Nome: Boku Dake ga Inai Machi | Data: 2016 |
Estúdio: A-1 Pictures | Criador: Kei Sanbe |
Diretor: Shinya Watada Tomohiko Ito | Episódios: 12 (~20 minutos cada) |
Disponível em: Crunchyroll |
O anime também possuí uma série live-action lançada pela Netflix que vale muito a pena ver. Confira a análise aqui.
Boku Dake Ga Inai Machi é sobre o quê?
A história de Boku Dake ga Inai Machi (vou resumir para Boku Dake na próxima rsrs) chama a atenção imediatamente pela questão da viagem no tempo. Tal questão que, se por um lado é uma coisa chamativa e pode render grandes histórias, por outra pode arruinar premissas interessantes ao tentar se aprofundar demais nisso. Felizmente o anime utiliza a viagem no tempo somente como um gatilho à história principal e depois foca no interessante que é o mistério e a vida do protagonista. Com isso, acaba equilibrando perfeitamente todas as abordagens que tenta fazer ao longo dos mais do que suficientes 12 episódios.
Toda a abordagem do presente do protagonista mostra sua falha como ser humano, e mostra desde o primeiro episódio a sua resistência para com todos, tanto com sua mãe quanto com Airi, sua amiga. Essa resistência às pessoas criou uma pessoa solitária e covarde, num presente em que ele tenta entender o comportamento humano sem nem se entender direito. Uma bela abordagem disso é mostrada imediatamente na relação com sua mãe. Tal relação mostra que as coisas mudaram com o tempo, já que na sua infância eles costumavam ter uma relação mais próxima. No processo de tentar mudar o futuro, Satoru também aprende o valor de alguns momentos, um simples jantar com sua mãe ganha um novo significado e ele passa a entender as consequências de sua covardia.
A evolução do protagonista
A partir dessa premissa o autor não se limita somente a desenvolver o mistério do desaparecimento de Kayo, mas também a segunda oportunidade que Satoru tem de se tornar outra pessoa e como isto pode alterar a vida das pessoas a sua volta. Um esforço necessário não só por ele, mas também por sua mãe e até pessoas desconhecidas. Isso tudo ocasiona no último episódio mostrando todos os resultados da nova personalidade do protagonista. De uma maneira um pouco mais expositiva, mas que pode ser percebida ao longo dos episódios. E isso tudo vem da diferença entre fingir querer ajudar e realmente fazer o seu melhor, já que enquanto numa você faz só o mínimo para agradar, na outra você se sacrifica e passa a entender o mundo a sua volta, realmente sendo capaz de ajudar os outros.
Trauma
Fugindo dessa questão mais psicológica, vamos ao enredo que envolve a principal premissa da história: A busca pelo assassino e sequestrador. O mistério pode ser dividido em três partes, o contexto em que aprendemos o porque de Satoru ter voltado 18 anos no tempo, o aprendizado sobre Kayo e as ações do sequestrador e por último o confronto.
Rapidamente entendemos a razão de Satoru ter voltado para aquela época e evitando de subestimar sua audiência o roteiro não tenta esconder a relação entre as mortes no passado e a morte do futuro. Com isso, acaba focando mais na tentativa de Satoru em salvar Kayo. Salvar a garota tem relação com seu trauma de infância é ter sido covarde e não ter ajudado alguém, já que ele, mesmo só com 11 anos, sabia que poderia ter ajudado.
Ao longo de sua tentativa de salvar Kayo, Satoru vai tentando entender as razões do sequestrador e o mistério em relação a sua identidade é que move a trama. Também é, principalmente, o que nos causa a curiosidade de ver o próximo acontecimento, já que o primeiro episódio mostra que normalmente o protagonista se da mal quanto consegue evitar algo. Tal consequência certamente mantém a aura de perigo independente das ações de Satoru darem resultado ou não.
Qualidade que virou defeito
O roteiro, porém comete o erro de, ao mostrar somente o ponto de vista do protagonista, acreditar que concordaríamos com todas suas deduções. Sendo que, na verdade sabemos que uma das pessoas é culpada. A ausência de um suspeito direto por parte de Satoru em todos os episódio nos leva a crer na mais obvia. Essa é a maior falha do anime, que deixa bem claro a identidade do assassino da metade em diante. Mas isso acontece exatamente pela falta de suspeitos e não pelas pistas serem extremamente expositivas, algo comum em mistérios de animes.
Claro que não há problema em o protagonista não conseguir identificar o culpado, mas a maneira com que o roteiro nos corta todas as possibilidades de, por exemplo, Yuuki ser o culpado, se mostra desnecessária. Seria interessante manter a dúvida quanto a culpa dele até o fim e não expondo a todo momento que ele foi incriminado, deixando a dúvida na cabeça do telespectador, mesmo que na cabeça do protagonista ele fosse inocente. Com isso, sem ninguém para suspeitar e com a certeza de que o assassino era alguém que já conhecíamos, o minimo indicio de culpa já era o suficiente.
Um final corrido
A relação com Airi cria um paralelo com o passado e serve puramente para desenvolvimento do protagonista, já que toda a trama do presente é descartada a partir do final. Inclusive, este surpreende em parte, mas fica um pouco corrido e forçado, apesar de aceitável. A relação de Satoru com o vilão é construída rápido de mais, algo que demanda um pouco de boa vontade e de raciocínio para se tornar aceitável, o que já mostra que não foi desenvolvida como deveria. (pela questão da boa vontade, ter que raciocinar não é defeito).
Enfim, o anime mostra algumas lições de vida, conta com uma trama envolvente e que cumpre com sua premissa, sem se tornar expositiva demais. Além disso, lida bem com questão de viagem no tempo. Boku Dake Ga Inai Machi é uma ótima história e qualquer um que goste de mistérios deveria dar uma chance. O exercício de tentar descobrir quem é o assassino e também a oportunidade de ver alguém tentando mudar o futuro sempre chama a atenção e funciona muito bem aqui. Vemos, porém, mais do que isso e passamos a fazer o exercício pessoal de imaginar o que poderíamos ter feito diferente. Ao contrário de Satoru, não podemos voltar no tempo, mas podemos mudar o presente imaginando a pessoa que temos que ter coragem de ser.