Com o sucesso, muitas séries sofrem grandes pausas e demoras para sair novas temporadas. GOT, por exemplo, precisou de dois anos para o lançamento de seu ano final. Outro exemplo é Sherlock, série britânica que devido a agenda conturbada de Benedict Cumberbach e Martin Freeman, sempre demorou para lançar novos episódios. Uma das formas de manter o material original em evidência é o lançamento de episódios especiais, como o Especial de Natal da já citada Sherlock. Ashin do Norte cumpre o papel de manter material de Kingdom para não deixar a série cair em esquecimento até o lançamento de seu terceiro ano. Todavia, o episódio mostrou que é mais do que só um especial da Netflix.
Um especial, um filme, uma história fechada
Talvez o maior mérito de Ashin do Norte está em sua função na história. Você pode assistir ao episódio a qualquer momento, seja como um prequel das duas temporadas ou mesmo da terceira, que acredito que seja sua função na cabeça dos roteiristas. Isso está devido a história ter um roteiro bem fechada dentro dela mesma, deslizando rapidamente para a série principal em seu final, fazendo uma conexão com acontecimentos que ouvimos falar, principalmente na primeira temporada.
Ainda que seja parte de uma série, Ashin do Norte também pode ser assistida individualmente. Uma pessoa menos atenta pode acreditar se tratar de um filme, por mais que falte uma conclusão para ele. Num geral, o episódio adiciona pouco a mitologia da série, mas creio que o foco era no desenvolvimento de Ashin e nisso ele se torna extremamente importante para a continuidade da terceira temporada. Ao mesmo tempo, acredito que há pouco prejuízo para que não assistir exatamente devido a esse foco quase que total na protagonista. Há um desenvolvimento político baseado em uma explicação rápida e um pouco confusa no início do episódio, que é o ponto fraco dele, inclusive.
Em resumo, o especial possui todas as já conhecidas qualidades de Kingdom, desde o primor técnico, com a ambientação da época, fotografia e a sempre boa utilização dos efeitos sonoros em momentos chaves. Chame a atenção a utilização do tigre zumbi, ainda que pareça ter faltado um pouco de orçamento para o melhor aproveitamento do animal. Também, a câmera abusa um pouco no zoom do rosto da protagonista, o que tira um pouco o efeito da prática, mas nada que prejudique a experiência.
O nascimento de Ashin do Norte
Como dito anteriormente, o foco do especial era no desenvolvimento de sua protagonista, que deve ter um grande papel nas próximas temporadas de Kingdom, dessa vez, como vilã. Temos o tipico desenvolvimento do vilão que viu a injustiça do mundo e cresceu no sofrimento. Pra mim, porém, incomoda a utilização do estupro, que aparenta não ter qualquer impacto real no desenvolvimento da personagem. Comumente, o ato é utilizado para exemplificar o sofrimento feminino, seja em séries medievais, ou mesmo em contextos atuais, como se fosse uma espécie de ‘batismo’: a mulher não sofreu o suficiente, se não tiver sido estuprada. Considerando o quanto isso impacta no episódio, por mais crível que seja, é desnecessário e apelativo.
Sobre a utilização de um especial, acredito que o foco era desenvolver Ashin sem ter que ‘gastar’ tempo de tela na série principal. Assim, o telespectador irá conhecer a personagem e seu lado, sem que tudo precise ser explicado e prejudique o ritmo da vindoura terceira temporada. Ao mesmo tempo, como eu já disse lá no início, o episódio cumpre a função de manter o nome de Kingdom em pauta. Uma pena que o especial não tenha vindo acompanhado do anúncio da terceira temporada com data e tudo, daria mais valor a ele.
Em conclusão, Ashin do Norte é mais um episódio que mantém a qualidade de Kingdom, assim como algum de seus defeitos já conhecidos. Cumprindo uma função quase perfeita na mitologia da franquia em se encaixar sem fazer falta, o roteiro se mostra bem inteligente e consciente. Serve como entretenimento e como um episódio isolado. Vale e muito a pena ser conferido até mesmo como introdução pra quem não viu as duas temporadas da série.