Dan Da Dan é a adaptação em anime do aclamado mangá DanDaDan, e já chegou chamando atenção com uma animação incrível, dublagem de primeira, uma música tema viciante e, claro, uma enxurrada de elementos sobrenaturais. Mas não para por aí — a série é lotada de momentos de comédia desconfortáveis (daquele tipo que dá uma vergonhazinha alheia) e traz uma abordagem bem única e ousada sobre a autodescoberta na adolescência. E olha, quem chegou até esse anime por recomendação de amigos provavelmente ouviu o mesmo conselho: não desiste depois do primeiro episódio, porque vale a pena continuar.
Isso porque o começo é, no mínimo, impactante. O primeiro episódio já chega com os dois pés na porta, apresentando uma abdução alienígena e até uma tentativa de agressão envolvendo a protagonista colegial Momo Ayase. E aí entra em cena um dos vilões mais bizarros que você vai ver: a “Turbo Granny” — um espírito que corre atrás das pessoas dizendo “deixa eu comer essa salsicha”, o que pode parecer só uma piada grosseira, ou até algo mais incômodo dependendo do ponto de vista.
De cara, tudo isso pode dar a impressão de que o anime é só mais um apelo à bizarrice ou ao humor imaturo, talvez até com um certo exagero visual e narrativo. Mas a verdade é que Dan Da Dan surpreende justamente por conseguir dar profundidade aos absurdos que apresenta. Apesar das esquisitices, é uma obra que realmente se importa com seus personagens, e usa o terror e o humor escatológico de uma forma que tem mais propósito do que parece à primeira vista. Pode até escorregar em alguns momentos, mas é um daqueles animes que conseguem transformar o caos em algo cheio de significado e emoção.
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Uma história de amadurecimento
São justamente os paralelos que Dan Da Dan traça entre horrores verdadeiramente traumáticos e comédia pastelão de humor adolescente que tornam o anime tão único e cativante. É essa mistura esquisita — e ao mesmo tempo genial — que consegue capturar como poucos a estranheza assustadora de descobrir sua própria sexualidade e identidade pela primeira vez. Aqui, ser abduzido por alienígenas ou possuído por um fantasma anda lado a lado com situações absurdas, como uma garota vendo sem querer as partes íntimas de um colega. E, por mais bizarro que pareça, poucas obras abordam tão bem a confusão que é passar pela puberdade.
Mesmo entregando tudo que a gente espera de uma boa história sobrenatural — com cenas de ação eletrizantes, sustos bem encaixados e um humor que transborda — o que realmente faz Dan Da Dan brilhar é seu lado de história de amadurecimento. A perda da inocência, que é parte essencial de qualquer jornada adolescente, aqui vem de forma bem direta: é a descoberta de que sim, fantasmas e alienígenas são reais. Mas o mais interessante é que isso vem com um tempero a mais — e bem inesperado.
Desde o primeiro episódio, com a Turbo Granny e os ETs malucos, até o segundo, com o alien invadindo a casa da avó da Momo, tem um tema recorrente que não dá pra ignorar: os vilões estão obcecados com a tal “banana” ou “salsicha” dos protagonistas. É tão absurdo que chega a ser hilário — e, ao mesmo tempo, levanta questões bem mais profundas do que parece. A linguagem infantil ajuda a disfarçar, mas o foco constante nos órgãos genitais dos personagens diz muito sobre como a puberdade mexe com nossa identidade, autoestima e noção do próprio corpo.
Esse tipo de humor, todo torto e desconcertante, tem muito da geração millennial: aquele jeito de rir de coisas bobas enquanto se encara o caos do mundo e os terrores da existência. E é isso que torna Dan Da Dan tão especial. Ele pega uma piada que, em outros contextos, seria só grotesca, e transforma numa ferramenta narrativa poderosa. O anime consegue, de maneira surpreendente, dar forma àquela sensação estranha, incômoda e muitas vezes engraçada de ser um adolescente perdido no ensino médio, tentando entender quem você é — tudo isso com um nível altíssimo de entretenimento e ousadia.
Os momentos mais tolos destacam os verdadeiros medos de Momo e Oka-run
O episódio 3 traz uma sequência de perseguição hilária — e ao mesmo tempo desconfortável — envolvendo Ken Takakura, o Oka-run (apelido que Momo dá pra ele por causa do ator famoso de quem ela gosta). Tudo começa quando ele percebe que não consegue usar o banheiro enquanto Momo não o observa de perto, já que ela precisa conter o espírito maligno dentro dele. À primeira vista, parece só mais uma cena bizarra e cômica, mas na real é um momento super importante dentro da narrativa.
