Wano foi gigantesco, cheio de coisas e lembra muito Dressrosa pelos seus excessos. Todavia, sem um vilão com a mesma quantidade de carisma, a coisa com o passar do tempo se tornou pesada e enrolada. Preso em suas estruturas, Oda criou bastante coisa que, ou não trouxe nada de resultado prático, ou demorou mais do que necessário e perdeu o impacto. Me aprofundarei melhor nestas questões com uma análise do arco inteiro quando eu terminar de reler – será um sacrificio, aliás. Porém, em One Piece 1057, especificamente, Oda cometeu um crime de jogar um de seus principais desenvolvimentos fora e sem sequer fazer esforço para justificar tal atitude.
Você pode ler a análise dos outros capítulos aqui.
A capa e o resto
É difícil eu falar das histórias de capa, mas desta vez tivemos algo interessante. Se esta história da Germa estava um pouco estranha, com o retorno de Katakuri e desta vez com Ceasar, começa a chamar um pouco a atenção para sabermos qual será o desfecho de tudo. Será que Ceasar é capaz de derrubar Katakuri? Quem exatamente ele está tentando ajudar ali? Pela primeira vez estou mais ansioso pelo próximo capítulo por causa da história de capa do que pelo plot principal.
Já o resto do capítulo foi uma pequena narração dos ocorridos e do heroísmo da aliança que recuperou tudo em Wano. Aquele monólogo básico para dar ênfase no encerramento e fazer o leitor sentir que uma fase importante está acabando. Afinal, estamos nesta desde Punk Hazard quando Luffy e Law se uniram e em One Piece 1057 este ciclo se encerra. Oda se aproveitou bem desta jornada para modificar o universo de One Piece e trabalhar seus protagonistas, então a sensação de que, ao final, tudo teve suas consequências é empregada e nos sentimos satisfeitos em ir para a última jornada, por enquanto, porém, sem um rumo.
A epifania de Yamato
Yamato foi uma personagem introduzida tardiamente em Wano, visto que era desconhecida da maioria. De uma silhueta, ela se tornou uma personagem muito forte e que fez um total de 0 coisas úteis no arco. Sim, Yamato zanzou, zanzou e não ajudou em praticamente nada. Não há resultados práticos para a guerra que tenham vindo da personagem. Mas ela conheceu Ace e possuía um passado triste, um sonho e uma doença psicológica para tratar. A personagem seria interessante de se acompanhar e seu único plot, que é sua própria jornada para deixar de ser Oden, gerava alguma curiosidade.
O que Oda fez com tudo isso? A personagem, que teve anos para pensar sobre o assunto, percebeu de repente que não conhecia o resto de Wano igual Oden havia feito. Com isso, além de gastar uma infinidade de quadros com seu discurso repetitivo sobre ser Oden e não ter qualquer participação útil que justifique sua introdução em cima da hora, a personagem ainda não foi capaz de dar seguimento em seu único plot. Oda tornou o que já soava chato numa grande piada de mal gosto. Não é um plot twist, é uma epifania extremamente conveniente e sem lógica.
Oda preguiçoso?
Em Dressrosa Oda dividiu o bando ao meio. Em meio a tantos personagens introduzidos e plots paralelos, foi necessário e útil. O arco soa arrastado, mas, ao final, tudo é encaixado, desde a presença de Fujitora que resultou na dissolução do sistema Shichibukai, até o Coliseu, que serviu para o estabelecimento da grande Frota dos Chapéus de Palha. Já em Whole Cake, ele usou a outra metade do bando e ainda reintroduziu Jinbe, colocando-o finalmente no bando.
Ao final do arco de Big Mom, porém, Jinbe fica pra trás. Esta decisão, no fim, não trouxe nenhum resultado prático. Jinbe voltou inteiro e o fato de ter ficado só o manteve longe por muitos capítulos. Uma decisão sem consequência como essa só passa a impressão de que era uma forma de trabalhar um personagem a menos, até mesmo pelo fato dele ter voltado exatamente no clímax de tudo. As divisões do bando e ausência de Jinbe ajudaram, não tenho duvidas, Oda a economizar muitas páginas e andar a história mais rápido.
Com isso, a não ida de Yamato soa, inevitavelmente, uma atitude preguiçosa. Um membro a menos para desenvolver, certo? Não é só isso…
A polêmica da personagem
Yamato trás consigo uma problemática envolvendo um assunto bem atual, que é a sexualidade e os pronomes. Não sei bem como foi a repercussão no Japão, mas é possível que Oda tenha desistido da personagem no meio do caminho devido a essa questão. Há uma turma, como eu, que acha que a personagem só tem problemas, porém, há quem interprete que ela se considera um homem. Imagina a polêmica que causaria se ela, um dia, percebesse ser Yamato e não Oden e voltar a se considerar uma mulher? Colocar uma problemática assim em uma das protagonistas do maior manga da atualidade poderia ser um risco desnecessário para a obra e isso pode ter resultado até mesmo em uma pequena pressão da Jump para que Oda a descartasse.
Lembrando que se trata de uma possibilidade. Já sobre o final do capítulo, Oda não trabalha Yamato de forma isolada em momento algum e sim junto com Momo E Kin. O que isso significa? Que ela não é diferente dos dois. Você acredita em Momo ou Kin no bando de forma definitiva? Pra mim, a forma como o assunto foi tratado, descartou totalmente a personagem, inclusive, para o futuro. O máximo que veremos será Yamato ao lado de Momo quando este liderar Wano com a bandeira que Luffy deixou hasteada na Guerra final. Mas isso não os coloca no patamar de Mugiwara e sim como mais uma extensão da Grande Frota de Luffy. Yamato é menos Mugiwara que Bartolomew.
Em Conclusão
No fim, o saldo da finalização de Wano é até que positivo, mas longe de outras obras primas que já vimos em One Piece mesmo. O capítulo 1057 encerra uma jornada gigantesca e nos leva finalmente para um novo rumo. Todavia, fica aquela sensação de frustração, de que nos foi prometido algo muito maior e de que, o resultado prático disso tudo não foi tão recompensador assim. One Piece precisa urgentemente de um novo fôlego e é isso que teremos a partir de agora. Até pode ser que outro membro entre para a tripulação logo em seguida, mas nada disso devolverá o tempo gasto inutilmente em Yamato.
Teremos One Piece semana que vem!