Ilha dos Tritões – Racismo e Escravidão (One Piece) | Análise

Luffy sendo protegido por Zoro e Sanji na Ilha dos Tritões
Luffy sendo protegido por Zoro e Sanji na Ilha dos Tritões

A Ilha dos Tritões foi mencionada pela primeira vez lá em Water 7. Após isso, o bando passa por uma longa jornada, uma separação, guerra, dois anos de treino. Tudo isso para, após muito tempo, finalmente desembarcar na tão falada ilha. Antes, porém, temos a Reunião em Sabaody. Falaremos dessa pequena reunião antes de irmos para o que interessa que é o foco na ilha dos Homem-Peixes e sua tão profunda história.

Reunião em Sabaody

Vimos no pós-guerra de Marineford que Luffy decidiu treinar para ser capaz de proteger seu bando. Assim, após o que chamamos de timeskip, o bando se reúne novamente na ilha que foi o lugar onde se separaram. Aos poucos, somos introduzidos para cada um dos membros, tendo tempo para admirar não só suas novas aparências, mas também suas novas motivações. Infelizmente, diferente do que é feito lá na entrada da Grand Line, Oda não reafirmou o sonho dos membros do bando, o que teria sido algo obvio de se fazer, mas não menos interessante.

Essa sensação de evolução é passada através do obvio recurso utilizada do bando enfrentando as “mesmas” ameaças que anteriormente eram demais para eles, mas desta vez sem problemas. A utilização do falso bando dos Chapéus de Palha serve como uma brincadeira do autor sobre as antigas versões dos originais e como elas parecerão fracas e feias comparadas com as atuais. De certa forma, é como se tivéssemos vendo uma comparação em tempo real entre os antigos e os novos. Oda sabe balancear bem sem deixar com que a piada seja levada muito a sério ou se estenda demais.

A Ilha dos Tritões

Membros dos Mugiwaras reunidos na Ilha dos Tritões.
A Reunião dos Chapéus de Palha

Pulando alguns tópicos de Sabaody para evitar do texto ficar grande, vamos a tão aguardada Ilha dos Tritões. De começo, vamos falar da estrutura da Ilha. Toda a ideia é bastante interessante e Oda faz um esforço enorme para nos fazer entender o isolamento do local. O caminho até lá pode irritar alguns e soar como enrolação, mas tem essa função de mostrar como se trata de um lugar que, além do difícil acesso, isola seu povo.

Essa questão do isolamento é importante para entendermos parte da dinâmica do arco. Ao tentar abordar a questão da escravidão e racismo, Oda introduz diferentes pontos de vista e escalas de isolamento. Ou seja, camadas diferentes de uma mesma sociedade. Isso é bem feito ao vermos os diferentes pontos de vista daqueles que cresceram no chamado Distrito Tritão, os que foram escravos, Piratas, e os que vivem na Ilha normalmente.

Consequências da Guerra

Uma coisa interessante que é abordado rapidamente em Sabaody e meio aprofundado aqui é as mudanças que a guerra trouxe. O fato da ilha ser considerado território do Barba Branca antigamente e a sementinha plantada para Big Mom. São fatos mencionados naturalmente durante o arco e que ganham uma boa conexão através da figura de Jimbe. Essas mudanças são importantes por mostrar um pouco das consequências do que vimos na guerra, já que o timeskip nos permite ver um mundo já estável após ela, com suas peças todas encaixadas novamente.

Otohime e Fish Tiger

Agora na história principal da Ilha dos Tritões, temos dois pontos de vista. Fish Tiger é de uma raça que sofre preconceito e, além disso, é um ex-escravo. Otohime é uma rainha da mesma raça, que luta para reunir seu povo com os humanos. De novo, como mencionei no início, temos camadas diferentes de um mesmo problema. A visão de Otohime, mais pacífica, combina com sua condição de vida. Ainda que ela seja da raça que sofre preconceito e isolamento, ela vive uma vida boa, por ser da realeza. Já Fish Tiger, por ser um homem que sofreu na pele os males do preconceito, tem uma abordagem um pouco mais profunda e violenta.