O medo de Oka-run de ser visto, exposto ou humilhado é tão intenso quanto o que ele sente ao encarar inimigos sobrenaturais. E isso é muito simbólico da adolescência: aquela fase em que a vergonha do próprio corpo, das emoções, do que é considerado tabu, parece um monstro tão grande quanto qualquer vilão de anime. O anime consegue transformar essa insegurança em algo visível e palpável, colocando o desconforto físico e emocional no centro da cena — e tudo isso com uma pitada de comédia escrachada.
Mas tem mais coisa por trás. Esse medo de ser visto também se conecta diretamente ao jeito como Oka-run se apega à amizade com a Momo. Ele pede várias vezes pra que ela continue sendo sua amiga e fica visivelmente abalado com a ideia de que ela possa rejeitá-lo. Quando Momo pede pra ver os efeitos da maldição — revelando que a Turbo Granny o mutilou de verdade — Oka-run reage com uma mistura de vergonha e pavor, tratando o ato de abaixar as calças como se fosse tão aterrorizante quanto qualquer ameaça paranormal.
Tudo isso mostra o quanto ele está lutando com sua própria imagem, seu corpo e sua autoestima. O constrangimento que ele sente diante da Momo é irracional, mas super compreensível, porque retrata perfeitamente aquele sentimento adolescente de “eu sou esquisito demais, ninguém vai me aceitar”. A relação entre eles acaba sendo uma lente bem sensível (e engraçada) para falar sobre insegurança, medo de rejeição e a busca por aceitação.
No fundo, o episódio não é só sobre uma perseguição maluca com um fantasma: ele aprofunda o desenvolvimento do Oka-run como personagem, mostrando o quanto sua jornada passa pela autoaceitação e pelo enfrentamento dos medos internos que vêm junto com o crescimento. E é aí que Dan Da Dan mostra de novo o quanto consegue ser mais do que parece — um anime maluco, sim, mas com muito coração.
Dan Da Dan ainda tem suas falhas

Apesar de Dan Da Dan usar de forma bastante criativa certos medos e traumas típicos da adolescência para alimentar sua narrativa cheia de choque e bizarrice, ainda tem algumas escolhas questionáveis que merecem ser discutidas. Um bom exemplo disso é a cena do primeiro episódio envolvendo a tentativa de estupro alienígena. Nela, Momo aparece de cueca, algemada a uma cadeira e com as pernas abertas — e a forma como a cena é mostrada acaba colocando o espectador na mesma posição dos alienígenas, quase como um voyeur involuntário. E esse nem foi o único momento em que vemos a personagem retratada desse jeito.
A verdade é que essa cena poderia ter sido construída de outra forma, com o mesmo impacto narrativo, mas sem expor tanto o corpo da Momo. Bastava focar nas expressões dela, mostrar as algemas nos pulsos, talvez usar ângulos que evidenciassem a tensão e o perigo da situação sem transformar o público em observador de um momento tão vulnerável. O chute que ela dá na cabeça do alienígena, inclusive — ecoando a cena em que ela faz o mesmo com o ex-namorado — é um baita momento de virada, mostrando sua força e recusa em ser vitimizada. E funcionaria igualmente bem sem o excesso de exposição física.
Além disso, é impossível não notar uma tendência constante à hipersexualização das personagens femininas. A avó da Momo, por exemplo, é um ótimo exemplo disso: apesar de ser uma senhora, ela é desenhada com aparência de uma jovem de 20 e poucos anos, com seios grandes e praticamente sempre à mostra. É aquele tipo de escolha estética que parece mais interessada em fanservice do que em consistência narrativa ou respeito às personagens.
Isso acaba sendo um pouco decepcionante, especialmente em uma série que, em outros momentos, faz um trabalho tão legal em dar espaço e protagonismo à Momo, tratando-a com a mesma importância e profundidade que os personagens masculinos. Fica uma sensação de conflito entre o que o anime quer dizer e como ele escolhe mostrar isso. Dá pra ver que há uma intenção sincera de explorar temas relevantes, mas às vezes ela tropeça em escolhas visuais que tiram parte da força dessas mensagens.
Dan Da Dan tem muito potencial e acerta em cheio em várias coisas — especialmente na forma como mistura terror, comédia e amadurecimento — mas ainda precisa encontrar um equilíbrio melhor entre o choque e o respeito às suas personagens. Porque quando acerta, o anime é brilhante. Mas quando erra, esses momentos acabam destoando e enfraquecendo a experiência como um todo.
Teaser da 2ª temporada de Dan Da Dan
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