HULK CINZA – RESENHA

Jeph Loeb e Tim Sale fazem aqui um grande trabalho acerca da dualidade que permeia o incrível Hulk

Resenha da HQ Hulk Cinza, da dupla Jeph Loeb e Tim Sale

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“… Ela me amava porque via o monstro como alguma coisa familiar… como algo… alguém.. que ela podia amar.

-Nem tudo é tão preto e branco como você está descrevendo.”

(-Trecho de uma das conversas entre Bruce Banner e Leonard Samson)

Hulk Cinza – A terceira parte da quadrilogia das cores da Marvel Comics

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Após o lançamento de Demolidor Amarelo e Homem-Aranha Azul, chegou a hora da dupla criativa abordar outro ícone da Casa das Ideias. E desta vez seria o Golias Esmeralda, o incrível Hulk. E justamente por ter dito essa alcunha do personagem, logo de  início a primeira cor que viria a nossa cabeça seria a cor verde. Que está atrelada fortemente  imagem do personagem, desde sua origem com a explosão da bomba gama, que transformou Bruce Banner para sempre.

Ou seja, Hulk Cinza é a terceira (e penúltima) parte da quadrilogia das Cores, que se encerra com Capitão América Banco, assim fechando esse trabalho da dupla Loeb e Sale. Hulk Cinza foi republicado aqui no Brasil a não muito tempo pela Editora Panini Comics. (E que nesse momento está com desconto, então vale a pena aproveitar)

E já vale dizer de antemão, algo que nesta quadrilogia está se tornando redundante: que trabalho sensacional de roteiro e arte da dupla Loeb e Sale. Aqui temos mais um material daqueles que vale a pena ter na sua coleção.

A Premissa de Hulk Cinza

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Como falamos nos títulos anteriores, esse trabalho das Cores sempre tinha uma premissa  que partia de uma certa “fórmula”: que seria recontar o passado de algum herói, vinculando isso a alguém próximo que eles perderam, e isso atrelado a uma cor. Nesta publicação vemos Bruce Banner recontando seus primeiros momentos como Hulk, e com isso também recordações ligadas ao seu grande amor, Betty Ross. E a cor, como já está explicito no título, foi a cor cinza.

Jeph Loeb e Tim Sale irão nos mostrar um lado mais intimista do Hulk/Banner onde o monstro que assustava a todos pela sua aparência e sua força descomunal, estava apenas tentando seguir seu coração e ficar perto de quem ele amava.

O Médico, o Monstro e a Dor

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Desde sua origem, o Hulk sempre foi permeado pelo dilema do Médico e Monstro. Bruce Banner sempre foi uma das mentes mais celebres da Marvel, porém tinha um físico franzino e um jeito calmo e racional de lidar com as coisas. Quando ocorre o acidente com a bomba gama, que ocasiona no nascimento do Hulk, vemos o total oposto a isso: um ser que quase não raciocina, um ser que age por instinto / sentimento, e que tem uma força descomunal, sendo quase invencível. Essa dualidade sempre foi um dos pontos altos do personagem para ser explorado.

Como nas edições anteriores, aqui vemos um Bruce Banner relembrando essa época, onde nascera o Hulk e como isso impactou sua vida e principalmente a de Betty Ross. Para tal, ele vai até o consultório do psiquiatra,  Leonard Samson, e através dos relatos desse “divã” é que se dá a narrativa e reflexões em Hulk Cinza.

E essa escolha é um grande acerto para obra, já que assim além das lembranças propriamente ditas, possibilitou a reflexão através das indagações de Samon a Banner, e daí surgem diversas conversas bem interessantes, que colocam em cheque as ações e motivações do Hulk e principalmente em como Banner enxerga tudo isso, e carrega consigo uma grande culpa por tudo que aconteceu com Betty Ross.

O que define um monstro?

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Através dos relatos de Banner notamos o quanto existe o conflito com se outro eu, o Hulk. Afinal, uma pessoa que é totalmente elucidada pela ciência e a razão, vê no Hulk uma força praticamente incontrolável, que em seu ponto de vista arruinou a sua vida e a de quem era próximo a ele. E o oposto também é verdade: O Hulk odeia Banner, já que o vê como algo frágil, fraco e que o impede de atingir o seu verdadeiro potencial. E falando desta maneira, fica parecendo que tudo é muito simples, separando assim o lado bom e o lado mau.

Mas claro, nem tudo é tão simples nem tampouco maniqueísta. E em Hulk Cinza podemos notar um pouco dessas nuances com o decorrer da narrativa. Além do próprio Hulk que é o exemplo mais constante, temos também seu arqui-inimigo, o General Ross. Em vários momentos, notamos o quanto as ações do General são implacáveis e radicais. E isso não apenas se tratando ao combate ao Hulk, mas também na relação dele com sua filha e grande amor de Banner, Betty Ross.

