Em 2017 a Warner / DC lançou o tão esperado filme da Liga da Justiça, que trazia pela primeira vez a equipe para as telonas. Porém o que era um sonho acabou se tornando uma frustração. Diversos fatores envolvendo os bastidores de produção, impactaram no resultado da obra. O então diretor do longa, Zack Snyder havia saído de forma conturbada do projeto. Após inúmeras repercussões, Zack Snyder afirmava que aquilo era muito diferente do que ele havia pensado e que existia uma outra versão do longa. E assim começou o movimento do “Realese The Snyder Cut”, para que a Warner voltasse atrás e desse a chance de o diretor entregar o filme que ele queria ter feito. Ou seja, lançar um segundo filme da Liga da Justiça. E inacreditavelmente, isso aconteceu.
Liga da Justiça de Zack Snyder, ou como ficou mais conhecido, o Snyder Cut já é um verdadeiro marco da história do cinema e da cultura nerd /geek. Mas após quatro anos, valeu a pena esperar pela tal do Snyder Cut? Sim, e como valeu.
Um pouco dos bastidores
Zack Snyder era o grande nome da Warner para tocar o Universo da DC nas telonas. O diretor já havia feito O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) e a sequência deste que era Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016). E a Liga da Justiça era o seu próximo projeto. Só que aí começaram a surgir alguns problemas. Em O Homem de Aço, Snyder nos reapresentava ao ícone do Superman, por uma ótica mais realista e sombria. O filme agradou a maioria do público (apesar de alguns pontos), mas em suma foi muito bem recebido. Três anos depois, Snyder lançara Batman Vs Superman, o que gerou enormes expectativas. Afinal de contas era a primeira vez que veríamos dois dos maiores ícones da DC e da cultura POP juntos nas telonas. Porém o “hype” não foi o suficiente para salvar o filme da chuva de críticas negativas, e a recepção do público e bilheteria foi muito abaixo do esperado. E isso impactou diretamente no filme da Liga da Justiça.
Com o resultado “ruim” de BvS, a Warner começou a se intrometer no longa querendo algumas mudanças, principalmente no tom da obra, para que ela ficasse um pouco mais leve e colorida, vide a “linha Marvel”. E isso foi o ponto de partida para que diversas discussões começassem a ocorrer entre o diretor e a Warner. Ou seja, Zack Snyder estava perdendo sua liberdade criativa, pois os produtores estavam receosos com os rumos que o diretor estaria levando seus personagens. Pois os filmes anteriores de Snyder sempre tiveram esse tom mais realista e mais cru, que é uma das assinaturas do diretor. Então o clima ficou cada vez mais insustentável, pois Snyder acreditava de verdade no seu trabalho e na história que ele queria contar. Somado a isso, aconteceu uma tragédia pessoal em sua vida: sua filha Autumn, que sofria de depressão, acabou se suicidando em março de 2017. Com isso, Snyder precisou de um tempo para se recuperar desta tragédia e se afastou da produção. Logo, juntando isso, mais as desavenças de ideias, a Warner decidiu que ele estava oficialmente fora da direção do filme da Liga da Justiça.
No seu lugar, entrou Joss Whedon (Vingadores), que mudou drasticamente muitas coisas antes do filme ser lançado no cinema. Whedon alterou muita coisa da ideia original do longa e transformou o tom da obra. Assim o filme da Liga da Justiça fora lançado em 2017, e apesar de contar com algumas boas cenas, era muito destoante dos demais filmes lançados até então. Ou melhor dizendo, era um filme muito genérico que não se conectava na história que queria contar. O que era para ser um filme grandioso e épico de uma das maiores equipes dos quadrinhos, foi algo bem qualquer coisa. Uma série de remendos que virou um filme. E além de do resultado do filme, ocorreram diversos problemas nos bastidores entre as refilmagens.
Depois de um tempo Snyder começou a fomentar as redes sociais com imagens e mensagens dizendo que existia um outro filme da Liga da Justiça: o seu corte. E o que parecia ser mais uma rusga ou mágoa do diretor com a Warner começou a ganhar cada vez mais força nas redes sociais e pela internet a fora. Assim o Snyder Cut com o passar do tempo foi ficando cada vez mais crível e as pessoas (fãs, atores do elenco, pessoas do meio do cinema e quadrinhos) começaram a se manifestar para que a Warner desse uma segunda chance a Snyder para lançar o seu filme, aquele que ele havia pensado. E finalmente isso aconteceu, sendo um verdadeiro marco. O Snyder Cut era real e a Warner deu mais uma verba e aval para o diretor terminar o seu filme. O resultado foi que após muita luta e persistência por parte dos fãs e principalmente pelo diretor, o Snyder Cut chegou até nós. Contando com 4 horas e dividido em 6 capítulos, a obra, assim como toda sua história de lançamento, também é épica.
