Para quem torcer em House Of The Dragon? Entenda o conflito
Para quem torcer em House Of The Dragon? Cuidado, pois o seguinte texto contém spoilers dos episódios 1-6 de House of the Dragon, nova série da HBO Max.
Quem vai ficar com o Trono de Ferro no final das contas? É a questão no coração de House of the Dragon, assim como era em Game of Thrones. E parte da diversão de assistir a ambos os programas é decidir quem você quer ocupar o lugar depois de formar anexos à grande variedade de personagens e torcer pelo seu candidato preferido para obter o cobiçado prêmio de governar Westeros. Mas devemos realmente torcer por algum dos personagens de House of the Dragon? É uma pergunta complicada e para respondê-la é preciso olhar atentamente para a moralidade, ou a falta dela, mostrada no mundo ficcional de George R.R. Martin.
Ambos os lados da Dança dos Dragões estão indo atrás do poder
Os romances George R.R. Martin nos quais eles se baseiam fornecem uma visão brutalmente honesta do gênero de espada e feitiçaria. Não é que muitos acreditam que mundo de Martin seja mais realista do que o de outras narrativas de fantasia, no quesito de o universo das Crônicas de Gelo e Fogo mostra que esse tipo de sociedade é horrível de se viver, especialmente para aqueles sem poder, mas também para aqueles que o exercem.
House of the Dragon mergulha ainda mais fundo nesse atoleiro moral do que Game of Thrones. A série anterior apresentava personagens que permaneceram mais ou menos justos. Nisso, se incluindo por exemplo a família Stark e personagens coadjuvantes como Davos Seaworth (Liam Cunningham) e Samwell Tarly (John Bradley). Sim, mesmo esses personagens tiveram que fazer concessões morais de vez em quando. Contudo, somente após serem forçados a situações impossíveis por seus inimigos. Além disso, foram motivados pela lealdade a amigos e familiares e até desejos altruístas de proteger o mundo.
Em House of the Dragon, admitindo ou não, todos os personagens principais até agora possuem como motivação a busca do poder e consolidar a posição de sua família ou de outro grupo. A série habilmente cria personagens que são simpáticos e atraentes, incentivando a lealdade do espectador, ao mesmo tempo em que deixa bem claro que todos são repreensíveis.
Cada um dos personagens em House of the Dragon tem uma falha fatal
Talvez o exemplo mais claro disso seja a caracterização do atual rei, Viserys I Targaryen (Paddy Considine). Inicialmente, Viserys parece outro líder problemático, pouco melhor que seu descendente de mesmo nome em Game of Thrones. No primeiro episódio, ele está consumido pelo desejo de um filho para servir como herdeiro direto do sexo masculino. Dessa forma, ele diz a sua equipe médica para submeter sua esposa a um tratamento destinado a salvar a criança durante seu complicado parto, apesar de saber que poderia muito bem matá-la. E é o que faz, mas sem conseguir salvar o bebê. Contudo, os outros episódios ganharam o personagem se não carinho pelo menos simpatia e pena.
Ele mostrou alguma força moral ao se recusar a se casar com Laena Velaryon (Nova Foueillis-Mose), de 12 anos, embora isso fosse o movimento mais politicamente estratégico que ele poderia fazer na época, e ele se recusou a voltar atrás. E sua palavra para sua filha Rhaenyra (Milly Alcock/Emma D’Arcy) de que ela será sua herdeira apesar da pressão política de várias frentes para fazê-lo. Mas justamente quando alguém sente que está começando a gostar dele, há algum lembrete daquele terrível pecado inicial. É assim que acontece com todos os personagens principais, que provam ter alguma falha fatal ou outra que os impede de serem dignos de total lealdade ou liderança.
As protagonistas da série, Rhaenyra e sua ex-amiga Alicent Hightower (Emily Carey/Olivia Cooke), são as mais simpáticas de suas personagens principais até agora. As duas são exploradas por causa de seus gêneros e tornam-se peões de seus pais. Daemon (Matt Smith) influenciou Rhaenyra por anos até que ele a seduz no episódio 4 antes de deixá-la sozinha em um bordel. Alicent recebe ordens por seu pai, Otto (Rhys Ifans), a confortar o rei após a morte de sua primeira esposa, levando o homem muito mais velho a se casar e ter vários filhos com ela.
Esses maus-tratos e suas personalidades tornam as personagens queridas pelo público, mas só podem ser vistos como boas líderes em potencial se olharmos para as coisas através das lentes distorcidas de Westeros. As duas são inteligentes, mas tudo que fazem são maneiras que beneficiam seus próprios lados na crescente guerra civil pela liderança, que os consumiu no episódio mais recente.
Suas respectivas reivindicações ao trono e a ideia do governo Targaryen em geral também são antiquadas. A dinastia Targaryen é construída sobre a base tênue e imoral de poder fazer o certo. Os Targaryen e seus parentes os Velaryons acreditam que são pessoas superiores com o direito divino de governar por causa da conexão de suas linhagens com a Velha Valíria. Esse tipo de pensamento, de que a genética pode tornar uma pessoa superior a outras. E é o que leva a horrores como racismo, eugenia e incesto. O que realmente permitiu que os Targaryens assumissem o poder, como observa Daemon, é o controle de uma infinidade de dragões. E é exatamente o que dá ao seu lado uma vantagem insuperável em conflitos militares.
A reivindicação de Rhaenyra é construída apenas por ela ser a filha Targaryen do rei e uma montadora de dragão. Alicent é apenas que ela é a esposa do rei e a mãe de seus filhos. Ambos estão completamente enraizados em um sistema que é inerentemente falho e suas respectivas faltas de ideologia e preocupação com as pessoas que governariam destacam por que, apesar de suas dificuldades, eles não merecem sentar no trono. Todo mundo sabe como sua descendente Daenerys (Emilia Clarke) acabou, mas até ela fez mais para ganhar a lealdade de seus seguidores devido ao seu sucesso inicial em abordar o sexismo e a escravidão.
Tudo isso mostra que, se abordarmos a questão de saber se devemos torcer por um lado ou por outro enquanto assistimos House of the Dragon de uma perspectiva moderna, a resposta é um firme não. Mas, novamente, isso faz parte da diversão da série, e os espectadores não devem se abster disso. Então, a resposta, na verdade, é sim, devemos torcer por quem quisermos. Concorda com isso?
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