Hi-Fi Rush é uma aventura colorida e vibrante que celebra a arte dos vídeo-games

Fonte: Divulgação / Bethesda Softworks

Hi-Fi Rush é uma aventura colorida e vibrante, que expressa amor pela arte dos vídeo-games

Lançado no mesmo dia de seu anúncio no mês passado como exclusivo do Xbox e do PC, Hi-Fi Rush é uma grata surpresa. Afinal, muitos títulos AAA de hoje em dia mais se parecem com repetições da mesma receita de bolo com algumas leves alterações. Dessa forma, é de se admirar quando um jogo se propõe a fazer algo diferente só para contrariar as expectativas do jogador. E esse jogo o faz sem perder a afinação. Isso porque Hi-Fi Rush é uma aventura colorida e vibrante que celebra a arte dos vídeo-games.

A ascensão de Chai

Inicialmente, é interessante notar que a aventura de Chai, um aspirante a estrela do rock que tem um MP3 implantado em seu peito depois de um acidente médico, apresenta relevantes tons de metalinguagem. Por exemplo, um dos vilões a serem derrotados no jogo faz referência à falta de “inimigos” para atrapalhar o progresso de Chai. Esse vilão é corrigido por um de seus lacaios, que aponta para o fato de que os “inimigos” do herói são os amigos do vilão. E, é claro, tudo isso é uma referência a sempre constante luta dos heróis de videogames, seja contra lacaios ou os “chefões”.

Inclusive, um dos pontos mais fortes de Hi-Fi Rush é o combate, que se mostra fluido e responsivo em absolutamente todas as ocasiões. Além disso, há a possibilidade de evoluir Chai utilizando fragmentos de peças que são encontrados pelo cenário, o que torna a experiência sempre renovável. É muito satisfatório quando, em um momento posterior da campanha, você percebe as diversas evoluções pelas quais o seu personagem passou desde o inicio. Isso torna a experiência mais gratificante, além de proporcionar um replay-value. De fato, rejogar as primeiras fases em busca de mistérios ou colecionáveis se torna bem mais parecido com a experiência de ser uma estrela do rock. É bem satisfatório derrotar inimigos antes desafiadores com a facilidade de tocar um dó, ré, mi, fá.

Variedade de conceitos incrementam o custo-benefício

Além disso, para um título que já apareceu no primeiro dia na Game Pass e pelo valor razoável (R$109,00 na Steam, no momento em que escrevo essa análise), Hi-Fi Rush é uma experiência bem encorpada. Com um tempo de campanha que varia entre as 10 e 12 horas, o jogo demonstra variedade e dinamismo suficientes para manter qualquer jogador entretido o tempo todo. Trata-se de uma multiplicidade de conceitos que perpassa desde os inimigos até os ataques e as combinações de combos. Apesar disso, admito que senti falta de um level design que refletisse essa constante inovação, já que não é tão comum a aparição de mais fases ambientadas fora dos confins da Vandeley Industries.

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No mais, é interessante mencionar a complexidade do gameplay de Hi-Fi Rush. O game pede do jogador um senso de ritmo, para que Chai possa executar ações da melhor forma. É inovador, apesar de causar uma certa estranheza de início. Há definitivamente uma curva de aprendizado aqui. Mas, uma vez que o jogador consegue dominar essa mecânica, dificilmente alguma batalha conduzirá à frustração. E outro fator que propulsiona o replay-value é o fato de que sempre há espaço para melhorar. Através da avaliação do seu desempenho, o jogo praticamente te convida a se superar o tempo todo. Dessa forma, a tentação de refazer as faixas (o equivalente aos capítulos) é grande, algo que pode aumentar a vida útil do jogo.

História singela reflete a importância do companheirismo

Diversos comentadores haviam definido a história de Hi-Fi Rush como “simples”, mas eu sinto que esse é um ponto forte do jogo. Isso porque, afinal, é necessário considerar qual é a proposta de uma obra como um todo antes de julgar as partes que a compõem. A proposta do título da Bethesda claramente resvala no campo do escapismo, então seria incongruente uma trama repleta de complicações e nuances. Em Hi-Fi Rush, a vida é simples: os vilões são bem demarcados, bem como os mocinhos e, ademais, o objetivo dos nossos heróis é bem fácil de compreender.

Chai e a sua gangue almejam o retorno de um tempo em que uma big-tech inovadora realmente trabalhava para ajudar as pessoas. E eles pretendem fazer de tudo para corrigir todo o mal pelo qual essa empresa foi responsável nos últimos tempos. Eles se movem principalmente pela memória e pela esperança de tornar as coisas melhores. E, sim, há aqui um tom bem sutil que evoca os descaminhos do capitalismo, algo não tão diferente daquilo que é visto em jogos como Stardew Valley e BioShock.