O Hulk é visto como um monstro devido a sua aparência estranha e sua força. Ross devido as suas ações frias e calculistas. E no meio disso tudo, está Betty Ross, vivendo (e sobrevivendo) entre esses monstros. Nota-se aqui que nem tudo é oito ou oitenta, existem diversas situações que essa definição de monstro fica muito rasa para definir estes personagens. E justamente através do olhar de Betty Ross que vamos notando essas pequenas entrelinhas que nos fazem refletir acerca das condições destes personagens.

A cor cinza

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A cor cinza pode vir a significar coisas como: neutralidade, elegância, sofisticação e ausência de emoção. Por ser uma cor “neutra”, o cinza não tem nas suas características a capacidade de estimular ou tranquilizar. Ou também uma cor que tem como essência, o conflito de duas forças opostas, duas cores que se opõem. Assim representando além de uma neutralidade, na verdade um equilíbrio, um meio termo.

Além desses possíveis significados, é impossível não associar Hulk Cinza aos primórdios do personagem, lá na época de sua criação, onde ele era cinza, ao invés de verde. E ao trazer de volta essa abordagem para a história, a trama ganha em questão de dilemas envolvendo as duas facetas do personagem e sua luta interna pelo controle da situação e de suas vidas. Porque nenhum dos dois é perfeito, ambos tem seus defeitos. E os dois também tem algo incomum, algo que lhes dá sentido a vida: o amor verdadeiro que sentem por Betty Ross.

Como é pontuado em diversos momentos durante a narrativa e nas conversas entre Samson e Banner, nada é só preto e branco, bom ou mau, existe um meio termo ai, que seria a cor cinza. E essa correlação utilizando essa cor com esse tema, além do visual do personagem, só ajudam a reforçar que não haveria cor mais apropriada para essa história do que essa.

Hulk Cinza, Vale à pena?

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Não é difícil responder a essa pergunta, já que, Hulk Cinza é uma história sensacional do personagem. Se você já conhece o personagem, vai adorar como as coisas foram recontadas aqui. Como nas edições anteriores, é algo que já sabemos como foi (a grosso modo), mas não pela ótica mais carregada de sentimentos que essa obra nos traz. O dilema de Banner/Hulk é muito bem pontuado aqui, sendo pelos textos de recordatório, ou pelos diálogos no consultório, vemos o quanto pode ser rica essa discussão se bem explorada. E também se você não conhece o personagem tão bem assim, aqui também pode vir a ser um começo bem interessante.

E além do texto poderoso, não podemos deixar de falar da arte de Tim Sale, que mais uma vez, faz um trabalho sensacional. Ele consegue captar o Hulk com sua aparência bruta e implacável, que passa medo a todos que o veem. Mas ao mesmo tempo notamos que o Hulk tem uma melancolia e tristeza em seus olhos verdes em meio a escuridão da noite. É possível notar a angústia do Hulk apenas contemplando o semblante dele pela arte apresentada. Ou seja, tanto Banner quanto Hulk só querem viver, e voltar para casa. E assim o roteiro de Loeb e arte de Sale conseguem transmitir isso muito bem.

Hulk Cinza tem uma trama bem contada, que até de certa forma é simples, mas de forma alguma é rasa. Como dissemos acima, existem diversos pontos que cabem reflexões mais intensas acerca das condições sobre o que podem definir um monstro. Porque se analisarmos a fundo, podemos notar muitas semelhanças entre nós e o Hulk, afinal todos nós só queremos viver e ter um lar, um lugar para voltar. E nem por isso somos monstros. Ou somos?


Esperamos que vocês tenham gostado da resenha de Hulk Cinza, pois é um quadrinho que realmente vale muito a pena, pois nos dá uma ótica mais sentimental / melancólica sobre a condição do personagem e seu eterno dilema.

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ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
HULK CINZA - RESENHA
André Betioli
Contador formado e atuante de profissão. Grande fã da cultura pop em geral. Amante da cinema, quadrinhos e animes, e através disso tentando entender um pouco mais da realidade através da ficção. Considero Os Cavaleiros do Zodíaco a melhor coisa já feita pela humanidade.
hulk-cinza-resenhaJeph Loeb e Tim Sale fazem aqui um grande trabalho sobre o dilema do incrível Hulk. E nos trazem a pergunta: O que define ser ou não um monstro? Tudo sob uma ótica mais sentimental sobre a trajetória do personagem.

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