A Premissa de Liga da Justiça Snyder Cut
A premissa do Snyder Cut não é foge muito da linha do filme de 2017, que é basicamente o vilão o Lobo da Estepe tendo que reunir as três caixas maternas que estão na Terra. As caixas maternas são artefatos poderosíssimos, que uma vez unificados podem destruir /modificar mundos. O Lobo da Estepe é um assecla do poderoso Darkseid (que é talvez o mais poderoso vilão da DC Comics), que busca a todo custo encontrar a equação anti-vida, e com isso sobrepujar qualquer oponente que ouse ficar em seu caminho.
Batman (Ben Affleck) e Mulher-Maravilha (Gal Gadot) se unem para reunir um time para enfrentar esse mal, mesmo sem saber ao certo quem ou que seria essa ameaça. Isso impulsionados pelos fatos ocorridos em Batman vs Superman, onde tivemos a morte do Superman pelas mãos do Apocalipse e a revelação de Lex Luthor (Jesse Eisenberg) à Batman que algo muito ruim estava chegando para ameaçar a Terra. Assim, Bruce Wayne Diana passam a pesquisar e abordar possíveis meta humanos que poderiam se juntar a eles nessa luta. Mediante arquivos mostrados em BvS, eles partem para encontrar três pessoas: Arthur Curry, Barry Allen e Victor Stone.
Aquaman e principalmente Flash e Ciborgue
Após falarmos da premissa, podemos nos perguntar: mas o que difere a Liga da Justiça Snyder Cut do filme de 2017? Um dos fatores primordiais é sem dúvida alguma o desenvolvimento dos personagens secundários. Batman e Mulher-Maravilha já tinham seus papéis bem definidos na trama, mas os novos personagens precisavam ser apresentados. Pois também existia o fator da ausência do Superman, e essa lacuna tinha que ser preenchida.
Quando Bruce Wayne vai abordar Arthur Curry, o Aquaman (Jason Momoa), a trama é parecida com o filme anterior, porém com pequenas mudanças em alguns diálogos. E isso dita o ritmo da abordagem da interação entre os dois personagens, dando assim maior seriedade e imponência ao Aquaman, que é o “bad-ass” do grupo. Mostrar como ele interage com o pessoal da vila e os seus problemas com seu lado Atlante, são mais bem construídos. Fazendo com que o Aquaman ganhe mais presença de tela e importância na trama. Mas sem dúvida alguma, as grandes mudanças são em relação aos personagens do Flash e Ciborgue.
No filme de 2017, o Flash é infelizmente um personagem decadente muito mal aproveitado. Na outra versão ele é utilizado apenas para o lado cômico, e que não funciona. Não há uma abordagem digna nos apresentando direito quem é ele. O personagem é simplesmente jogado na trama. Mas em Liga da Justiça Snyder Cut, as coisas mudaram. Desta vez Barry Allen, o Flash (Ezra Miller) nos é apresentado em uma cena linda. O Velocista Escarlate salva uma jovem que ele acabara de ver de um acidente de carro. Ao utilizar seus poderes de super velocidade, Zack Snyder nos entrega algo para contemplar. Barry Allen olhando o mundo ao seu redor em outra velocidade, observando os detalhes enquanto salva a jovem. Uma cena que além de muito bem-feita, utiliza bem o já conhecido slow motion de do diretor, combinado a uma bela música. Só esta cena em si já emociona e consegue apresentar Barry Allen de maneira coesa, da tal maneira que apenas essa cena já é melhor do que toda a participação do personagem no filme de 2017.
Assim como Flash, outro que teve uma mudança brusca ou até maior em relação ao filme anterior, é o Ciborgue. No filme de 2017 o personagem também é jogado e sua origem é apresentada de forma muito corrida. Não dando tempo algum para que nos importemos com ele. As motivações não são trabalhadas. Já em Liga da Justiça Snyder Cut isso foi consertado. E de verdade, ao vermos a importância do personagem dentro da trama, só nos faz perceber o quão equivocado foi o lançamento da versão anterior da Liga. Victor Stone, o Ciborgue (Ray Fisher) tem todo um desenvolvimento mostrando seu passado, seu acidente e a apresentação dos seus poderes. Essa parte em específico gera uma boa reflexão, já que ele consegue ver tudo e a todos por meio de sua tecnologia. E a escolha que o filme aborda para mostra isso é muito bem acertada e emocionante. O Ciborgue acaba sendo por boa parte do filme o fio condutor da trama, e como o próprio Zack Snyder já havia dito: “Ciborgue é o coração da Liga”.
Essa mudança de tom e tempo de tela faz com que esses personagens ganhem novos contornos não só nas suas apresentações, mas também no decorrer do longa. Todos eles terão momentos importantes no filme, principalmente Flash e Ciborgue, que aqui contam com novas, importantes e emocionantes cenas.