Estas duas figuras são o ponto principal da abordagem em relação ao preconceito, mas não as únicas. Arlong representa o extremismo Tritão, que acha sua raça superior, assim como os Tenryuubitos o extremismo humano. Jimbe é o Tritão que muda seu pensamento com o tempo e Koala é aquela que sentiu na pele os males da escravidão e mostrou seu lado humano aos Tritões. Note que todos são personagens de um flashback que trabalha bem os diferentes pontos de vista dessa questão tão complexa e sensível que é o preconceito.

Hody e suas redundância

Fiz questão de enaltecer o quanto as figuras anteriores são representativas para fazer a grande crítica do arco: Hody. O personagem é uma versão repetida do Arlong, porém bem menos carismática. Além disso, ele não tem função nenhuma do ponto de vista do trabalho envolvendo o preconceito e não agrega em nada. É curioso isso, pois o próprio Oda coloca em seu texto o fato das ações do personagem serem vazias. Ele é uma consequência do todo, mas não possui motivação alguma além de ódio gratuito.

Hody não agrega em nada que já não tivéssemos visto do ponto de vista do Arlong, inchando muito o arco. No fim, a grande ameaça que temos vem de Van Der Dekken, que tem uma motivação clichê, mas válida. Além disso, o personagem sozinho seria capaz de causar praticamente os mesmos eventos, dando menos relevância ainda a Hody. Isso ocorre porque a principal ameaça é o barco Noah, que não precisava necessariamente das ações do vilão para cumprir o mesmo papel.

Nami e Jimbe

O Arco da Ilha dos Tritões até começa bem. Temos a inevitável conversa de Jimbe e Nami sobre o Arlong e o confronto interno que a personagem tem com seu passado. Neste momento, o flashback é bem inserido e não soa gratuito, conversando bem com o que vimos nos arcos anteriores. Todo esse trabalho desta parte, inclusive aquela que envolver Fish Tiger morrer por não ser capaz de superar seu ódio pelos humanos, é muito bem feito e impactante. A abordagem que Oda pretendia passar funciona e o que vemos no final do arco, com Jimbe doando sangue a Luffy ficaria perfeito não fosse a desnecessária transfusão de sangue anterior envolvendo Sanji.

Assim, um simples confronto com Dekken (afinal é um Shonen, né?), já seria o suficiente para ferir Luffy, mostrar Noah e tudo que vemos no fim do arco. É repetitivo até, mas insisto, tudo que envolve Hody é desnecessário, repetitivo e atrapalha o ótimo trabalho feito anteriormente desde Sabaody, criando um climax ruim para uma abordagem tão delicada de ser feita. Nem mesmo para efeitos de luta serve, sendo a luta de Brook a única interessante de ser acompanhada.

Em Conclusão

Oda nos entrega um arco que aborda um tema delicado. Todavia o autor é bastante competente em trabalhar todos os pontos de vista do preconceito e suas diferentes origens e consequências. Esse trabalho é excepcional nas figuras de Otohime e Fish Tiger, além da boa reutilização de Arlong e Jimbe. Porém, Oda prejudica seu próprio trabalho com a necessidade de criar uma cópia genérica de Arlong com discursos vazios e repetitivos, criando um arco enrolado e inchado mesmo no manga.

A Ilha dos Tritões é um arco que acaba lembrada mais pelos mistérios que introduz, como Noah e Joyboy, do que pela principal que é sua abordagem do preconceito e escravidão. Infelizmente, devido a uma escolha equivocada do autor. Não é um arco desprezível e cumpre seu papel de entrada no Novo Mundo através da ameaça da Big Mom em seu fim, criando um belo link com Whole Cake, mas com certeza perdeu a oportunidade de ser memorável.

ANÁLISE CRÍTICA - NOTA
Nota do Arco
7
Wesley Medeiros
Quem quiser saber quem sou, olha para o céu azul...Amante de infinitas coisas, desde animes, games, filmes, séries, música, futebol, literatura...Toda e qualquer uma dessas artes, mas, principalmente, a escrita, que torna minhas palavras imortais igual ao meu tricolor!
ilha-dos-tritoes-analise A Ilha dos Tritões foi mencionada pela primeira vez lá em Water 7. Após isso, o bando passa por uma longa jornada, uma separação, guerra, dois anos de treino. Tudo isso para, após muito tempo, finalmente desembarcar na tão falada ilha. Antes, porém, temos...

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