Meg’s Monster é uma tragédia que emociona através da simplicidade

Uma singela aventura, contada através de belos gráficos pixel art

Com lançamento programado para o dia 2 de março, Meg’s Monster é um daqueles joguinhos indies que nos fazem lembrar do pontecial dos vídeo-games para conquistar e comover. Apesar de ser um jogo curto, a experiência causa uma impressão. Isso porque é evidente que há coração e o intuito de contar uma história singular aqui. Um esforço admirável, apesar de imperfeito, que só poderia ter vindo de um estúdio independente, Meg’s Monster é uma tragédia que emociona através da simplicidade.

Jogo foca em contar uma história em detrimento do desafio

Meg’s Monster é um lançamento independente da Odencat, o mesmo estúdio por trás de Bear’s Restaurant. Trata-se de um jogo em pixel art que conta a história de Meg, uma garota que cai no submundo e faz amizade com Roy, um monstro mal humorado que só queria comer a sua gororoba em paz. Meg é uma garota meiga e carinhosa, que não sabe como foi parar em um lugar tão estranho. Por algum motivo, quando ela fica com vontade de chorar, o mundo ameaça terminar de uma vez só. Por isso, Roy decide tentar ajudá-la a voltar para casa, tomando um cuidado especial para não deixar Meg triste.

Trata-se de uma jornada comovente e instigante, que é contemplada por um gameplay simples, mas eficiente. Aqui, controlamos Roy em meio aos seus esforços para ajudar Meg. O jogador pode apenas andar e interagir com os objetos do cenário, que muitas vezes desbloqueiam as etapas seguintes da história. Não há complicações por aqui e, além disso, o jogo é bem leniente. Na única vez em que atingi um game over, o “retry” me colocou de volta no exato lugar em que havia parado. Esperava mais dificuldade por se tratar de um jogo indie, mas isso não prejudica a experiência, já que o foco aqui é a jornada e não os empecilhos que se encontra por ela.

Mecânicas criativas resultam em consistência tonal

Em suma, Meg’s Monster consiste basicamente em uma aventura visual, mas, em alguns momentos, Roy deve batalhar contra aqueles que se colocam entre ele e a sua missão. Nessas ocasiões, o HP de Roy praticamente nunca será um problema (com a exceção, talvez, da batalha final). Mas, conforme Meg presencia Roy se machucando, ela ameaça chorar, o que pode provocar o fim do mundo mesmo se Roy estiver saudável. Eu gostei desse toque especial, o que apenas salienta o fato de que o mais importante aqui é simplesmente cuidar de uma criança. Isso mostra que o jogo é focado na maneira como a história se traduz em suas mecânicas. Meg’s Monster consiste em um tragédia que emociona através da simplicidade, providenciando assim uma consistência tonal que enriquece a experiência.

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Apesar disso, para que o jogador aprecie a história, faz-se necessário que ele ignore algumas conveniências narrativas que são bem evidentes. O conceito em si de Meg’s Monster afigura como um pouco batido: o monstro ameaçador que passa a se apegar pela criança. A criatividade exibida pela concepção de mundo não se reflete nas batidas narrativas. Contudo, isso não tira o brilho da história como um todo, que não hesita em surpreender com um twist inesperado envolvendo um de seus personagens mais importantes. Em alguns momentos, é inevitável se emocionar com um jogo que, na reta derradeira, adquire até mesmo ares trágicos. Apesar de que, mesmo despertando comoção, é bem evidente que o final apela ao sentimentalismo meloso para atingir isso.

Personagens carismáticos concebem uma experiência e tanto

Os monstros que Meg encontra pelo caminho são carismáticos e nem de perto tão ameaçadores quanto monstros deveriam ser. Aqui, é válido destacar Gustav, o temeroso, mas gente boa, guardião do submundo, que busca manter o pacto de neutralidade com os humanos a qualquer custo. Aliás, à guisa de explicação, o pacto de neutralidade firmado entre humanos e monstros garante que os primeiros não interfiram nos negócios dos últimos. Em troca, os humanos podem descartar livremente o lixo deles no submundo. No que diz respeito aos personagens, o jogador encontra diversos em sua jornada que são realmente memoráveis. São figuras que exalam vida e preocupações palpáveis, algo que os torna cativantes, mesmo com a aparência grotesca.

Contudo, eu sinto que essas figuras ainda tinham potencial para serem exploradas de forma melhor. Após os créditos, é inevitável o sentimento de que Meg’s Monster é, de fato, um jogo curto. Desde o início, o jogador é apresentado a um mundo tão fascinante e rico de figuras carismáticas, mas o sentimento posterior é de que tudo poderia ter sido mais desenvolvido. Contudo, temos que considerar aqui o fato de que esse é um jogo independente. Assim, horas e horas de conteúdo para nos saciarmos pode simplesmente não fazer parte do escopo de produção. Dessa forma, Meg’s Monster, ao fim e ao cabo, afigura como uma tragédia que emociona através da simplicidade. Contudo, em uma segunda tentativa, eu espero que os desenvolvedores concebam uma experiência mais encorpada, porque Meg’s Monster deixa inevitavelmente aquele sentimento de quero mais.

Conclusão

Meg’s Monster será lançado no dia 2 de março e já conta com tradução embutida para o português brasileiro. É necessário reconhecer aqui esse cuidado de tornar o jogo mais acessível através da localização, principalmente vindo de uma desenvolvedora indie. Não presenciei nenhum bug ou problema de performance. Contudo, em uma interação ou outra, o balão de diálogo ficou fora dos limites da tela, o que impediu a minha leitura. Eu testei e o probelma não era proveniente das configurações da minha televisão.

Em suma, trata-se de uma experiência memorável, apesar de curta. Meg’s Monster é um jogo que produz uma impressão indelével após o fim. Isso porque é palpável o carinho que foi investido na produção. E eu sinto que precisamos de mais jogos assim. Aqui, a intenção era contar uma tragédia de aquecer o coração, algo que os desenvolvedores atingem em cheio. E, no fim, Meg’s Monster se desvela como uma jornada e tanto, que conduzirá o jogador a toda sorte de emoções no curso da história que conta. Apesar das imperfeições, é difícil resistir ao seu encanto e charme como um esforço inovador de uma desenvolvedora que exibe muito potencial. E, inclusive, gostaria de agradecer à Odencat pela chave de acesso ao jogo, que será lançado para Switch, PC, Xbox One e Series X|S.

André Lários
Graduando em Letras, assiste séries e joga vídeo-game nas horas vagas.

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