Crítica da primeira temporada da série Club de Cuervos, da Netflix
Ano: 2015 |
Título Original: Club de Cuervos |
Produção: Netflix | Nº de Episódios: 13 |
Avaliação: ★★★★★ (Excelente) |
Sabemos que a Netflix esconde um catálogo imenso de filmes e séries, incluindo suas obras originais e, entre essas, muitas produções locais, das quais pouco se ouve falar uma vez que habitualmente se tem os holofotes sobre as produções com ares hollywoodianos. E bem, se podemos destacar uma dessas distintas obras autorais fora do mainstream, devemos falar sobre a incrível mexicana Club de Cuervos.
Iniciada em 2015, a série retrata o mundo do futebol por meio de uma perspectiva muito interessante e poucas vezes mostrada em obras que retratam o esporte: os bastidores de uma equipe esportiva mediana, com enorme apelo local e que, devido às suas limitações, encontra uma série de problemas que vão além do âmbito desportivo. Soma-se à ideia a capacidade ímpar da televisão mexicana em produzir comédias dramáticas e um elenco escolhido a dedo para dar conta do recado.
A primeira temporada nos mostra os bastidores do Cuervos de Nuevo Toledo F.C, um time que disputa a primeira divisão do futebol mexicano e que tem como mandatário Salvador Iglesias, que se tornou ídolo na cidade após comprar o clube no passado e levá-lo à elite do futebol em apenas três anos. O clube, embora jamais tenha conquistado um título na divisão principal, é o grande orgulho da cidade de Nuevo Toledo e possui uma torcida apaixonada.
Após uma discussão com o filho, Salvador “Chava” Iglesias Júnior (Luis Gerardo Méndez), o presidente dos Cuervos sofre um ataque cardíaco e morre, causando grande comoção na pequena cidade e, consequentemente, anseios do povo e torcedores pelo futuro do clube. A partir deste momento, se inicia uma ferrenha disputa pela presidência entre Chava e sua irmã, Isabel (Mariana Treviño), ambos herdeiros em partes iguais de todo o legado do pai, incluindo os Cuervos, envolvendo um jogo de bastidores cheio de trapaças, suspeitas e brigas familiares, que acaba por atingir os jogadores e todos os envolvidos.
A abordagem novelesca da série soa perfeita para contar o que se passa dentro da rotina do clube, explorando situações como intromissão política, religiosa e festas extravagantes dos jogadores, mas tem como principal chave o carisma de seus diversos personagens, seja o excêntrico e mimado Chava, interpretado com maestria por Luis Gerardo, que tem longa carreira no cinema e na TV mexicana; o enérgico vice-presidente Félix, personagem do premiado ator hispânico Daniel Giménez Cacho; o compenetrado capitão Moisés Suárez (Ianis Guerrero); ou a analítica Isabel, que possui todas as características exatamente opostas às do irmão, tornando o constante embate entre eles divertidíssimo e acirrado, suficiente para que, em determinados momentos, seja possível torcer para ambos.
Aprofundando a ambientação no mundo do esporte bretão, os coadjuvantes, também incríveis, se tornam fundamentais e ampliam o leque de possibilidades da série em explorar as diferentes características que compreende o universo do futebol. O treinador “velha-guarda” Goyo, o baladeiro atacante argentino Potro, o veterano goleiro Rafa Reina, a displicente estrela europeia Aitor Cardoné e os apresentadores do programa ‘Nación Futbal’ são alguns elementos típicos que encontramos nas grandes histórias sobre o esporte e que dão um toque especial à trama.
Há ainda figuras cômicas que atuam nos bastidores e que roubam a cena, como o entusiasmado assistente pessoal de Chava, Hugo Sánchez (Jesús Zavala), ou a espevitada Mary Luz (Stephanie Cayo, atriz peruana de longa carreira em telenovelas), que diz esperar um filho de Salvador Iglesias, o que só aumenta o bolo de confusões em que os herdeiros do clube se metem, garantindo boas risadas e situações inesperadas.
Club de Cuervos é um prato cheio aos amantes da “pelota”, repleta de referências à lendas do esporte, com citações inclusive a Pelé, Ronaldinho, Messi e outros craques, além de menções à conquistas reais de clubes e seleções, como o Barcelona de Pep Guardiola. Exceto pelo próprio Cuervos, todos os clubes mencionados na liga mexicana são reais, bem como os fornecedores de material esportivo expostos e campeonatos e divisões da liga, citados com frequência ao decorrer dos episódios.
Mas a série vai muito além e, certamente, provou em sua primeira temporada não se restringir somente aos aficionados pela bola em campo. Criativo, original e dotado de atuações memoráveis e carismáticas, Club de Cuervos consegue aliar a paixão pelo esporte mais popular do mundo a uma narrativa maravilhosamente divertida e empolgante, com uma característica muito própria da dramaturgia latina, sempre rica e surpreendente.
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