O fan service de anime pode realmente ser feito da maneira certa?
Não é um segredo desconhecido que a indústria de anime faz amplo uso de serviços voltados para os desejos dos fãs, muitas vezes de natureza sexual, com o intuito de cativar sua audiência, dando uma nova dimensão ao conceito de “fan service”. Enquanto os fãs ocidentais estão familiarizados com o “fan service” no sentido de oferecer elementos especiais como aparições aguardadas ou reintroduções de personagens, os entusiastas do anime percebem esse termo como uma exibição de personagens, predominantemente femininos, em trajes sugestivos. Ainda que esse tema seja frequentemente controverso, existe a possibilidade de encontrar um ponto de equilíbrio.
Há fãs do anime que apreciam consideravelmente esse tipo de serviço, mesmo quando ele é apresentado de forma mais explícita, especialmente se eles são o público-alvo a quem esse serviço é destinado. Por outro lado, existem outros fãs que se opõem vigorosamente a esse serviço, argumentando que ele objetifica e deprecia os personagens envolvidos. Felizmente, é importante notar que, embora algumas instâncias de fan service sejam desnecessárias, ainda existem maneiras pelas quais os personagens do universo do anime podem explorar a temática da nudez de forma sensível, sem cair na vulgaridade. É válido comentarmos que, aqui, não estamos falando necessariamente de obras hentai ou ecchi, onde já estamos esperando ver de tudo. Afinal, os gêneros citados são próprios para isso mesmo! Estamos falando daquela obra que nem esperávamos esse conteúdo mais sexual, principalmente sendo para um público mais jovem.
Os problemas do fan service gratuito
Na sua forma mais problemática, o fan service no mundo do anime se converte em uma tática direta e simplista para manter os espectadores engajados com o material. Em muitos casos, os próprios animadores e autores de mangás acabam dependendo excessivamente dele. Isso leva a uma situação em que o estilo prevalece sobre a substância, resultando em algumas séries de anime/mangá que carecem de mérito artístico. Uma narrativa de qualidade deve ser capaz de se sustentar por si só, e a inclusão de nudez ou até mesmo cenas de sexo integral deve ocorrer somente se for realizada com sensibilidade e se contribuir genuinamente para o enredo, o desenvolvimento dos personagens e os temas abordados.
Claro, também é importante observar (mais uma vez) que não estamos falando de obras hentai ou ecchi, onde esperamos exatamente esse tipo de conteúdo. A questão seria aquele anime ou mangá que a gente nem esperava esse conteúdo!
Embora algumas séries abordem isso de maneira equilibrada, como é o caso de algumas séries seinen como Berserk, onde Guts e Casca compartilham um momento íntimo significativo e é mesmo uma obra para o público adulto, muitas vezes as séries de anime simplesmente exploram o fan service como um exemplo gritante de “exploração sexual”. E são exemplos gritantes de “exploração sexual” que nem sempre são para o público adulto.
O fan service pode assumir várias formas, cada uma direcionada a diferentes públicos, mas o exemplo mais comum é o fan service relacionado às personagens femininas, voltado para o público masculino dos animes shounen. A maioria dos entusiastas de anime poderia prontamente citar alguns exemplos. Mesmo quando algumas séries são concebidas como narrativas eróticas centradas em aventuras ardentes, elas frequentemente incorporam fan service de maneiras excessivas e até prejudiciais, o que também ocorre em séries Battle Shonen. Isso não apenas quebra a imersão de forma óbvia para atrair os espectadores, mas também pode distorcer suas percepções. Os espectadores mais jovens, que estão descobrindo como se relacionar com o sexo oposto, podem receber uma impressão distorcida do que é apropriado.
Apesar de o anime ser claramente uma ficção, o fan service carrega o potencial de causar impactos negativos. Enquanto algumas séries poderiam exemplificar amizades saudáveis e normais entre homens e mulheres, infelizmente, outras reforçam a ideia de que as mulheres existem apenas para exibir um pouco de pele, o que é evidentemente falso e inaceitável. Todo esse excesso de fan service também pode desencorajar novos adeptos do anime, que podem não se sentir atraídos pelo que veem e presumir que a maioria das produções anime segue esse padrão. O universo do anime é vasto e diversificado, e algumas séries com abordagens inadequadas de fan service não devem ser capazes de manchar a experiência completa para os recém-chegados.
Felizmente, existem maneiras de superar esse problema sem adotar uma postura excessivamente conservadora e sem tratar o corpo humano nu como algo vergonhoso. Encontrar um equilíbrio é viável, e há exemplos dos quais podemos aprender.
Como o fan service de anime pode ser feito corretamente
O conceito de fan service no anime não está necessariamente condenado, mesmo que muitas séries lidem com isso de maneira inadequada e nem todos os fãs o apreciem. A chave reside não tanto na quantidade de pele exposta por um personagem, mas nos motivos por trás disso e, acima de tudo, na maneira como o próprio personagem encara essa exposição. Essa distinção se dá entre um personagem que exibe seu corpo com confiança e um que é explorado pela trama.
O fan service se torna problemático quando vitimiza um personagem, frequentemente do gênero feminino, retirando suas roupas de maneira arbitrária e deixando-o embaraçado ou desconfortável. Isso é fan service sem o consentimento do personagem, e é aí que reside a verdadeira preocupação com o fan service no mundo do anime. Embora muitas vezes seja tratado como humor ou brincadeira, muitos fãs de anime não encontram satisfação nesse tipo de abordagem. Evitar esse tipo de fan service é apenas o ponto de partida.
As séries de anime não precisam abandonar completamente a representação de nudez de classificação PG-13 ou R, mas sim refiná-la para algo mais significativo. O fan service positivo acontece quando um personagem se sente à vontade com sua exposição parcial ou completa, revelando a pele por suas próprias razões. Na prática, isso seria apresentado com moderação, já que o fan service do tipo “rasgar roupas” pode ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar, enquanto o fan service positivo requer contexto e a caracterização correta. Isso é, contudo, possível e, idealmente, a indústria de anime eventualmente adotará essa abordagem de fan service principalmente fora do âmbito do anime hentai, que é muito mais obscuro e voltado para um nicho específico.
Em outras palavras, o fan service deveria surgir como uma extensão natural do próprio personagem, expondo o corpo por razões positivas e inspiradoras, como trajes de verão em um episódio de praia, um flerte elegante entre personagens ou situações similares. Algumas séries de anime recentes ilustram como isso pode ser alcançado de maneira eficaz. Um exemplo foi em Hell’s Paradise: Jigokuraku que tentou evitar fan service exagerado. Ou seja, você vai ver sim referências a sensualidade e tudo a mais, mas não é algo que fica surgindo “do nada” e sim como parte do enredo. Por outro lado, por mais que o anime seja legal, não vi necessidade de tamanha sensualidade de Marin Kitagawa, a protagonista de My Dress-Up Darling. Afinal, ela ainda é uma estudante comum de ensino médio. Você concorda?