreva no nosso canal!