Irmandade – Resenha da primeira temporada da série brasileira original Netflix
Título Original: Irmandade |
Ano: 2019 |
Criação: Pedro Morelli | Nº de Episódios: 08 |
Nu, cru e noventista. Esse é o apelo de Irmandade, nova produção brasileira original Netflix, uma mistura que dá muito bom e que conta com ninguém menos que Seu Jorge como um dos protagonistas.
A série é uma produção da O2 Filmes e criação de Pedro Morelli, diretor que conduziu trabalhos relevantes para o cinema nacional na última década, como o drama Entre Nós e o filme derivado da série Cidade dos Homens.
A trama tem início em 1974, no auge da ditadura militar, com a prisão de Edson (Seu Jorge) após denúncia do próprio pai sobre porte de drogas. O então jovem é espancado e detido pelos policiais, deixando para trás a irmã mais nova, Cristina (Naruna Costa) e o caçula Marcel (Wesley Guimarães).
Vinte anos depois, Cristina se tornou uma advogada que segue o rigor da lei, até que seu caminho se cruza com o de Edson novamente. Decidida a tirar o irmão da cadeia, onde este enfrenta torturas e abusos, a defensora acaba infringindo seu próprio código de ética e se vê presa em um acordo com a polícia para garantir sua própria liberdade e, posteriormente, obrigada a se envolver diretamente com a Irmandade, facção comandada por Edson.
Irmandade é uma daquelas produções nacionais primorosas, com direção de primeira qualidade e atuações marcantes entregues por um elenco muito talentoso, que compra a ideia do roteiro e dá dimensão aos personagens que vive. Estes, aliás, sofrem grande evolução ao longo dos oito episódios. Naruna Costa ganha os holofotes com a protagonista Cristina, uma personagem cheia de faces e que conta com uma boa dose de dissimulação, embora nunca pareça mal intencionada.
Seu Jorge mostra, mais uma vez, porque é um dos artistas mais completos que temos em nosso país. O já consagrado cantor, que também ficou marcado por seu papel em Cidade de Deus e até mesmo no cinema estadunidense, apresenta mais um trabalho formidável como ator, criando um personagem carismático e dotado de muita personalidade. Também destacam-se Lee Taylor como Ivan e Hermila Guedes como Darlene, esposa de Edson.
A série não poupa esforços para abordar os temas que carregam a trama. Com bastante violência física e mesmo emocional, Irmandade escancara a realidade do fálico sistema prisional brasileiro, que fomenta a violência nos presídios e torna o país uma máquina de geração de crime, acumulando histórias de massacres como o do Carandiru e superlotação de detentos, além da criação de incontáveis facções que, por sua vez, ajudam estes mesmos números aterradores a crescer em um ciclo vicioso e insolúvel.
Irmandade possui um ritmo constante; não deixa a régua cair, entregando um entretenimento de alto nível, regado a uma excelente trilha sonora que vai do clássico pagode 90 a Racionais em seu auge. Talvez um dos únicos defeitos da série seja um leve excesso de casualidades que resolvem determinadas situações de modo bastante conveniente, especialmente envolvendo a protagonista. Mas nada que comprometa a qualidade do seriado.
Com a já gerada expectativa para uma segunda temporada, Irmandade tem tudo para conquistar também o público lá de fora, sendo mais um relevante expoente das produções originais brazucas da Netflix.
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Confira alguns motivos para assistir à Irmandade
1. Identidade
2. Protagonismo feminino
3. Locações
4. Perspectiva de moralidade
5. Realidade
Confira alguns motivos para assistir a primeira temporada da produção
Irmandade, nova produção original da Netflix, dirigida por Pedro Morelli, conta a história de Cristina (Naruna Costa), uma advogada honesta que descobre após 20 anos sem contato com Edson (Seu Jorge), o irmão mais velho, que ele está preso e comanda uma facção criminosa em ascensão nomeada de “Irmandade”.
Na tentativa de salvar Edson das torturas vividas no presídio, a advogada acaba presa e é forçada pela polícia a se infiltrar na facção e trabalhar contra o irmão. Em uma jornada perigosa, ela entra em contato com o crime, e começa a questionar as próprias noções de Justiça.
Além de Seu Jorge e Naruna Costa, a produção ainda conta com Lee Taylor, Pedro Wagner Danilo Grangheia e Hermila Guedes.
Confira alguns motivos para assistir à Irmandade
1. Identidade
A série Irmandade apostou no mundo das facções criminosas para construir a narrativa. Mesmo com a temática clichê — principalmente porque o número de produções audiovisuais brasileiras que aborda o sistema carcerário é grande –, o diretor Pedro Morelli fugiu do óbvio e não direcionou o seriado para o comum: um líder de facção ou um investigador da polícia como protagonistas.
Desta vez, a narrativa segue uma linha diferente. A série narra esta realidade por meio da perspectiva de Cristina (Naruna Costa), uma advogada honesta e moradora da periferia, que depois de 20 anos sem ver o irmão, descobre que ele comanda uma facção criminosa de dentro da cadeia.
2. Protagonismo feminino
A série é comandada por Cristina e por Darlene (Hermila Guedes), que se destacam no ambiente majoritariamente masculino e machista. A protagonista e a coprotagonista são essenciais para a trama e carregam grande parte do enredo.
Darlene, esposa de Edson, foi responsável pela aproximação de Cristina e do irmão. Além de ser o braço direito do marido fora da prisão, ela influencia diretamente nas escolhas de Edson e Carniça (Pedro Wagner), ocupando um lugar de líder da organização, mesmo que indiretamente.
Já Cristina, que nos primeiros episódios aparenta ter caído de paraquedas na facção, logo contorna a situação e ganha posição de destaque, tanto na trama quanto na organização.
3. Locações
As cenas dos detentos foram gravadas em um presídio real e ativo. A produção foi registrada em uma ala desativada do presídio de Curitiba, há poucos metros de carcerários de verdade, que acompanharam de longe a gravação.
“Foi um trabalho extenso e profundo, agora tive um trabalho coletivo. Foi intenso, acho que todo o acabamento foi dado no presídio, pela locação, os objetos de cena, o ambiente, as coisas iam acontecendo”, conta Seu Jorge em entrevista.
4. Perspectiva de moralidade
Mesmo os integrantes da facção sendo criminosos e cientes disso, em muitos momentos as atitudes moralistas dos personagens chamam atenção do espectador. Edson e Cristina herdaram do pai o lema de fazer sempre o certo e aplicam o preceito na “Irmandade”, na perspectiva de correto deles.
5. Realidade
Mesmo ficcional, a produção original da Netflix levanta críticas acerca do sistema prisional brasileiro e da realidade dos detentos, principalmente aos assuntos relacionados aos direitos humanos, como a situação precária das celas e a demora em conseguir um defensor público.
Com bastante violência, o seriado não se distancia muito da realidade e até é possível fazer um comparativo às notícias presentes em jornais. Em alguns momentos, a série leva o espectador a lembrar do Primeiro Comando da Capital (PCC). Mesmo assim, o diretor Pedro Morelli garante que a obra não é inspirada em nenhuma facção específica, e sim em um misto de organizações criminosas.
Agora nem tudo são flores…
Mesmo com um bom roteiro, a produção passa por dificuldades para desenrolar a trama, ficando entediante em alguns momentos. Mesmo assim, a partir do quarto episódio a trama ganha fôlego e muitos momentos de tensão, dando uma reviravolta na narrativa.
Convencido?
Outro lixo pro crime.