Mas o tema mais recorrente de Hi-Fi Rush definitivamente é aquele que diz respeito à importância da amizade. Chai não conseguiria alcançar a linha de chegada sem a ajuda de seus amigos, algo que ele mesmo reconhece em alguns momentos. Chai, Peppermint, Macaron, Korsica e CNMN brilham através de carisma e próposito. E, de fato, Hi-Fi Rush é uma aventura colorida e vibrante que celebra a arte dos vídeo-games, o que precisa envolver personagens cativantes. Cada personagem que o jogador encontra é único e se encaixa perfeitamente nos temas abordados pelo jogo, o que apenas eleva a experiência, garantindo que o jogador sentirá falta de seus parceiros de jornada assim que os créditos rolam.

Simples mecânicas enriquecem o todo

O gameplay de Hi-Fi Rush.
Foto: Divulgação / Bethesda Softworks

Nesse sentido, até mesmo as mecânicas de Hi-Fi Rush refletem o supracitado tema da amizade, já que é possível chamar os parceiros de Chai para ajudar nas batalhas contra os inimigos. Trata-se de uma mecânica funcional e bem modelada, visto que cada parceiro é melhor em lidar com um determinado tipo de situação. E sim, a abundância de inimigos e amigos em campo, ao lado de itens do cenário e elementos naturais que podem prejudicar Chai talvez pareçam excessivos em alguns momentos. Para alguns jogadores, todos esses elementos atuando simultaneamente em tela afiguram como uma poluição visual, mas faz parte daquela supracitada curva de aprendizado. Com o tempo, é possível distinguir com facilidade o que acontece am cada canto da tela, e apreciar o caos que se torna inteligível aos poucos.

Em alguns momentos, o jogador deverá executar ações de acordo com o ritmo da música. O que é muito parecido, por exemplo, com aquilo que víamos em Guitar Hero. Nessas ocasiões, o jogo indica qual botão deve ser pressionado e por quanto tempo, o que pode parecer simples, mas se torna cada vez mais complicado ao longo do tempo. Em uma determinada seção na faixa final de Hi-Fi Rush, eu simplesmente não conseguia progredir, apesar de pressionar os botões corretos no tempo determinado pelo jogo. Foi muito estranho, tentei até desinstalar e instalar o jogo novamente, para ter certeza de que não era um bug ou algo assim. Isso não resolveu, mas, eventualmente, consegui progredir de qualquer forma. Só pareceu para mim que o jogo utilizou de uma métrica abstrata e arbitrária para definir o que era um acerto.

Jogo alterna entre combate e plataforma 3D

Apesar do combate representar a cereja do bolo para Hi-Fi Rush, existem alguns momentos aqui e ali em que o jogo flerta com elementos do gênero plataforma. São momentos curtos que poderiam ser explorados de forma mais criativa. É aqui que o aspecto repetitivo da ambientação fica mais evidente, o que pode tornar algumas seções um tanto quanto cansativas. Além disso, o pulo de Chai não é tão preciso, algo que dá a constante sensação de que você perdeu aquela plataforma móvel por um milésimo de segundo.

Felizmente, os checkpoints do jogo são bem constantes, tanto nas seções de plataforma quanto nas de combate. Assim, quando o jogador falha por algum motivo, ele geralmente pode aproveitar da oportunidade de tentar de novo imediatamente. No geral, trata-se de uma experiência bem complacente. Hi-Fi Rush é uma aventura colorida e vibrante que celebra a arte dos vídeo-games, o que não necessariamente envolve chefões invencíveis. Eu diria que apenas os dois últimos chefões fogem um pouquinho da curva padrão de dificuldade do jogo, representando um desafio mais considerável. Contudo, quando em apuros, o jogador só precisa lembrar de acertar o ritmo e deixar o seu próprio potencial de estrela do rock fluir livremente.

Conclusão

Dessa forma, é possível afirmar que qualquer lançamento aguardado desse ano terá dificuldades para superar Hi-Fi Rush. Trata-se de um jogo colorido, inovador, divertido, estiloso e engraçado que expressa o que há de melhor nos vídeo-games. A aventura de Chai e amigos é uma para ficar na memória. E, não apenas isso, aqui temos uma campanha digna de ser jogada de novo e de novo, o que não é uma conquista banal para os jogos de hoje em dia. Em uma segunda tentativa, eu sinceramente espero que a Tango Gameworks evolua todos os conceitos que foram apresentados nesse primeiro esforço.

André Lários
Graduando em Letras, assiste séries e joga vídeo-game nas horas vagas.

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