O Tom / Assinatura de Zack Snyder
Outra mudança significativa é o tom em que a história do filme é contada. Enquanto o filme anterior tinha um ar mais inocente e despretensioso, aqui Snyder consegue imprimir sua assinatura. É um filme mais maduro, isso tanto em forma de narrativa quanto em conteúdo. Ao longo das 4 horas de filme, há cenas de ação muito bem-feitas, e algumas dela bem violentas. Nelas além dos golpes, poderes há uma quantidade razoável de sangue e morte, o que dá mais peso a trama e aos embates. Não é apenas o sangue ou violência gratuita, eles fazem parte dentro daquele universo que vinha sendo estabelecido por Zack Snyder, em Man of Steel e BvS. Desta forma podemos dizer que é a sua “trilogia”. E isso faz toda diferença, manter esse tom. Pois no filme anterior, o Batman mesmo parece um outro personagem, totalmente descaracterizado, fazendo piadas sem graça. Em Liga da Justiça Snyder Cut a essência é preservada o que engrandece a obra.
Além das belas coreografias e efeitos especiais nos combates, não podemos deixar de falar de uma das principais características do diretor: o uso do slow motion. Para quem é fã dessa técnica e do diretor é um prato cheio. Snyder usa e abusa do recurso, alguns deles até sendo gratuitos em momentos que não eram assim tão necessários. Mas em outros, nossa, isso dá um peso enorme para as cenas, deixando-as épicas. Frisando nos golpes, esquivas, olhares e expressões. E em muitas destas cenas, elas vem acompanhadas de uma bela trilha sonora (que algumas podem soar estranhas no começo) mas embalam muito bem estes momentos, fazendo assim um belo casamento de som e imagem.
Outra coisa que ficou bem evidente com Liga da Justiça Snyder Cut, é que o diretor melhorou muito na questão narrativa. Aqui tem uma trama bem contada (ainda que com alguns exageros) e que segue uma linha de coesão, assim fazendo com que as 4 horas de filme fluam bem. Todos os personagens são bem trabalhados, e tem os seus devidos momentos. É uma nítida evolução no trabalho do diretor. . As decisões escolhidas para determinados pontos também foram incríveis, como o desfecho contra o Lobo da Estepe, que foi simplesmente primoroso.
Existe um penhasco de diferença em relação ao filme de 2017, onde tudo era genérico demais. Aqui existe a assinatura de Zack Snyder em sua melhor forma. Um filme com alma.
Snyder Cut, vale a pena?
Liga da Justiça Snyder Cut é por si só um grande marco. É quase surreal que ele tenha realmente virado realidade. Pois o dano causado pelo filme de 2017 foi grande demais, tanto que a Warner havia cancelado a continuidade deste universo compartilhado da DC. Os pedidos de Zack Snyder para poder terminar o seu filme, junto aos milhares de fãs, amigos, atores e atrizes, fizeram com que a Warner desse uma segunda chance a esse homem de fazer o filme que ele queria. O filme tem alguns pequenos exageros, alguns efeitos demais de CGI e poderia ser um pouco mais curto? Talvez, mas isso não impacta em nada na experiência incrível que o longa nos proporciona.
Zack Snyder não só aproveitou a chance como fez dela algo épico. Liga da Justiça Snyder Cut não é apenas um filme de super-heróis. É uma obra grandiosa, que conta com bons personagens, ótimos combates, bons efeitos especiais, uma trama bem contada. Nos dá a impressão de que estamos lendo um quadrinho / Graphic Novel, e todo aquele sentimento bom que isso pode despertar em nós, aquele sorriso de satisfação e emoção no olhar, está presente aqui.
Depois de passar por um grande problema pessoal, Zack Snyder voltou a ter forças e acreditou no seu projeto, fez acontecer e hoje ele nos presenteia com um filmão. Este é o filme que a Liga da Justiça merecia. A Warner vai ter uma dor de cabeça das boas agora, pois além de ser um grande filme, Liga da Justiça Snyder Cut deixa diversas sementes plantadas para possíveis continuações (ainda mais com aquele epílogo). Será que o próximo movimento a ganhar força será mesmo o “Restore the SnyderVerse”? Quem sabe não é? Porque ficou um gostinho de quero mais.
Liga da Justiça Snyder Cut é um presente para todos os fãs de quadrinho, cinema e do entretenimento. Um filme que nasceu da união das pessoas. O filme chega em um momento tão difícil do mundo, causado pela causado pela pandemia da COVID-19. Snyder nos entrega uma obra com coração e alma, e nos faz sorrir e emocionar, mesmo em um momento tão complicado da vida. A era dos heróis está de volta. Obrigado Zack Snyder.
E aí meu caro(a) leitor(a) do Meta Galáxia, espero que vocês tenham gostado da resenha desse filme incrível. Liga da Justiça Snyder Cut está disponível no Brasil (dublado e legendado) nas seguintes plataformas: Claro TV, Apple TV, Google Play, Looke, Microsoft, Playstation, Sky, Uol Play, Vivo e WatchBr, para locação por R$ 49,90. Porém vale ressaltar que o tempo de aluguel é limitado, já que o longa só estará disponível até 7 de abril. Após isso Liga da Justiça Snyder Cut, entrará para o catálogo exclusivo da HBO Max, plataforma de streaming da Warner, que tem previsão de estreia no Brasil em Junho de 2021.
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